quarta-feira, 27 de maio de 2009

USO DE AMIDO NAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS

Nas indústrias agroalimentares, os amidos e derivados são utilizados como ingredientes, componentes básicos dos produtos ou aditivos adicionados em baixas quantidades para melhorar a fabricação, apresentação ou conservação. Os produtos de hidrólise (xarope de glicose ou de maltose, maltodextrinas) e de isomerização (iso-glicose ou frutose) são utilizados nas indústrias de balas, doces, chocolates, bolos, pastelarias, assim como nas indústrias de geléias e sobremesas, por seus poderes anti-cristalizante, adoçante ou de higroscopicidade (faculdade de reter a água). No Brasil, dois terços da fécula de mandioca produzida são utilizados pelo setor alimentício na forma nativa.

- Indústria frigorífica: a fécula de mandioca é o principal amido usado neste setor. Ela apresenta maior absorção de água, deixa os produtos mais macios proporcionando maiores rendimentos e custos menores.

- Indústrias de biscoitos: O amido pode ser colocado na matéria-prima, para padronizar o teor de glúten da farinha, em proporção de 15% a 20% do peso da farinha de trigo. Esse procedimento não traz problemas de ordem técnica, de alteração de aparência ou de outras características fundamentais dos mesmos. Em geral os biscoitos feitos com farinhas mistas (amido e trigo) são mais bem aceitos por se tornarem mais agradáveis ao paladar e serem mais leves que os convencionais.

- indústria de massas (macarrões): a utilização de fécula de mandioca na confecção de macarrões tem se mostrado, através de experimentos, muito vantajosa no que diz respeito ao aspecto do produto, diminuição do tempo de cocção e outros. Além dessas vantagens, não exije grandes alterações nos esquemas de produção. Em geral, a substituição da farinha de trigo pela fécula se dá na faixa de 25% a 50%, resultando em maiores rendimentos industriais, em razão da fécula reter mais água, e, por isso, manter seu peso, depois de seco, melhor que o produto tradicional. A massa feita com fécula apresenta coloração mais clara, com aspecto mais próximo ao dos macarrões caseiros. O macarrão com 50% de fécula é mais adequado para sopas, pois apresenta certa pegajosidade quando cozido, enquanto que com 25% não apresenta grandes diferenças em relação ao padrão.
Outra vantagem pode ser ressaltada, pois a fécula apresenta a característica de digestão muito fácil em relação ao macarrão tradicional. As massas com fécula são indicadas para pessoas idosas e crianças. A adição de fécula permite também diminuir o tempo de cozimento, propriedade apreciada na produção de macarrões instantâneos.

- Industrias de sobremesas: O amido nativo é colocado como espessante em mistura com leite, na base de 1% a 2%, dependendo das características do produto e com um máximo possível de 2,5%.

- Indústrias de iogurtes: com o objetivo de substituir a gelatina, outro ingrediente utilizado, para obtenção de um produto final cremoso.

- Os snacks : apenas alguns snacks utilizam amido nativo nas suas composições, principalmente aqueles elaborados com amendoim (amendoim “japonês”, ovinhos” de amendoim). Para esses produtos se usa apenas a fécula de mandioca, em proporção de 20% a 35% como base para fritura.

- Industria de panificação: É possível substituir parte da farinha de trigo por outras farinhas ou féculas, obtendo-se produtos de ótima qualidade e aceitação, como já foi comprovado em diversos experimentos, sendo que, em alguns casos, o produto confeccionado com farinhas mistas foi mais bem aceito que os demais. No caso da fécula de mandioca, a substituição recomendada tecnicamente para pães varia de 10% a 15%, calculado sobre o peso da farinha. O uso de farinhas mistas não exige mudanças substanciais nos esquemas de produção, mantendo as características normais do produto. As principais vantagens dessas misturas são:
• Obtenção de uma cor mais clara do produto;
• Retardamento no envelhecimento do pão;
• Maior absorção de água pela massa;
• Miolo com maior umidade, etc

- Indústrias de chocolates e bombons: O amido entra na produção dos wafers para diminuir a força do glúten, com taxas de incorporação de 0,5% do peso total do produto final.

- Indústria de balas e caramelos: amidos nativos em pó são usados nos moldes para produção de balas e caramelos. O amido, com 5% a 10% de umidade é usado para absorver a umidade dos moldes.

- As sopas: fécula de mandioca e amido de milho waxy, muitas vezes, são usados como base para produção de amidos esterilizáveis, que entram na produção de sopas em conservas ou de outros tipos de conservas.

- Os molhos: as pastas de amido servem também de estabilizador de emulsão em molhos de salada. Como esses molhos são de pH baixo, o amido deve ser capaz de resistir em elevada acidez. Deve também resistir a ações mecânicas durante a homogeneização do molho.

- Produtos a base de carne: o amido é usado como ligante em emulsões de carne tais como salsichas e lingüiças, para unir a carne com a água e a matéria graxa.


AMIDOS MODIFICADOS

Além de amidos nativos, cada vez mais as indústrias de alimentos usam amidos modificados:

- Indústria de sorvetes: Os amidos podem ser utilizados para dar corpo aos sorvetes e como estabilizante.

- Pudins e sobremesas: Para as sobremesas e os pudins instantâneos, derivados de mandioca estão entre os mais utilizados por não apresentarem o gosto típico dos amidos de cereais.

- Produtos de panificação: Amidos com ligações cruzadas, estabilizadas ou não, são usadas como espessantes em recheios de tortas, cremes para recheios ou coberturas, frutos usados em recheios, etc.

- Macarrões instantâneos: Além de amidos nativos as formulações de macarrões instantâneos podem incorporar amidos pré-gelatinizados.

- Balas e caramelos: O amido fornece a textura e controla o tempo de preparo das balas gelatinosas. O amido de mandioca está entre os amidos geralmente utilizados por conter alto teor de amilose, que contribui para reduzir o tempo de preparo e aumentar a firmeza da bala. Amidos de baixa viscosidade, como o obtido da raiz de mandioca funcionam como agentes ligantes em gomas de mascar. A indústria de balas usa grande quantidade de amidos ácido-modificados na produção de sobremesas de gelatina.

- Sopas e conservas: Amidos pré-gelatinizados são utilizados como espessantes em sopas instantâneas.

- Molhos: Amidos pré-gelatinizados são usados em caldo de carne desidratado e outros molhos prontos. As indústrias alimentares também utilizam amidos pré-gelatinizados na produção de massas, condimentos, etc.

(*) Conteúdo extraído do livro Propriedades Gerais do Amido, produzido pela Fundação Cargill, coordenado pela pesquisadora Marney Pascoli Cereda

sexta-feira, 22 de maio de 2009

AGRONEGÓCIO X AGRICULTURA FAMILIAR: MODELOS EM CHOQUE

Vivemos numa época da história que nos obriga a abordar a temática da terra e da reforma agrária no contexto de agressões cada vez mais violentas ao meio ambiente, aos ecossistemas e à própria vida.

O que encontramos normalmente nos marketings empresariais e governamentais é a maquiagem da destruição com o conceito falacioso de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. O que se teoriza é a compatibilidade da modernização ecológica ou da economicidade da ecologia.

Os Estados, como “balconistas” do capitalismo transnacional apoiam o atual modelo de desenvolvimento, maquiando, junto com as grandes empresas, a agressão à terra e aos povos da terra, utilizando, cínica e equivocadamente, o tema da sustentabilidade.

Atualmente, o planeta dispõe para a agricultura apenas 1,4 bilhão de hectares de terra, quase todas localizadas no nosso continente.

Um quarto dessas áreas, cerca de 360 milhões de hectares está no Brasil. Por isto, temos o papel de uma Arábia Saudita verde.

É importante não esquecer, além da questão da utilização do solo em função agro-exportadora, a exploração do subsolo pelas empresas petrolíferas e mineradoras. Juntas garantem os lucros maiores e as estatísticas positivas do PIB do Brasil.

No Brasil, o agronegócio é apresentado pelo governo como compatível com a preservação do meio-ambiente. O Governo Lula casou com o modelo econômico hegemônico, dando continuidade ao projeto “modernizante”, que mal disfarça a submissão e o colonialismo de sempre. Este modelo atende apenas a 10% da população – ricos e parte da classe média – e enfrenta os graves problemas da maioria dos brasileiros com a esmola das políticas compensatórias.

O latifúndio dos monocultivos e da pecuária é privilegiado à revelia da legislação ambiental e dos mais elementares direitos dos nossos povos tradicionais – indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses das múltiplas territorialidades e economias – que pagam o preço da desterritorialização e da marginalização. A ideologia neodesenvolvimentista do atual governo, alicerçada no PAC, na produção de cana-de-açúcar, soja, eucalipto e temperada pelo mito da sustentabilidade dos agrocombustíveis, desconsidera, com uma miopia inaceitável, o que a maioria dos cientistas afirma sobre os riscos não remotos de acabar com a vida na terra.

Percebe-se, além disto, a estreita ligação entre agronegócio e hidronegócio, não somente pelos aspectos de destruição ou privatização das águas do país, mas, também, pela tendência ao controle total da água doce, considerada como mais uma mercadoria e não um bem público, um direito humano e direito de todos os seres vivos. Acrescente-se que os monocultivos são responsáveis por novas ondas migratórias, que envolvem o assalariamento de milhares de camponeses, envolvidos em trabalho escravo, trabalho superexplorado e trabalho infantil.

Enfim, é necessário atentar aos dados publicados, anualmente, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Conflitos no Campo Brasil, que mostram como a violência fica cada vez mais concentrada nas regiões de expansão do agronegócio.

Em suma, o governo federal abandonou teórica e politicamente o tema e o compromisso da Reforma Agrária. Assistimos à ausência programática de uma proposta de desenvolvimento rural a partir dos camponeses e das camponesas, cuja economia familiar é considerada inviável técnica e economicamente.

É a partir destas situações emergenciais e dramaticamente urgentes que somos obrigados a reconstruir uma visão crítica do atual sistema e a propor novos paradigmas de relações econômicas, ecológicas e políticas. E um novo paradigma de Reforma Agrária, que supere uma visão meramente agrarista e distributivista e que contemple a variedade étnica e territorial do campesinato brasileiro.

É a partir destas situações que a CPT apoia a resistência e a luta camponesa em defesa de territórios e economias, no enfrentamento do latifúndio e do hidro-agronegócio, contra a “Reforma Agrária de Mercado”, que com o Crédito Fundiário submete as lutas camponesas ao controle do agronegócio.

Hoje, as organizações camponesas enfrentam adversários, que articulam setores expressivos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, elites tradicionalmente hostis à reforma agrária e que visam judicializar e criminalizar os movimentos e os defensores dos direitos humanos. Diante disto, a CPT apoia toda forma de organização e articulação que possa garantir o protagonismo político dos povos do campo e da floresta e a defesa da vida.

Por: Padre Flávio Lazzarin

www.jbonline.com.br

quinta-feira, 21 de maio de 2009

BACTÉRIA A SERVIÇO DO CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia acaba de apresentar um bioinseticida capaz de controlar diversas lagartas que atacam culturas agrícolas. O Ponto.Final foi desenvolvido por meio do isolamento de uma bactéria que controla apenas o inseto-alvo. Sendo assim, é inofensivo a outros animais, ao meio ambiente e à saúde humana.

De acordo com a bióloga e pesquisadora Rose Monnerat, responsável pelo desenvolvimento do produto, essas bactérias existem naturalmente no solo e produzem uma proteína que mata insetos, principalmente lagartas.

A proteína age no intestino das larvas dos insetos que comem as folhas tratadas com o bioinseticida. Os esporos da bactéria penetram no corpo, germinam e matam a larva por infecção generalizada.

O bioinseticida controla lagartas que atacam hortaliças, pastagens e a cultura da soja. Um exemplo é a lagarta-da-soja, uma das pragas mais comuns da cultura. A desfolha causada por elas nas lavouras de soja pode chegar a 100%, se não controlada a tempo.

Rose observa que uma das alternativas para combater o problema é o controle químico, mas constantes aplicações podem gerar resistência do inseto, além de deixar resíduos no meio ambiente. “Conforme as lagartas ficam resistentes, o agricultor usa cada vez mais o produto químico.”

No caso da bactéria, ela é destruída pelo próprio ambiente e não deixa resíduo tóxico. O novo produto já é certificado para uso em lavouras orgânicas.

(O Popular)

COOPERATIVA SOLIDÁRIA

COOPEVARG, cooperativa acompanhada pela Cáritas, em Vargem Grande/MA, dá lição de solidariedade, ajudando as vítimas das enchentes no município.



POR ZEMA RIBEIRO*



86 famílias desabrigadas pelas enchentes em Vargem Grande/MA receberam a solidariedade da Cooperativa de Pequenos Produtores de Vargem Grande – COOPEVARG: cada família recebeu cinco quilos de farinha de mandioca, para amenizar os problemas trazidos pelas chuvas que têm castigado o Maranhão.

As famílias, oriundas dos povoados Vila São Raimundo, Bananal I e II, Ourives e Caju Azedo, estão alojadas no Centro São Raimundo (da Paróquia de Vargem Grande), em casas de parentes, de amigos e cedidas. Embora algumas famílias tentem voltar às suas residências, isso ainda não é possível: apesar da diminuição da intensidade das chuvas, as águas ainda tomam conta das casas.

“A gente sabe que cinco quilos de farinha é pouco, mas sabe como é, o município é pobre, então é pobre ajudando pobre, o que importa é ser solidário”, afirmou Maria Helena da Silva, agente da Cáritas Diocesana de Coroatá, que tem ajudado no transporte da mudança das famílias para os abrigos. Essa ação é desenvolvida em parceria com grupos de jovens ligados à Igreja. Somente na quinta-feira passada (14), a Defesa Civil Estadual visitou a cidade, levando alimentos não-perecíveis.

*ZEMA RIBEIRO é assessor de comunicação da Cáritas Brasileira Regional Maranhão

AGRONEGÓCIO GANHA MAIS VERBAS PÚBLICAS

Gazeta Mercantil - 18/05/2009

Raphael Bruno




Criticado pelos produtores rurais pela tolerância com que lida com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, pela falta de uma política de apoio mais incisiva como as destinadas a outros setores e, principalmente, pela legislação ambiental, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido, no entanto, generoso quanto ao repasse e direcionamento de recursos públicos para o agronegócio brasileiro.

Os repasses do governo para o setor - investimentos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e operações de crédito subsidiadas de bancos estatais - totalizaram R$ 106,1 bilhões, de 2003 para cá. O valor representa, também, 133% a mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados, no mesmo período, para a agricultura familiar e reforma agrária. Mas, aos poucos, o governo atual vem alterando o perfil dos investimentos no campo, dando prioridade ao crédito para os pequenos empreendimentos.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

CAATINGA: O PARAÍSO DE EUCLIDES DA CUNHA - O DESENVOLVIMENTO COMO AMEAÇA.

Antonio Gomes Barbosa*
Rakuel Samara Silva Costa**

A caatinga é, dentre os biomas brasileiros, o menos conhecido cientificamente, prova disso é a divergência de dados em relação à sua extensão, composição, população e abrangência, sendo, junto com a mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados. Do tupi, mata branca, em referência a característica de sua vegetação caducifólia, que perde suas folhas no início da estação seca, a caatinga ocupa a maior parte do território da região Nordeste brasileiro, cerca de 70%, e o norte do de Minas Gerais, com uma extensão de mais de 800 mil km², ocupando 11% do Território Nacional[1].

Único bioma exclusivamente brasileiro, apresenta enorme variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. Na sua diversidade pode se falar em pelo menos 12 tipos diferentes de Caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos fascinantes de adaptações ao habitat Semi-Árido. Sua vegetação é constituída, principalmente, de espécies lenhosas, cactáceas, bromeliáceas e pequenas herbáceas, geralmente com espinhos e caducifólias. Inclui pelo menos uma centena de diferentes tipos de paisagens únicas, sendo rico em espécies: até o momento foram registradas 932 espécies de plantas vasculares, sendo 380 endêmicas, e 20 gêneros, pertencentes a 42 famílias; além disso, registra-se a existência de 185 espécies de peixes (57% de endemismo), 154 de répteis e anfíbios, 348 de aves (4,3% de endemismo), e 148 espécies de mamíferos[2].

Não obstante à sua riqueza, sendo reconhecido como uma das 37 grandes regiões naturais do planeta, pelo estudo coordenado pela Conservation International, a caatinga tem sofrido enormemente os efeitos do atual modelo de desenvolvimento. Iniciando-se com pecuária extensiva, a estratégia de dominação da caatinga avançou pelos plantios em grande escala de monoculturas, além dos mais recentes perímetros irrigados, a exemplo da região de Petrolina, que desconsideram as características da região e substituem de forma drástica a flora, a fauna e as formas de plantar e criar, construídas através da observação e dos conhecimentos repassados de geração para geração.

Fruto principalmente da disseminação desse modelo agrícola químico-mecanizado e de práticas inapropriadas para obtenção de produtos agrícolas, madeireiros e pastoril, atualmente mais de 80% da vegetação da caatinga são sucessionais, aproximadamente 40% mantidos em estágio pioneiro de sucessão secundária, e cerca de15% da caatinga encontra-se em processo de desertificação[3].

Ameaças atuais como o avanço das monoculturas, como a cana de açúcar para a produção de biocombustíveis, da pecuária extensiva, da mineração, da extração madeireira e das queimadas, representam situações reais de uma problemática que tende a se perpetuar, extinguindo, de vez a caatinga do planeta.

Essa ameaça afeta diretamente a população que vive na área do bioma, mais de 20 milhões, ao destruir as fontes de sua sobrevivência, fazendo sucumbir um conjunto de saberes, conhecimentos e práticas de convivência com o Semi-Árido construídos e acumulados historicamente pelas famílias da região. Ações imediatas e efetivas são, pois, extremamente necessárias, para que o famoso paraíso retratado por Euclides da Cunha não se torne apenas um romance da história, mas retrato de uma imagem real, viva e presente, testemunhada e partilhada por todas e todos.

A caatinga corre perigo.

*Antonio Gomes Barbosa – Sociólogo, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas da Articulação no Semi-Árido Brasileiro - ASA

**Rakuel Samara Silva Costa – Assistente Social, mestra em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pernambuco – UFPE

terça-feira, 12 de maio de 2009

CRESCE O DESMATAMENTO EM ASSENTAMENTOS NA AMAZÔNIA

Um grupo de 60 assentamentos concentrou no ano passado metade do desmatamento registrado nas 2.546 áreas de reforma agrária da Amazônia Legal, região formada pelos Estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão.

A reportagem é de Eduardo Scolese e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-05-2009.

Essa densidade na derrubada da floresta aparece em relatório do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) recém-concluído com auxílio de dados do Ibama e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Segundo o documento, 869 assentamentos (34% do total) contribuíram com o desmate no ano passado. Nessas áreas, foram derrubados 251,6 mil hectares, sendo 126,1 mil hectares (50,1%) no grupo de 60 assentamentos (2% do total).

Em tese áreas federais autônomas, os projetos de reforma agrária não conseguem barrar a cultura do desmatamento de certas regiões. Do total derrubado nos 60 assentamentos, 65% ocorreram no Pará ou em Mato Grosso -dois Estados que lideram o ranking geral de desmatamento do Inpe.

"Isso é resultado da insistência do Incra de criar assentamentos em áreas de floresta, onde as famílias não têm outra alternativa, a não ser ficar reféns do madeireiros", afirma José Batista Afonso, da coordenação da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e advogado da entidade em Marabá (PA).

O relatório do Incra revela que os assentamentos contribuíram no ano passado com 21% do total desmatado na Amazônia Legal. Foram 251,6 mil hectares, contra 221,6 mil hectares no ano anterior. Nessa região, os assentamentos representam cerca de 8% da área.

"O desmatamento não respeita assentamento, unidades de conservação, parques nacionais, áreas indígenas. Ele avança em cima de tudo isso", declara Celso Lacerda, diretor de Implantação de Projetos de Assentamento do Incra.

Essa visão oficial, porém, é contestada por Adalberto Veríssimo, pesquisador da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Segundo ele, o desmatamento ocorre com mais intensidade nos assentamentos, e não em terras indígenas e unidades de conservação.

"Tem um coquetel explosivo: pecuarização, agricultura, além do efeito da exploração predatória da madeira e do carvão. Tudo isso dentro dos assentamentos. Fazer assentamentos em regiões de florestas é pedir para desmatar", disse Veríssimo. "Eles [os assentados] acabam assediados pela dinâmica do desmatamento", completa.

Concentração de lotes

Do total desmatado nos 869 assentamentos, 51,3% estão no Pará, seguido de MT (22,1%). Os dados usados no levantamento são do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), do Inpe, com imagens da floresta captadas por satélite de agosto de 2007 a julho de 2008.

Segundo o Incra, o avanço do desmatamento em áreas de reforma agrária ocorre em meio a um processo de concentração dos lotes, ou seja, quando uma única pessoa compra irregularmente lotes dos assentados para ampliar sua propriedade.

No final do ano passado, o Ministério do Meio Ambiente divulgou uma lista que incluiu oito assentamentos entre os cem maiores desmatadores do país. Na ocasião, a ala agrária do governo criticou a metodologia do estudo, que não dividiu o total desmatado nos projetos pelo número de assentados.

Para amenizar os efeitos da motosserra, o Incra fechou um acordo com o Inpe para que as imagens de satélite sejam monitoradas em intervalos mais curtos.

VALE: MÁQUINA DE DESTRUIÇÃO E DEGRADAÇÃO

Companheiros/as

Neste tempo de crise a Vale vem ampliando suas atividades às custas dos recursos naturais da nossa Amazônia e do trabalho de Brasileiros e Brasileiras...


No dia cinco de maio, depois de seis anos, tive a oportunidade de voltar ao projeto Salobo, numa comitiva formada por membros do Conselho Consultivo da Floresta Nacional do Tapirapé Aquiri. Confesso que fiquei muito surpreso nem só pela confirmação de enormes crateras que a Vale já abriu com a extração do minério de ferro, como pela confirmação do grande desastre que será feito com a extração de cobre do projeto Salobo.

Para quem só assiste as propagandas da empresa, através dos canais de televisão e as reportagens nos jornais de que a mesma investiu milhões em programas sociais e ambientais, e quando visita a Serra dos Carajás só ver o parque zoobotânico, não pode compreender o desastre que é a realidade dos seus projetos de extração e transformação mineral nesta região.

Na verdade são enormes máquinas em atividade dia e noite, com um batalhão de pessoas que imbuídas da idéia de que estão trabalhando para o progresso do país e pela defesa de sua sobrevivência se dedicam a estes projetos de destruição e desagregação. As matas estão sendo devoradas para construção de estradas, passagem de linhas de transmissão, a extração mineral e implantação das usinas de transformação.

Os igarapés estão sendo interrompidos pela construção de barragens para capitação de água e para contenção de rejeitos, os vales estão transformando-se em serras de pilhas de rejeitos tóxicos, as populações estão sendo expulsas de suas localidades ameaçadas pela poluição das águas, pela deterioração de suas casas, pela perca da capacidade de reprodução de seus animais e, pela ocupação de seus territórios feita pela Vale.

Desde fevereiro de 2008 que estamos acompanhando o drama e a desagregação que vive as mais de 400 famílias de agricultores dos projetos de assentamento Tucumã e Campos Altos, nos municípios de Ourilândia do Norte e são Félix do Xingu, onde a Vale se implanta para extração e transformação de níquel, mas não é só lá.

Voltando do Salobo resolvi estender minha visita à outra região de destruição e desagregação provocada pela mineração, também sob a direção, dominação e opressão da Vale, desta vez fui para Canaã dos Carajás, onde a empresa faz a extração do minério de cobre e o transforma em concentrado.

No dia seis, próximo à vila Bom Jesus, e da estrada que dá acesso à mina do Sossego, em Canaã dos Carajás, participei de uma reunião entre famílias atingidas pelos danos causados pelas atividades minerarias e, um batalhão de funcionários da Vale. As famílias reclamavam da enchente que inundou e destruiu plantações, de casas deterioradas por tremores de dinamites usadas na mina, odor das fumaça das dinamites, stress em galinhas e vacas com perdas de capacidade reprodutiva.

Um dos funcionários da Vale, por nome Guilherme, usando imagens da área de abrangência da mina, projetadas na parede da casa, tentava de todas as formas explicar de que as atividades da empresa nada tinha a ver com a enchente, por outro lado as pessoas que se manifestavam tentavam explicar o contrário.

O falação das pessoas do local se baseava no argumento de que residem na área desde 1983, conhecem toda a região, e que nunca havia ocorrido uma cheia do tamanho deste ano para chegar até dois metros de altura do nível do piso das casas, como no caso da dona Maria, onde ocorreu a reunião.

O ridículo e contraditório dos representantes da empresa e positivo dos moradores é que os primeiros passaram quase duas horas falando dos altos índices pluviométricos que aconteceram durante o mês de abril, para justificar a cheia. Quando já cansados de tanta balela, um senhor levantou-se e disse: “sim doutor nós concordamos com os números que o senhor falou, só que a enchente de que estamos falando se deu entre os dias 10 até 15 de março”.

Para finalizar, os agricultores propuseram formar uma comissão representada pelas partes para andarem em toda a área atingida para identificarem os diques e as pilhas de rejeitos existentes, que na compreensão dos agricultores impossibilitam a passagem das água. Como os representantes da empresa não aceitaram a proposta, a reunião foi encerrada sem acordo, a empresa está com a razão, as famílias continuam no prejuízo e nós continuamos tentando esclarecer que nós estamos sendo roubados, enganados e desconsiderados.

Marabá, 11 de maio de 2009.

Por: Raimundo Gomes da Cruz Neto(Cepasp)

www.forumcarajas.org.br

segunda-feira, 11 de maio de 2009

AS ENCHENTES E OS ATINGIDOS PELO “DESENVOLVIMENTO”: UM GRITO DE SOLIDARIEDADE.

O modelo de desenvolvimento em curso no Brasil e no Maranhão tem sacrificado profundamente a sócio-biodiversidade. O destino de grandes glebas de terras e o uso abusivo dos recursos naturais vem sendo a base de fortalecimento para esse modelo, e com isso desencadeando um processo recorrente de destruição tanto no espaço urbano como no rural.

Todos/as têm pago um preço muito alto ante o avanço irrefreável, por exemplo, do agronegócio, especialmente no Maranhão. E a investida do capital é cada vez maior no sentido de ampliar suas áreas de atuação. Os impactos por conta disso já são violentamente sentidos.

Se já não bastasse a expulsão dos trabalhadores e trabalhadoras de suas terras para dar lugar às monoculturas de soja, eucalipto, cana de açúcar, dentre outras culturas-“moda”, no bojo da discussão dos agrocombustíveis; se não bastasse o Maranhão ser o maior fornecedor de mão de obra escrava do país; de ostentar graves indicadores de violência doméstica, de exploração sexual infanto-juvenil, da vulnerabilidade de grande parte de sua população, como consequência do atual modelo (de desenvolvimento) econômico, agora outra face dos impactos ambientais se aprofunda a cada ano – com grandes variações pluviométricas provocando as enchentes, aumento na temperatura ambiental, períodos prolongados de estiagem na Amazônia etc.

São as enchentes que atingem violentamente milhares de maranhenses. Já são mais de 130 mil atingidos pelas fortes chuvas.(são mais de 25 mil desalojados e mais de 22 mil desabrigados, mais de 1500 km de estradas atingidos e seis óbitos em todo o estado). Existe ainda a ameaça de rompimento da Barragem do Flores que aprofundaria mais ainda o quadro, caso suas comportas não suportem a força das águas. E aí o tamanho da tragédia seria imprevisível.

A cada ano o quadro se agrava. Isso nos mostra que o nível dos impactos são crescentes e acumulativos. Isso nos revela também que medidas paliativas, imediatistas, assistenciais e emergenciais embora importantes, necessárias e urgentes, não são suficientes para resolver os problemas causados anualmente pelas cheias dos principais rios que cortam o Maranhão.

O nosso esforço tem que ser também na perspectiva dos Direitos Humanos. E nesse sentido a busca de diálogo extrapola as ações de socorro imediato. O poder público precisa responder com ações concretas de efetivação do direito à moradia digna, de ações preventivas e estruturantes. E para isso necessita ser provocado, demandado. A mobilização social para o controle e incidência política deve ser, também, nossa estratégia.

Nesse sentido, precisamos envolver, inclusive, o Ministério Público, os órgãos de controle ambiental, o poder executivo nas três esferas, e a sociedade civil para uma grande mobilização e reflexão, visto que, se o curso dos grandes projetos continuarem na mesma velocidade, as tragédias serão cada vez maiores, previsíveis anunciadas anualmente. E quem mais sofre com elas são as populações mais empobrecidas, que são mais vulneráveis. E há até quem possa ganhar com isso.

No entanto, o quadro atual é muito grave e urgente. As necessidades dos nossos irmãos e irmãs atingidos pelas cheias no Maranhão são muitas. Precisamos, como Igreja de Deus, nos mobilizar para junto construirmos saídas de superação do atual quadro. A situação dos abrigos abarrotados de homens, mulheres, jovens, crianças e idosos em condições precárias de higiene, é ambiente propício para a proliferação de doenças respiratórias, de pele, e até de epidemias. Já são comuns ataques de animais peçonhentos dentro das casas, enfim, são graves e variados os problemas enfrentados pelos desabrigados/as.

Além do socorro imediato, pois na emergência não se pode esperar, é preciso também lutar por políticas públicas efetivas para as populações atingidas. Cobrar das autoridades a aplicação correta dos donativos e recursos públicos destinados aos atendimentos.

Além dos centros urbanos a destruição acontece também nas comunidades rurais deixando as famílias completamente desabastecidas de alimentos e sem perspectivas de produção, comprometendo a segurança alimentar. É necessário desenvolver projetos produtivos para os/as agricultores/as que tiveram sua produção perdida com as cheias, dentre outras ações de apoio e amparo imediato. Ações de organização dos atingidos, inclusive para controle social dos recursos públicos (que podem ser manipulados e desviados por maus gestores públicos), gerando assim protagonismo, autonomia, conquista e efetivação dos Direitos.



Cáritas Brasileira Regional Maranhão

RIOS INUDAM COMUNIDADES E DEIXAM FAMILIAS SEM ROÇAS

Comunidades rurais de mais de 50 municípios maranhenses que foram inundadas nas últimas semanas pelo transbordamento de rios Mearim, Itapecuru, Pindaré, Parnaíba, Tocantins, Grajaú, Maracaçumé Munim, Gurupi e Turi. Na maioria desses povoados a situação é desesperadora. Famílias de trabalhadores rurais estão com suas roças e casas debaixo d`água e vivem situação de desespero.

Segundo levantamento que vem sendo feito pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão (Fetaema) junto aos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs), milhares de agricultores familiares já registram prejuízos com as fortes chuvas que caem em todo o Estado do Maranhão desde o inicio de abril. Muitas famílias perderam plantações inteiras de arroz maduro (este é o período da colheita), além de roças de mandioca, feijão e milho, aves e pequenos animais.

Boa parte dessa produção foi financiada pelas linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e os trabalhadores rurais terão dificuldades em quitar a dívida junto aos bancos, como informou o presidente da Fetaema, Francisco Sales de Oliveira.

Sofrimento antes e depois - "As famílias das comunidades rurais e das áreas de assentamento da Reforma Agrária sofrem duas vezes: agora, com as enchentes, elas têm suas casas e roças alagadas e estão precisando de alimentos, medicamentos, agasalho e todo tipo de ajuda; e depois, quando as águas dos rios/riachos começarem a baixar e voltarem ao seu nível normal, surgem outros problemas, como de que forma elas vão pagar o crédito do Pronaf que fizeram para sua plantação deste ano, como reconstruir suas casas e poços, além das estradas de acesso aos povoados e assentamentos, que estão todas danificadas", disse Chico Sales.

A direção da Fetaema vem tomando algumas providências para amenizar o sofrimento dos trabalhadores e trabalhadoras rurais atingidos pelas enchentes. Na semana passada, dia 29, quando da entrega da pauta do Grito da Terra Brasil 2009, em Brasília, o presidente da Fetaema informou ao presidente Lula da situação dos rurais do Maranhão afetados pelas cheias e transbordamento dos principais rios do Estado.

Atenção aos rurais - Esta semana, a federação enviou ofício ao governo do Estado pedindo que fosse dado às famílias das comunidades rurais o mesmo tratamento que vem sendo dado às famílias do meio urbano dos municípios em situação de emergência. Essa mesma solicitação foi feita ao presidente Lula, quando da sua visita ao Maranhão, dia 5, e está sendo encaminhada a vários ministérios como o do Desenvolvimento Agrário, Cidades, Saúde, Integração Regional, dentre outros.

A federação está solicitando, ainda, da Defesa Civil Estadual que inclua também no seu trabalho as famílias da zona rural dos municípios afetados pelas enchentes. A instituição acredita que o número de famílias desabrigadas em todo o Maranhão seja maior que vem sendo divulgado pela imprensa, "pois com certezas não estão incluídas nessas estatísticas as famílias dos povoados dos municípios que estão em situação de emergência", disse o presidente da Fetaema.

Donativos - Outra iniciativa da instituição foi iniciar um levantamento juntos aos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadores Rurais sobre a perda de produção e situação dos afetados nas comunidades rurais de vários municípios. O levantamento está sendo lento, devido às dificuldades de comunicação (alguns povoados estão com orelhões danificados ou com problemas na rede elétrica) e de acesso (várias estradas foram tomadas pelas águas ou tiveram suas pontes destruídas - para algumas comunidades o acesso só possível de canoa).

A Fetaema também está utilizando a rede de Sindicatos filiados (um total de 214) para estar reforçando a Defesa Civil Estadual na coleta de donativos aos desabrigados e orientando os Sindicatos a se engajarem nos Comitês de Apoio aos Desabrigados, em cada município.

terça-feira, 5 de maio de 2009

EDIÇÃO ESPECIAL DO INFORMANDIOCA

Boletim informativo da Rede Mandioca sobre a realização da II plenária em Vargem Grande.

PESQUISA VISA MELHORAR PRODUÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES

Embora sejam muitas as invenções tecnológicas para o desenvolvimento da agricultura, poucos são os trabalhadores rurais que têm acesso a elas. Mas, existem alternativas ao alcance dos pequenos agricultores, tendo por base os saberes locais, que podem auxiliar na produção rural, conforme a pesquisadora Ariadne Enes Rocha, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

Por meio do projeto “Diversidade, biomassa e aporte de nutrientes em capoeiras submetidas ao uso agrícola pós-queima na Amazônia Legal Maranhense”, Ariadne Rocha está com o propósito de estabelecer subsídios aos saberes das comunidades locais, como forma de atenuar as perturbações resultantes de sua exploração insustentável, ajudando-lhes assim, garantir sua segurança alimentar.

Iniciada em 2009, a pesquisa está sendo realizada no assentamento São João do Rosário, do povoado Cajazal, localizado no município de Rosário. Segundo Rocha, as 429 famílias residentes no assentamento dependem da agricultura familiar para garantir a segurança alimentar. “Esta é a realidade de grande parte dos pequenos agricultores maranhenses”, observa.

“Repensar o sistema produtivo utilizado pelos assentados é uma necessidade urgente para a garantia da sustentabilidade do próprio sistema. A elaboração de estratégias com base na lógica de sucessão natural do ecossistema local e no modelo produtivo da região está mais próxima da melhoria real dos sistemas produtivos do assentamento”, assegura Rocha.

Com vistas a alcançar essa melhoria é que Ariadne Rocha vem trabalhando, com a participação da graduanda em Agronomia, Elys Regina Rocha, e do agricultor-pesquisador Eugênio Nascimento Cantanhede.

Seguindo a metodologia da pesquisa, inicialmente, está sendo feito um mapeamento das áreas de cultivo de pousio (descanso ou repouso dado às terras cultiváveis) dos assentados. Isso implica na identificação das espécies vegetais presentes nas capoeiras de 3 a 8 anos de idade e de floresta conservada, de 20, 25 e 46 anos, para posteriores análises fitossociológicas das mesmas.

Na sequência, também serão realizadas análises químicas do solo, da atividade microbiológica antes e pós-queimada e da serrapilheira (restos de vegetação, como folhas, ramos, caules, e cascas de frutos em diferentes estágios de decomposição, bem como de animais, que formam uma camada ou cobertura sobre o solo de uma floresta). “O objetivo é a caracterização da fitossociologia da vegetação secundária e atributos do solo sobre os parâmetros da regeneração natural em diferentes estádios de sucessão vegetal”, explica a pesquisadora.

Assegurar que a presença de uma paisagem implica na vocação agrícola de um terreno, além de não ser tarefa fácil, requer tempo e cautela. Por isso mesmo, Ariadne Rocha estabeleceu um prazo de dois anos para realizar seus estudos. “Assim, chegaremos ao resultado que almejamos, que se resume no fortalecimento da agricultura familiar, elevando a produção e melhorando a qualidade de vida dos assentados”, arremata.

Sobre a pesquisadora

Ariadne Enes Rocha é professora dos Departamentos de Fitotecnia e Fitosanidade do Centro de Ciências Agrárias (CCA). A pesquisa faz parte da tese que ela está desenvolvendo no Doutorado Interinstitucional em Agronomia, sob a orientação dos professores Dr. Leonaldo Alves de Andrade, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB- Campus Areia); Drª. Francisca Helena Muniz, do Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais (Cecen/Uema); e Dr. Jacob Souto (UFPB-Campus Patos).

segunda-feira, 4 de maio de 2009

REPORTER DA GLOBO DESMENTE VERSÃO DE CÁCERE PRIVADO

Por Max Costa*

Vitor Haor, repórter da TV Liberal - afiliada da TV Globo -, depôs ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará e, em seu depoimento, negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como "escudo humano" pelos Sem Terra, bem como desmentiu a versão - propagada pela Liberal, Globo e outras emissoras - de que teriam ficado em cárcere privado, durante conflito na fazenda Santa Bárbara, em Xinguara.

Está de parabéns o repórter - um trabalhador que foi obrigado a cumprir uma pauta recomendada, mas que não aceitou mais compactuar com essa farsa. Talvez tenha lhe voltado a mente o horror presenciado pela repórter Marisa Romão, que em 1996 foi testemunha ocular do Massacre de Eldorado dos Carajás e não aceitou participar da farsa montada pelos latifundiários e por Almir Gabriel, vivendo desde então sob ameaças de morte.

A consciência deve ter pesado, ou o peso de um falso testemunho deva ter influenciado. O certo é que Haor não aceitou participar até o fim de uma pauta encomendada, tal quais os milhares de crimes que são encomendados no interior do Pará. Uma pauta que mostra a pistolagem eletrônica praticada por alguns veículos de comunicação e que temos o dever de denunciar.

Desde o início, a história estava mal contada. Um novo conflito agrário no interior do Pará, em que profissionais do jornalismo teriam sido usados como escudo humano pelo MST e mantidos em cárcere privado pelo movimento, em uma propriedade rural, cujo dono dificilmente tinha seu nome revelado. Quem conhecia e acompanhava um pouco da história desse conflito sabia que isso se tratava de uma farsa. A população, por sua vez, apesar de aceitar a criminalização do MST pela mídia e criticar a ação do movimento, via que a história estava mal contada.

As perguntas principais eram: como o cinegrafista, utilizado como "escudo humano" - considero aqui a expressão em seu real sentido e significados -, teria conseguido filmar todas as imagens? Como aconteceu essa troca de tiros, se as imagens mostravam apenas os "capangas" de Daniel Dantas atirando? Como as equipes de reportagem tiveram acesso à fazenda se a via principal estava bloqueada pelo MST? Por que o nome de Daniel Dantas dificilmente era citado como dono da fazenda e por que as matérias não faziam uma associação entre o proprietário da fazenda e suas rapinagens?

Para completar, o que não explicavam e escondiam da população: as equipes de reportagem foram para a fazenda a convite dos proprietários e com alguns custos bancados - inclusive tendo sido transportados em uma aeronave de Daniel Dantas - como se fossem fazer aquelas típicas matérias recomendadas, tão comum em revistas de turismo, decoração, moda e Cia (isso sem falar na Veja e congêneres).

Além disso, por que a mídia considerava cárcere privado, o bloqueio de uma via? E por que o bloqueio dessa via não foi impedimento para a entrada dos jornalistas e agora teria passado a ser para a saída dos mesmos? Quer dizer então que, quando bloqueamos uma via em protesto, estamos colocando em cárcere privado, os milhares de transeuntes que teriam que passar pela mesma e que ficam horas nos engarrafamentos que causamos com nossos legítimos protestos?

Pois bem, as dúvidas eram muitas. Não apenas para quem tem contato com a militância social, mas para a população em geral, que embora alguns concordassem nas críticas da mídia ao MST, viam que a história estava mal contada. Agora, porém, essa história mal contada começa a ruir e a farsa começa a aparecer.

* Max Costa é jornalista de Belém e também membro da secretaria geral do PSOL

FONTE: MST

ÓLEO DE DENDÊ DO PARÁ SERÁ TRANSFORMADO EM BIODISEL NA EUROPA

Da Redação
Agência Pará

Representantes do governo do Estado reuniram nesta sexta-feira,13, com a empresa europeia de produtos energéticos ACM Bio-Tech, na Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri). O objetivo do encontro foi iniciar negociações à assinatura de um protocolo de intenções para a construção de usinas de beneficiamento de dendê em Moju, Igarapé-Miri e Mocajuba.

A produção e o beneficiamento de dendê serão realizados por meio de um acordo entre a companhia europeia e pequenos produtores paraenses, intermediado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e com o apoio estruturante do governo do Estado.

Os pequenos produtores cultivam em suas terras mudas de árvores compradas pela companhia europeia, que também cederá máquinas e equipamentos de cultivo. Em contrapartida, a produção dos agricultores deve estar comprometida com a ACM Bio-Tech. A preços anteriormente concordados com as cooperativas dos pequenos agricultores, o pagamento será efetuado pelo Pronaf de forma adiantada, por meio de acordo feito entra a ACM e o MDA.

Em fase de instalação em Belém, a ACM já acordou com 450 famílias dos municípios de Moju, Igarapé-Miri e Mocajuba para a plantação de 3 milhões de mudas em uma área de 15 mil hectares. Em dois anos, na mesma área, devem ser plantados mais 6 milhões de mudas de dendê, algumas importadas do Equador. Até o final do ano, a empresa espera ter uma usina de beneficiamento capaz de produzir 500 toneladas de óleo por dia em cada município. A intenção da ACM é instalar a primeira fábrica antes da plantação das mudas, para beneficiar a produção de dendê já disponível nos municípios.

“O objetivo é exportar 20 mil toneladas de óleo bruto por mês, em um espaço de tempo de pelo menos 18 anos”, explica Carmelo Màngiola, representante da ACM Bio-Tech no Pará. O valor total do investimento, do qual participam bancos suíços e italianos, é avaliado em cerca de 45 milhões de dólares.

Pelo Protocolo de Intenções, o governo do Estado participará do projeto com o apoio de infraestrutura e com a assistência técnica necessária à produção. “No futuro próximo, serão realizadas reuniões com sindicatos, prefeitos e associações de moradores para verificar a aceitação do projeto pela população, antes da assinatura do Protocolo e do início da execução do projeto”, finaliza Antonio Fattore, assessor da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (CIDS) do governo do Estado.

A reunião desta sexta-feira, 13, foi realizada na Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri) e contou com a participação de representantes da própria Sagri, da CIDS e da Câmara de Política Setorial de Desenvolvimento Sócio-Econômico.

Os pequenos agricultores interessados em participar do projeto podem entrar em contato por meio do e-mail acmbiotech@gmail.com.

Por Rafael Mileo / Cids

BIODISEL NÃO SE AFIRMA COMO ALTERNATIVA PARA PRODUÇÃO FAMILIAR

Por Repórter Brasil

Para fazer estudo sobre o tema, equipe do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) percorreu 21,4 mil km, por meio aéreo e terrestre, nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e Rondônia, além do Distrito Federal.

Pelo menos por enquanto, o discurso de que a produção do biodiesel pode ser um vetor para a melhoria das condições de vida dos agricultores familiares não está sendo comprovado na prática. Atualmente, 80% do biodiesel produzido no Brasil vem do óleo de soja. A participação dos pequenos na cadeia de biodiesel da soja tem se limitado à venda de grãos às usinas, que detém o Selo Combustível Social concedido pelo governo federal e desfrutam das respectivas facilidades de financiamento e incentivos fiscais.

Em vez de aumentar a autonomia das famílias que estão na base da pirâmide rural, a expansão da soja tem, em diversos casos, intensificado a pressão sobre pequenos produtores em áreas como o Baixo Araguaia - conhecido como "Vale dos Esquecidos" entre o Norte do Mato Grosso e o Sul do Pará. A expectativa de asfaltamento de um novo trecho da BR-158, que viabilizará a exportação da soja pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, foi suficiente para dobrar o preço do hectare de terra e agravar conflitos fundiários na região.

Em Rondônia, o crescimento das áreas cobertas por soja também influiu no aumento da concentração fundiária, a exemplo de Corumbiara, onde os sojicultores já invadem áreas de reforma agrária. Sem contar os flagrantes de desrespeito à lei ambiental (como o plantio de transgênicos e a utilização de agrotóxicos proibidos) no entorno do Parque Nacional das Emas, em Goiás.