sábado, 27 de junho de 2009

PESQUISA BUSCA IDENTIFICAR DESMATADORES DO CERRADO

Os desmatadores do Cerrado parecem não ter um rosto. Estão diluídos em imagens de satélite que contam apenas a quantas anda a devastação, mas que escondem quem são os principais responsáveis por derrubar o bioma num ritmo acelerado.

Os estudos e acompanhamentos científicos já conseguem precisar a evolução do desmatamento do Cerrado, um avanço recente dos últimos cinco anos. Até há bem pouco tempo, não se sabia dizer qual o tamanho da destruição nem a dimensão ano a ano, muito menos cenários eram projetados. Agora, o desafio principal é outro: apontar, nas imagens geradas por satélites e processadas em laboratórios, quem são os proprietários rurais responsáveis pela destruição de metade da vegetação até agora. E quais são as propriedades que, de forma contumaz, continuam desrespeitando as áreas de reserva legal e de preservação permanente.

Um levantamento apresentado ontem na cidade de Goiás, no primeiro dia do 3º Fórum Ambiental, realizado dentro do 11º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), mostra que a identificação dos maiores desmatadores do Cerrado vai muito além da denúncia de crime ambiental. É a reparação de uma injustiça com quem não contribui para o desmatamento do bioma, mas que sofre com efeitos como mudanças do microclima, maior vazão dos rios e mais enchentes nas cidades.

Em todo o Cerrado, que abrange 12 Estados e o Distrito Federal, apenas 2,05% da população é proprietária de terra. “É apenas essa pequena fatia da população a responsável pelo desmatamento”, ressalta o pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG) Nilson Clementino Ferreira, que apresentou os dados durante o primeiro painel do fórum, intitulado Bioma Cerrado: Ocupação Atual e Cenários Futuros. O nível de concentração de terras no Cerrado é maior do que o verificado na Caatinga (4,88% dos moradores são proprietários de terras), na Amazônia (3%) e no Pantanal (2,84%). O problema latifundiário e, logo, ambiental só não é maior do que nos Pampas Gaúchos e na Mata Atlântica, onde menos de 2% da população têm propriedades rurais.

Sintomaticamente, os biomas onde há maior concentração fundiária no País são também os mais devastados. Nos Pampas, o índice de conversão é de 77%. Na Mata Atlântica, de 64%. Em seguida aparece o Cerrado, que já perdeu entre 40% e 50% de sua vegetação nativa. Muito pouco se sabe sobre os desmatadores, a não ser pelas operações de fiscalização de órgãos ambientais. Até agora, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) só elabora uma lista dos maiores desmatadores da Amazônia.

“A ocupação no Cerrado é rápida e barata. Usa pouca tecnologia, emprega e paga pouco. Tem pouca produtividade da agricultura e da pecuária”, ressaltou Nilson Clementino, responsável pela elaboração do sistema de alerta de desmatamento do Cerrado, produzido pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da UFG, em parceria com o MMA.

As pesquisas mostram que o desmatamento do Cerrado não é sinônimo de desenvolvimento regional. Apenas 8% do PIB total na região do bioma equivalem à riqueza gerada pela produção agropecuária, conforme constatação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os mapas mostrados ontem ao público do Fica revelam que a área de Cerrado que faz fronteira com a Amazônia Legal é uma das mais desmatadas. Mostra que, até 2050, haverá “graves problemas” de falta d’água no sudoeste e no sul goianos e no norte sul-mato-grossense.

Vinicius Jorge Sassine - Da cidade de Goiás (O Popular)

VENDAS DE DEFENSIVOS CRESCEM 2% NO ACUMULADO DO ANO

As vendas de defensivos agrícolas acumuladas até maio desse ano cresceram 2% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Peter Ahlgrimm. A comercialização totalizou R$ 3,328 bilhões - o que representa um incremento de R$ 55 milhões no faturamento do setor. Os dados foram divulgados na segunda-feira, 22, durante reunião da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA), do Ministério da Agricultura, em Brasília.

O maior crescimento foi registrado no segmento dos herbicidas (12%), seguido dos fungicidas (8%). Na área dos inseticidas, o setor registrou queda de 17% na comercialização dos produtos, por conta da redução nos mercados de soja, cana-de-açúcar e milho. Ahlgrimm lembrou que o país está no período de entressafra, ou seja, o volume de vendas é bem inferior se comparado com o segundo semestre.

De acordo com Ahlgrimm, o setor prevê que o mercado, em Reais, feche o ano de 2009 no mesmo patamar de 2008. Entretanto, se a avaliação for feita do ponto de vista da moeda americana, o mercado está em torno de 15% a 20% menor.

No mês de maio, as vendas de defensivos tiveram uma queda de 2% - passaram de R$ 558 milhões em 2008 para R$ 548 milhões em 2009.

Comunicação Andef/Brasília

O MARANHÃO É O TERCEIRO EM DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

Infelizmente o Maranhão aparece nas listas de campeões. Agora é o campeão em desmatamento da Amazônia. Até quando esses governante vão enxergar que esse modelo adotado não cabe mais na realidade atual...


Globo Amazônia
Divulgação/Ibama-PA


SÃO PAULO - A Amazônia perdeu pelo menos 123,7 km² de florestas no mês de maio – área equivalente a sete vezes a Ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número representa uma redução de 89% se comparado com o mesmo mês de 2008, quando foi registrado desmatamento de 1.096 km².

A leitura dos satélites foi prejudicada pelas nuvens, que cobriram 62% da Amazônia Legal. Em maio do ano passado, a área coberta por nuvens era de 46%.

O estado onde foram encontradas mais áreas desmatadas foi Mato Grosso, que teve 61,2 km² de florestas derrubadas. Em segundo lugar está Roraima, com 17,7 km², seguido pelo Maranhão, com 17,6 km².

Desde o início do ano, a Amazônia acumula desmatamento de 543,2 km², uma queda de 85% em comparação com o mesmo período de 2008, quando os satélites do Inpe mediram 3.730,1 km² de devastação.

Alerta

A medição faz parte do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que identifica apenas focos de devastação com área maior que 2.500 m². Para o cálculo das áreas desmatadas, são consideradas tanto as matas que foram completamente destruídas – que sofreram o chamado ‘corte raso’ – quanto os locais em que houve degradação parcial.

Em breve, os focos de desmatamento detectados pelo Inpe poderão ser vistos de forma simples e amigável no mapa interativo do Globo Amazônia, que mostra os pontos de destruição da floresta e possibilita aos internautas protestar contra queimadas e desmatamentos.

O sistema Deter é desenvolvido para dar apoio às fiscalizações contra crimes ambientais. Como consegue detectar áreas em que a floresta ainda não foi totalmente derrubada, ele permite que providências sejam tomadas antes que toda a mata seja destruída.

O balanço anual e consolidado do desmatamento na Amazônia é medido pelo sistema Prodes, também do Inpe, que tem resolução melhor e consegue detectar focos menores de destruição. Os dados desse sistema são divulgados pelo instituto no final do ano.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

INCRA FIXA VALORES PARA BENEFICIÁRIOS DA REFORMA AGRÁRIA

Agência Brasil



Brasília - O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) publica na edição de hoje (24) do Diário Oficial da União a norma que fixa valores e regras gerais para a implementação do crédito de instalação aos beneficiários dos projetos de reforma agrária.


A Instrução Normativa nº 53 fixa valores para cada tipo de auxílio. A categoria apoio inicial terá o valor de R$ 3,2 mil, a de apoio à mulher, de R$ 2,4 mil, a de aquisição de materiais de construção, R$ 10 mil, as modalidades de fomento e adicional do fomento serão R$ 3,2 mil (cada), a de semiárido, R$ 2 mil, a de recuperação e materiais de construção (R$ 5 mil), para reabilitação de crédito de produção (R$ 6 mil) e a de crédito ambiental, está fixada em R$ 2,4 mil.


Além do valor a ser repassado às categorias, a medida especifica a finalidade de cada modalidade.

VOLUME DE RECURSOS DESTE PLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO CRESCEU 42,3% EM RELAÇÃO AO ANTERIOR

Companheiros e Companheiras de lutas

O Governo aumentou o volume de recursos para o setor agropecuário no Brasil. Temos que ver pra ondeé destinado esses recursos. Percebemos que para agricultura familiar o aumento não passou dos 8% (na safra anterior era 14 bi neste plano é 15 bi). É notório que o governo continua investindo no agronegócio e deixando a agricultura familiar mesmo sendo responsável por 70% doas alimentos que chegam na mesa dos brasileiros, ainda não tem consegue ter o espaço devido dentro desse governo.

Veja a matéria abaixo...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, lançaram ontem, em Londrina, no norte do Paraná, o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2009-2010 que prevê R$ 107,5 bilhões para o setor, 37% a mais de recursos para o crédito à safra 2008-2009. A agricultura comercial conta com R$ 92,5 bilhões e a familiar com R$ 15 bilhões.



De acordo com Stephanes e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que já haviam antecipado os detalhes do plano em entrevista coletiva em Londrina, só para a agricultura comercial o volume de recursos cresceu 42,3% em comparação com o plano anterior. O ministro da Agricultura lembrou que esta é a segunda vez que o governo federal escolhe o Paraná para o lançamento. O estado tem uma agricultura organizada e é responsável por um quinto da produção agrícola brasileira, sendo, com apenas 2,8% da área do território nacional, o maior produtor de grãos do país.



Lula chegou ao Paraná de manhã. Ele desembarcou no aeroporto de Londrina às 8h50, acompanhado pelos ministros Edison Lobão, de Minas e Energia, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. No aeroporto, o presidente e a comitiva foram recebidos pelo governador Roberto Requião e pelo secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini. Em seguida, visitaram o assentamento Robson Vieria de Souza, do MST, no município de Congonhinhas, a 80 quilômetros de Londrina.


O presidente Lula considerou extraordinários os resultados do programa Mais Alimento, voltado para o desenvolvimento da agricultura familiar. Para ele, nos primeiros dez meses, o programa cumpriu o papel de estimular o pequeno agricultor, aumentar a produção de alimentos e a produção industrial de tratores para a agricultura familiar:



– Você sabe que a agricultura familiar é muito ampla e muito diversificada. Ela é responsável por 70% dos alimentos que chegam à casa dos brasileiros.

ENERGIA EÓLICA É SUFUCUENTE PARA O MUNDO, DIZ ESTUDO

O vento pode suprir as necessidades energéticas do mundo, segundo estudo publicado hoje na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)". A notícia é um bom presságio para os defensores das fontes limpas de energia. A matriz eólica, como a solar, suscita esperanças na luta contra o aquecimento global. No Brasil, se os cálculos do estudo estiverem certos, só os aerogeradores terrestres produziriam, no mínimo, cerca de 14 vezes a eletricidade consumida no País. Para os aerogeradores marítimos, a proporção seria de cerca de três vezes as necessidades brasileiras.

Pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e do Centro de Pesquisa Técnica VTT, da Finlândia, determinaram a energia que poderia ser produzida em cada turbina eólica com base na velocidade local do vento, na densidade do ar, no possível espaçamento dos aerogeradores e no tamanho das hélices. Os cientistas também consideraram áreas no mar. Os aerogeradores implantados em terra firme conseguiriam produzir o equivalente a 40 vezes o consumo mundial de eletricidade e cerca de cinco vezes o consumo de energia em todas as suas formas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, seria possível produzir 16 vezes o consumo atual de eletricidade do país. Um dos autores do estudo, Michael McElroy, da Universidade Harvard, considera essencial um esforço global para viabilizar o uso da energia eólica em todo o mundo. "Também seria necessário reformar o sistema de distribuição de eletricidade atual", aponta McElroy.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ênio Bueno, especialista em energia eólica, pondera que o estudo leva em conta apenas o potencial de aproveitamento dos ventos para geração de energia. "Seria preciso considerar também a viabilidade técnica em cada local e a viabilidade financeira", aponta. "Isso reduz muito a previsão dos pesquisadores." Estudo dos técnicos do Inpe, em janeiro, mostra que os ventos brasileiros podem atender mais de 60% do consumo nacional de energia de forma competitiva. Com o barateamento progressivo da tecnologia, o porcentual deve aumentar. Atualmente, menos de 1% da energia consumida no país é gerada por vento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

AGRICULTURA ECOLÓGICA PRODUZ MAIS E MELHOR

Por Lim Li Ching*

Oakland, Estados Unidos, 9 de março (Terramérica) - Embora poucos questionem que a agricultura ecológica seja melhor para o meio ambiente e as pessoas, existe o temor sobre sua suposta insuficiência produtiva. Estudos recentes mostram que os rendimentos da agricultura ecológica são, em geral, compráveis aos da convencional em países desenvolvidos e significativamente altos em regiões em desenvolvimento, especialmente onde os investimentos são baixos, como na África. Um estudo mundial, com dados de 293 exemplos (Catherine Badgley, 2007), constatou que a diferença de rendimento da agricultura orgânica (que não utiliza produtos agroquímicos) com a não orgânica era pouco inferior a 1 no mundo desenvolvido, mas superior a 1 nas nações em desenvolvimento.

Em média, sistemas orgânicos em nações ricas chegam a 92% do rendimento dos convencionais, enquanto em países em desenvolvimento agricultores orgânicos produzem 80% mais do que os tradicionais. Os pesquisadores estimaram que hipoteticamente os métodos orgânicos poderiam produzir alimentos suficientes, sobre uma base global por pessoa, para manter a população mundial e, talvez, uma maior, sem acrescentar mais terras à produção. Os dados sugerem que fazer plantação de proteção com leguminosas pode fixar suficiente nitrogênio no solo como os fertilizantes sintéticos em uso.

Em uma avaliação de 286 projetos em 57 países, descobriu-se que os agricultores aumentaram sua produtividade em 79%, em média, ao adotar uma série de práticas, como manejo integrado de pragas e nutrientes, cultivos de conservação do solo, agrorreflorestamento, coleta de água em terras secas e integração de pecuária e aquicultura nos sistemas agrícolas. Essas práticas também reduziram efeitos adversos sobre o meio ambiente e renderam benefícios, como a mitigação da mudança climática, evidenciados em um uso mais eficiente da água, absorção de carbono e menor uso de pesticidas.

Outros dados parciais mostram que:
- A média de produção de alimentos subiu 73%, para 4.042.000 pequenos agricultores de cereais e tubérculos em 3,6 milhões de hectares.
- A produção de alimentos aumentou 150%, para 146 mil produtores em 543 mil hectares de tubérculos (batata, batata-doce, mandioca).
- A produção total aumentou 46% em propriedades agrícolas maiores na América Latina.
- Na África, o aumento do rendimento médio das colheitas foi maior do que a média de 79%, com 116% para todos os projetos estudados de produção orgânica no continente e 128% no leste da África.

Os estudos sobre produção de alimentos com métodos orgânicos mostram crescimento na produtividade por hectare, o que desmente a crença de que a agricultura orgânica não pode aumentar a produtividade agrícola. Dados de 2002, 2003 e 2004 do Projeto Tigray (Etiópia), em curso desde 1996, mostraram que, em média, as terras fertilizadas com compostagem (humus obtido por decomposição de resíduos orgânicos) deram rendimentos muito superiores às tratadas com adubos químicos.

Em Honduras e na Guatemala, 45 mil famílias quase quintuplicaram os rendimentos com uso de adubos verdes e esterco animal, cultivos de cobertura do solo, faixas-filtro de ervas para capturar potenciais contaminantes, e lavoura entre fileiras. Agricultores das difíceis regiões montanhosas do Peru, Equador e da Bolívia triplicaram os rendimentos da batata, principalmente com adubos verdes.

No Brasil, o uso de adubos verdes e plantações de proteção aumentou o rendimento do milho entre 20% e 250%, enquanto no Peru a restauração das terraças de cultivo pré-colombianas levou a aumentos de 150% em colheitas no Altiplano. Em Honduras, práticas de conservação do solo e fertilizantes orgânicos triplicaram ou quadruplicaram os rendimentos. Em Cuba, com mais de sete mil hortas orgânicas urbanas, a produção saltou de 1,5 quilo para quase 20 por metro quadrado.

Na Ásia, a irrigação compartilhada nas Filipinas elevou o rendimento dos arrozais em cerca de 20%. Além disso, há informes de aumentos de 175% em fazendas do Nepal que adotaram práticas agroecológicas, enquanto no Paquistão os rendimentos de manga e cítricos subiram entre 150% e 200% graças a técnicas como cobertura das plantas com resíduos vegetais, semeadura direta e o uso de compostagem, entre outras.

A Avaliação Internacional do Conhecimento, da Ciência e da Tecnologia no Desenvolvimento Agrícola (IAASTD), um estudo de três anos publicado em 2008, afirma que é preciso aprofundar a pesquisa e a implementação de técnicas agroecológicas para enfrentar os problemas ambientais e aumentar a produtividade. Além disso, os enfoques ecológicos permitem melhorar a produção local de alimentos com baixos custos, técnicas e insumos acessíveis e livres de dano ambiental.

* Lim Li Ching é pesquisadora do Oakland Institute e do Programa de Biosegurança da Rede do Terceiro Mundo. Direitos exclusivos IPS.

CTNBio analisa liberação comercial de arroz e algodão transgênicos

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio), do Ministério da Ciência e Tecnologia, volta a se reunir nesta quarta-feira (17) e amanhã. Em pauta, 15 solicitações de liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs). A reunião começou às 9h no ministério.

A lista inclui um pedido de liberação comercial de arroz tolerante a glufosinato de amônio e um para algodão geneticamente modificado resistente a insetos e tolerante ao glifosato. Devem ser analisadas também três solicitações para liberação comercial de variedades de soja, cinco pedidos para liberação de milho e cinco para liberação comercial de vacinas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

TÉCNICAS AGROECOLOGICAS PODEM SUBSTITUIR USO DE AGROTÓXICOS

Jun 16 2009 12:00AM

Fonte: Revista IHU Online - Unisinos

Segundo Flávio Lewgoy, crianças são mais suscetíveis a contaminação por agrotóxicos


Dando continuidade ao debate sobre os danos dos agrotóxicos à saúde humana, tema de capa da IHU On-Line da semana passada, publicamos a entrevista a seguir, concedida por e-mail, pelo professor aposentado do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Flávio Lewgoy. Segundo ele, os números divulgados sobre a mortalidade e letalidade causadas pelos venenos agrícolas no Brasil “são obviamente muito inferiores”.



Lewgoy destaca a possível contaminação pelos domissanitários utilizados para matar insetos. De acordo com o pesquisador, três piretroides, ingredientes básicos desses produtos, e cartões de aparelhos de aquecimento elétrico para volatilização durante a noite “são avaliados como possíveis cancerígenos humanos: bifentrina, cipermetrina e permetrina”.



Confira a entrevista.



IHU On-Line – Qual é o índice de infectados por agrotóxicos no país?



Flávio Lewgoy - Milhões de pessoas, no campo, são expostas anualmente a pulverizações com agrotóxicos. A morbidade e a letalidade causadas pelos venenos agrícolas no Brasil em 2003, conforme o Sistema Nacional de Informações Agrícolas (Sinitox), são obviamente muito inferiores às reais. Por exemplo, o número notificado de casos de intoxicação por agrotóxicos em todo o Brasil, nesse ano, foi de 5.945. O total de mortes registrado foi de 164. Note-se que somente as intoxicações agudas e (quando notificadas) suas sequelas letais foram registradas. O número de centros regionais do sistema é insuficiente para abranger todo o país e, mais ainda, a notificação (para eles e deles para o Centro Nacional) não é obrigatória. Além disto, os efeitos crônicos podem surgir depois de semanas, meses, anos ou até mesmo gerações após a exposição aos agrotóxicos. Se o total de intoxicações agudas, numa estimativa conservadora, for dez vezes superior ao divulgado, ou seja, cerca de 60.000 casos anuais, o número de intoxicações crônicas superaria facilmente esta cifra.



IHU On-Line – Que impactos à saúde humana podem advir da exposição aos agrotóxicos?



Flávio Lewgoy - Agricultores e outros trabalhadores rurais, que trabalham com organofosforados, têm comumente distúrbios agudos como náusea, tonturas, vômitos, dores de cabeça, dor abdominal, problemas dermatológicos e da visão. A contaminação com esses produtos está associada com problemas e/ou sintomas crônicos, tais como doenças respiratórias, distúrbios da memória, afecções dermatológicas, depressão, déficits de função cognitiva, insônia, dificuldade na respiração, fraqueza e dor no peito. A exposição a herbicidas e inseticidas, afirma o Instituto Nacional do Câncer (USA), é causa provável de linfoma de Hodgkin, leucemias, câncer de próstata, mieloma múltiplo e sarcomas. Outras pesquisas indicam a exposição ocupacional a agrotóxicos como causadora de aumento de risco de anomalias reprodutivas: espermatozóides com anomalias morfológicas, nascimento de crianças com palato fendido e anomalias nos sistemas músculo-esquelético e nervoso, além de abortos e infertilidade.



As crianças são mais sensíveis aos efeitos dos agrotóxicos do que os adultos, conforme a EPA (Agência de Proteção Ambiental Americana), porque seu organismo ainda está se desenvolvendo; em relação ao seu peso corporal, elas comem e ingerem líquidos em bem maior proporção que os adultos, aumentando a sua exposição aos agrotóxicos, inclusive aos denominados domissanitários usados em casa para matar mosquitos e ba

ESTATÍSTICAS DA INTOXICAÇÃO

15/6/2009

Agência FAPESP
Dados divulgados na semana passada pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que 104.181 casos de intoxicação humana e cerca de 500 óbitos foram registrados em 2007 pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica em todo o país.

Medicamentos (30,7%), animais peçonhentos (20,1%) e produtos de limpeza domiciliar (11,4%) foram os principais agentes que causaram intoxicações em humanos naquele ano. Com cerca de 25% do total de casos, as crianças menores de 5 anos se mantiveram como a faixa etária mais atingida.

O Sinitox tem o objetivo de coordenar o processo de coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento no Brasil. Os casos são registrados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), por meio de 35 centros de informação e assistência toxicológica localizados em 18 estados brasileiros e no Distrito Federal.

A região Sudeste registrou cerca de 46% dos casos de intoxicação humana, seguido da região Sul com cerca de 30%. De acordo com o Sinitox, as três maiores letalidades por agente tóxico foram observadas para os agrotóxicos de uso agrícola, drogas de abuso e raticidas.

Por outro lado, a principal circunstância das intoxicações são os acidentes individuais, coletivos e ambientais, que são responsáveis por cerca de 55% do total de casos registrados, seguido da tentativa de suicídio e da atividade de ocupação.

Os dados do Sinitox alertam ainda que o sexo masculino apresenta o maior número de mortes por acidente com agrotóxicos de uso agrícola, com 112 registros em 2007, seguido pelas drogas de abuso (58), raticidas (26) e medicamentos (24).

Para o sexo feminino, destacam-se os medicamentos, com 53 óbitos, agrotóxicos de uso agrícola (50) e raticidas (20). Dentre os quase 21 mil envenenamentos por animais peçonhentos registrados em 2007, os escorpiões contribuíram com quase 6 mil dos casos, seguidos por serpentes e aranhas.

Os dados divulgados pelo Sinitox podem ser acessados no site do sistema e estão disponíveis em nível nacional ou por região.

Mais informações: www.fiocruz.br

sexta-feira, 12 de junho de 2009

QUAL É O TERMO CORRETO PARA CLASSIFICAR ALIMENTOS SEM AGROTÓXICOS

Publicado em 14 maio 2009
Tags: informativo 100
Alimentos Orgânicos, Naturais, Biológicos, Agroecológicos, Ecológicos, Biodinâmicos ou de Permacultura?


Lentamente o consumidor brasileiro começa a acordar para a qualidade do alimento orgânico e, neste momento, ele também se depara com diversos termos (aparentemente) sinônimos que, com certeza, o confundem. Afinal qual é o melhor alimento e o que significa cada termo?

A Agricultura Orgânica teve a sua primeira legislação aprovada em 2003, através da Lei Lei 10.831 e foi recentemente regulamentada pelo Decreto 6.323/07. É hora de discutir essa questão antes que o consumidor fique ainda mais confuso.

Para iniciar essa discussão é bom saber que na legislação brasileira da Agricultura Orgânica (AO) esse termo engloba todas as diferentes correntes de agricultura alternativa ou sustentável ou ecológica. E quais são essas correntes?

As primeiras correntes de AO foram a Agricultura Biodinâmica, a Agricultura Organo-Biológica, a Agricultura Orgânica e a Agricultura Natural. A seguir, vamos nos ater brevemente a elas para compreender melhor de onde vem o termo orgânico.

Agricultura Biodinâmica
O filósofo e pesquisador austríaco Rudolf Steiner(1924) ampliou a visão da agricultura baseado na ciência espiritual da Antroposofia, chamando-a de Agricultura Biodinâmica. As idéias de Steiner foram difundidas por todo o mundo com a colaboração de E.E Pfeiffer.

Na prática, o diferencial da Agricultura Biodinâmica se faz com a utilização de preparados biodinâmicos, compostos de alta diluição elaborados na perspectiva homeopática, a partir de substâncias minerais, vegetais e animais. Os compostos biodinâmicos, além de esterco e matéria orgânica, são adicionados de plantas medicinais. Além disso, as influências cósmicas e astronômicas também são consideradas e a Biodinâmica segue um calendário de influências da lua e de outros planetas no crescimento, plantio e colheita das plantas.

Uma estreita relação com os reinos da natureza e com a fenomenologia de Goethe também está presente na Agricultura Biodinâmica, relação que embasa conceitos como o de “fazenda como organismo vivo” e “força vital ou etérica” dos alimentos, do solo e da planta.

As práticas da agricultura biodinâmica possuem seu próprio sistema de certificação, o selo Demeter de qualidade, fiscalização e credenciamento de agricultores.

Agricultura Biológica
No início dos anos 30, na Suíça, surgiu também outro movimento de agricultura a partir das idéias de um biologista e político, Hans Muller, que tinha objetivos socioeconômicos e políticos e buscava a autonomia do agricultor e a comercialização direta. O modelo foi difundido por volta dos anos 60 quando o médico Hans Peter Rusch difundiu esse método que também tinha por princípios a proteção do ambiente, a qualidade biológica dos alimentos e o desenvolvimento de fontes de energia renováveis.

Uma característica inicial dessa corrente era a de não priorizar a associação agricultura/pecuária. O uso da matéria orgânica podia vir de outras unidades de produção e o essencial era a integração das unidades de produção com as atividades socioeconômicas locais.

Na França, a Fundação Nature e Progrés e na Alemanha, a Associação Bioland são adeptas desse movimento e nesses países, bem como em Portugal, o termo mais comum é “alimento biológico”.

As normas de produção e comercialização das Agriculturas Orgânica e Biológica são idênticas, sendo que hoje elas divergem somente pelo sentido da palavra de origem.

Agricultura Orgânica
O pesquisador Albert Howard, considerado o pai da Agricultura Orgânica, trabalhou na Índia, a serviço da Inglaterra, na estação experimental de Pusa e começou a observar a maneira que os camponeses indianos reciclavam materiais orgânicos para fazer compostos e utilizar na agricultura, evitando o uso de fertilizantes químicos. Howard percebeu a melhor qualidade do solo e das plantas nele cultivadas e que os animais dos camponeses não adoeciam, enquanto os da estação experimental, apesar dos vários métodos sanitários empregados, eram mais suscetíveis as enfermidades.

Em 1940, Howard publicou o clássico da Agricultura Orgânica, “Um Testamento Agrícola”. Na Inglaterra, Lady E. Balfour publicou “The Living Soil” (1943) e fundou a Soil Association, fatos que ajudaram a divulgar as idéias de Howard. Jerome Irving Rodale popularizou as idéias de Howard nos EUA. No ano de 1979, a Agricultura Orgânica foi regulamentada nos estados de Oregan, Maine e Califórnia e a partir daí os alimentos orgânicos puderam ser rotulados como tal.

Em 1984 a AO foi reconhecida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O Brasil assumiu esse termo como genérico, assim como a Inglaterra e os EUA.

Agricultura Natural
Mokiti Okada foi um empresário bem-sucedido até que houve uma grande crise financeira na década de 20 no Japão. A partir daí, começou a estudar filosofia, artes e agricultura.

Observando os problemas na agricultura japonesa, deu início a experimentos de campo. Em 1935, criou a Religião Messiânica, que tem como um dos alicerces a Agricultura Natural, cuja prática respeita as leis da natureza, alicerçada nos princípios da “Verdade, do Bem e do Belo”, e divulga que a arte e os alimentos produzidos sem produtos químicos têm o poder de purificar o espírito e o corpo.

As principais práticas recomendadas pela Agricultura Natural são: rotação de culturas, o uso de adubos verdes e a cobertura morta (restos de vegetais) sobre o solo. No que se refere ao controle de pragas e doenças, aconselha-se a manutenção das características naturais do ambiente, a melhoria das condições dos solos e, portanto do estado nutricional dos vegetais, o emprego de inimigos naturais de pragas e, em último caso, a utilização de produtos naturais não poluentes.

A Agricultura Natural, mesmo defendendo a reciclagem de matéria orgânica nos processos produtivos, evita o uso de matéria orgânica de origem animal. Essa agricultura se fortaleceu no Japão e se expandiu pelo mundo. A Fundação Mokiti Okada no Brasil foi instituída em 19 de janeiro de 1971.

No mesmo período, por volta de 1938, Masanobu Fukuoka, pesquisador chefe do controle de doenças e insetos da estação experimental da prefeitura de Koshi, no Japão, deixou o cargo e se dedicou a experimentação de campo em sua fazenda de citrus e grãos, quando formulou os princípios da “Agricultura da Natureza”.

Fukuoka dizia que o agricultor não deve arar a terra e nem mesmo utilizar-se dos compostos, mas deve aproveitar ao máximo os processos da natureza sem esforços desnecessários e desperdício de energia, método que ele chamou de “não fazer”.

As idéias de Fukuoka foram difundidas na Austrália pelo método que ficou conhecido por Permacultura, cujo princípio é o cultivo alternado de gramíneas e leguminosas e o solo mantido com cobertura de palha.

Nas palavras de seus fundadores, Mollison e Slay, a Permacultura é “um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis”. Entende-se como design, a conexão entre as coisas, ou melhor, a forma como homens, animais e culturas estão conectados. Seus idealizadores colocam na base do pensamento da Permacultura os ensinamentos do próprio Fukuoka que a resume como “uma filosofia de trabalho com (e não contra) a natureza; de observação atenta e transferível para o cotidiano, em oposto ao trabalho descuidado; e de observação de plantas e animais em todas as suas funções, em oposto ao tratamento desses elementos como sistemas de um só produto”.

Essas correntes existem até hoje e os objetivos comuns de todas elas estão disponíveis no Decreto 6.323/2007, ou seja, “a auto-sustentação da propriedade agrícola no tempo e no espaço, a minimização da dependência de energias não renováveis na produção, a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional e a preservação da saúde ambiental e humana”. Os objetivos de “maximizar os benefícios sociais para o agricultor e respeitar sua integridade cultural” estão igualmente previstos na legislação brasileira e as diferentes correntes consideram tais propósitos. Queremos acreditar que uma verdadeira Agricultura Orgânica persiga tais objetivos expostos na legislação e considere questões como o salário justo do agricultor, seu bem-estar na propriedade, o trabalho escravo e infantil.

Algumas certificadoras já emitem selos ecosociais e certificação para um comércio justo, solidário e responsável. Entretanto, uma outra vertente da agricultura sustentável assume tais objetivos como cerne de sua atuação.

As preocupações de ordem política e econômica que iniciaram com a Agricultura Biológica na Europa, centradas na viabilização do agricultor e sua dignificação no meio rural, tornou-se o foco de ação da Agroecologia. Ela se caracteriza como um movimento sócio-político, de empowerment (traduzido para o espanhol como emponderamento. O termo não existe em português) do agricultor em busca de sua identidade e raízes culturais e principalmente de sua autonomia, poder de decisão e participação ativa no processo produtivo, além das preocupações ambientais inerentes as outras correntes acima citadas.

A Agroecologia se ajusta as questões sociais que permeiam a realidade rural brasileira e, enquanto a AO é considerada um sistema produtivo que trabalha com diferentes segmentos sociais, a Agroecologia não é um modelo de agricultura, mas se denomina como ciência, na qual a agricultura familiar está no centro dos processos envolvidos dos sistemas produtivos. A Agroecologia “parte do pensamento científico-agronômico modificando-o com a prática e revelando, por um lado, o funcionamento ecológico dos processos biológicos da produção no enfoque ambiental e, por outro lado, os mecanismos de dependência sócio-política que mantém os agricultores em uma posição de subordinação”. Para seus divulgadores, esses fundamentos, uma vez compreendidos, podem levar a propostas de agricultura sustentável. Pensando nessa ampla perspectiva, o conceito de “alimentos agroecológicos” não existe, pois a Agroecologia não se caracteriza como um padrão produtivo. É comum, entre os promotores da Agroecologia, ouvir o termo “alimento ecológico” que não se enquadra em nenhum padrão produtivo e não define muita coisa.

Tais diferenças de enfoque acabam por se expressar em um processo de divisão, explícito na fase final da cadeia produtiva, a comercialização dos orgânicos. O movimento orgânico aparece dividido entre aqueles atores orientados para a produção do comércio varejista interno e de exportação e os que reforçam a relação do sistema produtivo e valores e a necessidade de manter a AO dentro de um mercado local, que fortaleça a ação do agricultor familiar, o chamado circuito curto composto de feiras, vendas diretas, cestas e lojas especializadas.

Apesar de que essas diferenças trazem rupturas e animosidades no cenário orgânico brasileiro, a diversidade de pensamentos e ações é uma conquista e todas essas propostas assumem um papel importante na construção de uma forma mais digna de fazer agricultura. As correntes que focam no consumidor e na variação do circuito de vendas (supermercados e varejo em geral, além do circuito curto) devem ser respeitadas no seu papel de ampliar mercados de comercialização, disponibilizar produtos orgânicos variados, retirar a AO de um nicho para uma posição de produto diferenciado, facilitar a comercialização para o consumidor urbano e de popularizar a Agricultura Orgânica em todas as classes sociais.

Já as vertentes que buscam o retorno do lucro de venda para o agricultor, sem intermediários, acabam por fortalecer o papel do agricultor familiar, estimulam a promoção da responsabilidade social dos diferentes atores (especialmente o consumidor) frente à agricultura orgânica e ampliam a ação da AO como movimento socioambiental.

Respeitando as diferenças que cada corrente assume a questão principal que deve preocupar o movimento orgânico é como passar para o consumidor essas nuanças e como informar que o alimento proveniente de Permacultura, biológico, natural ou biodinâmico é também orgânico, mas o contrário não é verdadeiro.

A legislação propõe um termo comum e foi aprovada por técnicos de várias correntes.

Depois de esperar tanto tempo por uma lei que discipline a Agricultura Orgânica no país, é importante que o movimento assuma esse termo e ajude a ampliar sua inserção no mercado e esclarecer suas diferenças para os leigos.

Uma proposta seria a de utilizar o termo ALIMENTO ORGÂNICO proveniente de Agricultura Biodinâmica, Natural, de Permacultura ou com base na Agroecologia.

É possível veicular nos rótulos informação adicional ao consumidor que esclareça as diferenças. O termo AGRICULTURA FAMILIAR ORGÂNICA abrange muitos interesses e poderia ser uma opção clara e simples.

A Agricultura Biodinâmica pode informar sobre sua preocupação com a qualidade dos alimentos e com a formação de um mercado orgânico interno que tenha credibilidade no exterior.

A Agroecologia deve mostrar suas preocupações com a dignificação do agricultor e com a formação de mercado com base em economia solidária.

A Natural pode sinalizar a relação entre o ato de comer e o desenvolvimento espiritual do ser humano e assim por diante.

Isso não significa que esses objetivos não se mesclem entre as correntes, mas o consumidor não pode estar confuso nesse momento, sem saber se o termo “alimento proveniente de Permacultura” vem de alguma seita desconhecida ou se ele está apoiando o MST e o movimento de reforma agrária quando compra produtos “com base na Agroecologia”.

Como profissional da área da saúde e educação alimentar, penso que o termo orgânico deve ser veiculado entre os consumidores e leigos. Não há dúvidas de que esse termo ainda está em construção e que para ser relacionado a uma perspectiva ampla de saúde, deve incorporar novas premissas.

Uma propriedade orgânica que visa somente a substituição de insumos sintéticos por insumos orgânicos ou que utilize práticas de monocultura e confinamento animal, sem considerar aspectos de promoção da biodiversidade e do bem-estar animal (questões intimamente ligadas a qualidade do alimento orgânico) não merece o rótulo de alimento orgânico, mas conhecendo o cenário de produção orgânica nos EUA essas questões devem nos preocupar e são relevantes.

Para manter a responsabilidade de promover a saúde social, a AO precisa realmente assumir as discussões referentes à reforma agrária, desenvolvimento rural sustentável, reformas políticas da agricultura e valorização da agricultura familiar para evitar a formação de um agriorganic business socialmente excludente, como aponta o agrônomo Dr. Wilson Schmith da UFSC.

De forma a ampliar o conceito de saúde ambiental, a AO vai precisar rever o contexto de produção local de alimentos e levar em conta a necessidade de desenvolver embalagens coerentes para seus produtos, rever o uso de energia à base de petróleo durante a produção e os gastos energéticos para produzir alimentos.

Nos EUA, sete a dez calorias de combustível fóssil são usadas para produzir uma cal de energia alimentícia. 1/5 dessas dez calorias são utilizadas na produção e o restante vai para o beneficiamento e transporte desses alimentos (inclusive dos orgânicos).

As perguntas que emergem nesse contexto são: Podemos enquadrar tal processo produtivo no conceito de sustentabilidade ambiental?

Um suco de kiwi orgânico proveniente na Austrália e comercializado na Argentina, que viaja de avião perto de 12.000 km de distância ou um leite produzido localmente, que sai da propriedade rural para o laticínio, viaja longas distâncias para voltar à mesa do consumidor numa embalagem que custa muito cara para ser reciclada, podem ser considerados alimentos sustentáveis do ponto de vista ambiental?

O jornalista Michael Pollan pergunta, preocupado, se “a produção orgânica também vai flutuar num mar de petróleo, prestes a naufragar?”

O alimento local é ajustado ao ecossistema e produzido com menor custo energético e menor uso de insumos, além ser um tipo de “herança cultural” que faz parte de dietas ajustadas à noção de territorialidade dos hábitos alimentares. Em breve esse conceito vai ser difundido e esperamos ver disponível no mercado o alimento local orgânico ou o alimento orgânico produzido localmente. Esse conceito pode ser ampliado para ALIMENTO LOCAL PROVENIENTE DA AGRICULTURA FAMILIAR ORGÂNICA.

É um termo muito grande… grande como o nosso sonho de atingir esse complexo ideal de produção alimentar.

Por fim, a legislação dos alimentos orgânicos ainda vai precisar rever os métodos de processamento a que são submetidos tais produtos para realmente oferecer alimentos saudáveis e equilibrados ao consumidor, promovendo sua saúde. Atualmente a irradiação e o uso de aditivos químicos sintéticos são proibidos, mas o que dizer do impacto de outras técnicas de processamentos utilizadas na indústria alimentar?

Os processos de refinamento de cereais, sal e açúcar, enlatamento de vegetais, esterilização, homogeneização e desidratação de leites são relacionados a modificações na quantidade de fibras e no valor nutricional desses alimentos, (especialmente no que diz respeito à quantidade de minerais e vitaminas, micronutrientes cuidadosamente mantidos durante o manejo de plantas no solo orgânico equilibrado). Além disso, alguns desses processamentos influenciam na biodisponibilidade de nutrientes, degradação protéica, oxidação, rancificação e modificação dos ácidos graxos e gorduras. A formação de substâncias indesejáveis nos alimentos durante alguns processos de industrialização é conhecida. São exemplos a liberação de ácido glutâmico livre, uréia e amônia no processo de desidratação e esterilização de leite, formação de ácidos trans durante a hidrogenação e de radicais livres durante o refinamento de óleos. Uma margarina, um leite desidratado (o esterilizado já está disponível!) ou um óleo vegetal pressurizado a alta temperatura orgânicos podem surgir a qualquer momento para promover os interesses da indústria alimentar, ávida por novidades, e para satisfazer consumidores e especialistas desatentos. E, segundo a legislação vigente tais produtos podem se enquadrar como alimentos saudáveis e de qualidade superior.

A discussão está apenas começando, mas não há dúvidas de que o consumidor vai conhecer um cenário de grandes mudanças no sistema de produção de alimentos. É impossível reverter tal processo que se caracteriza por uma irreversível reflexividade e uma tomada de consciência por parte de leigos e peritos.

É importante ressaltar que os especialistas da área devem estar preparados para fornecer informações atualizadas, corretas e acima de tudo, coerentes.

* Dra Elaine Azevedo é nutricionista especializada em Alimentos Orgânicos; Formada em Nutrição Antroposófica pela Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, mestre em Agroecossistemas pela UFSC e doutora em Sociologia Política pela UFSC. É consultora e ministra aulas em diversos cursos de Agricultura Orgânica e Biodinâmica no país e é autora de dois livros: Alimentos Orgânicos e Trofoterapia e Nutracêutica, um livro com dieta e orientações nutricionais.

Fonte: Portal Orgânico

Nota: É proibida a reprodução deste texto em qualquer veículo de comunicação sem a autorização expressa do autor. Só serão permitidas citações do texto desde que acompanhadas com a referência/crédito do autor.

RIQUEZA VINDA DO DESMATAMENTO SÓ DURA 15 ANOS.

Extraído de: Folha Online
A política atual do governo na Amazônia, especialmente a recente aprovação da Medida Provisória da regularização fundiária, favorece a continuidade do modelo de desenvolvimento que traz riqueza no início e, menos de duas décadas depois, mergulha os municípios na miséria de novo.


A afirmação é de Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Esse modelo, batizado de "boom-colapso", é descrito hoje por Veríssimo e colegas na revista científica "Science".

A pesquisa analisou dados de qualidade de vida de 286 municípios na floresta amazônica.

Constatou que, no curto prazo, o desmatamento realmente melhora o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Porém, os benefícios duram apenas entre 12 e 16 anos --quando acaba a exploração de madeira e a produtividade da pecuária.

Depois desse "boom", o município passa a apresentar índices de qualidade de vida parecidos com os do período anterior ao desflorestamento.

Segundo Veríssimo, para alterar o padrão de economia baseada no uso predatório dos recursos naturais, o governo precisa arbitrar. "Se deixar por conta do mercado, vai se manter o "boom-colapso", porque alguns ganham no curto prazo."

De acordo com ele, a exploração de madeira rende por cerca de dez anos, e a pecuária em área desmatada, que tem solo pobre, por cinco anos.

Em sua opinião, a MP da regularização fundiária --que aguarda a sanção presidencial e não foi objeto do estudo na "Science"-- é um mecanismo que estimula a ocupação de florestas públicas e seu desmatamento. Por meio dela, o governo envia um sinal claro de que tolera a situação.

"O trabalho mostra mais uma vez que o desmatamento não compensa do ponto de vista socioeconômico. Agora, teimosamente, o Brasil vem com políticas que parecem dizer o contrário", afirma. A medida irá permitir que 67,4 milhões de hectares de terras da União na Amazônia -equivalente aos territórios da Alemanha e da Itália somados- sejam doados ou vendidos sem licitação, até o limite de 1.500 hectares.

O grupo internacional de seis pesquisadores analisou os dados de IDH (como expectativa de vida, alfabetização e renda per capita) de municípios que possuem floresta em seu território, com diferentes estágios de desmatamento.

Vários municípios no Amazonas, por exemplo, estão na pré-fronteira de desmatamento. Em situação intermediária está São Félix do Xingu (PA), em que já houve aumento de riqueza por conta do desmate. E Paragominas (PA) está na fase final, pós-fronteira.

O próprio Imazon havia publicado, em 2007, um estudo sobre "boom-colapso". Porém, segundo Ana Rodrigues, autora principal do artigo da "Science", a pesquisa atual refinou a metodologia. "Cada município foi classificado usando informação de imagens de satélite com base na extensão florestal remanescente e na intensidade de desflorestamento. O resultado é uma imagem mais detalhada da trajetória de desenvolvimento humano em relação ao avanço da fronteira."

A pesquisadora, antes na Universidade de Cambridge e hoje no Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva (França), espera que os resultados ajudem a reforçar, não só no Brasil, mas no mundo, "a mensagem de que é necessário um modelo de desenvolvimento diferente para a Amazônia".

Para Veríssimo, cabe ao governo federal subsidiar atividades alternativas ao desmatamento nos municípios.



Autor: AFRA BALAZINA da Folha de S.Paulo

segunda-feira, 8 de junho de 2009

CONSUMIDOR DE MANDIOCA PAGA SEIS VEZES MAIS O PREÇO RECEBIDO PELO PRODUTOR

Os preços da raiz de mandioca subiram 1,5% em maio, na comparação com abril, segundo levantamento realizado com exclusividade pela Natural Comunicação/Sistema de Informações Agroindustriais da Mandioca Brasileira, no interior paulista. O preço médio foi de R$ 1,36/quilo, ante R$ 1,34 no mês anterior. O destaque ficou por conta da grande disparidade de valores encontrada nos supermercados visitados por nossa equipe, em maio. No momento da pesquisa, a raiz era vendida de R$ 0,96/quilo a R$ 1,59/quilo, dependendo do ponto de venda.


No mercado atacadista da Ceagesp, a caixa de 23 quilos da raiz de mesa subiu 2,7% para a mandioca graúda e 7,1% para a mandioca média, na comparação de maio com abril. O preço médio foi de R$ 16,05 e R$ 12,33/caixa, respectivamente.

Os preços da raiz de mesa ao produtor, por outro lado, recuaram cerca de 38% na comparação da média de maio (R$ 5,05/caixa de 23 quilos em Mogi Mirim e Sorocaba) com a média de abril (R$ 8,10/cx), segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Em plena safra, o avanço da colheita da mandioca pressiona fortemente os valores recebidos pelos produtores, mas ainda não interfere nos preços ao consumidor, que paga caro pelo quilo da raiz.

Se considerarmos o preço de R$ 5,05 pela caixa de 23 quilos, chegamos a um preço por quilo equivalente a R$ 0,22, o que indica que o consumidor paga seis vezes mais (R$ 1,36) pelo quilo da raiz de mesa do que o valor que o produtor recebe por sua venda.

No varejo, as farinhas cruas secas finas tipo 1 e 2 registraram queda, enquanto as torradas tiveram aumento ou queda, dependendo da especificação (tipo e embalagem). No atacado, o comportamento dos preços também não foi padrão, registrando alta ou baixa dependendo da fonte consultada. Veja as tabelas de preços para mais informações.

O consumidor de farofas temperadas, por sua vez, se deparou com preços mais altos em todas as categorias encontradas nos supermercados visitados, em maio. A embalagem com 50g subiu 30,3%, sendo cotada em média a R$ 1,29. A embalagem com 300g subiu 12,2%, ficando na média a R$ 2,48. Destaca-se, aqui, a significativa diferença de preços observada para uma mesma marca em pontos de venda diferentes. A farofa temperada Yoki Suave, por exemplo, custava de R$ 1,88 a R$ 3,25/pacote de 300g, dependendo do supermercado.

A fécula e seus derivados apresentaram preços menores no varejo em maio, na comparação com abril. O polvilho doce recuou 16,9%, para a média de R$ 2,26, e o azedo recuou 3,5%, para R$ 2,48, ambos em pacote com 500g. O consumidor podia optar, neste caso, por marcas que representavam mais economia (como as marcas próprias, oferecidas a R$ 0,99 tanto para o polvilho doce quanto para o azedo) como por marcas tradicionais, como a Yoki, vendida a R$ 3,09 (polvilho doce) e a R$ 3,39 (azedo) – uma diferença que chega a 242%.

A tapioca granulada caiu 8,9% e o sagu, por sua vez, subiu 16,4% nos supermercados do interior paulista acompanhados por nossa equipe.

Os pães-de-queijo, disponíveis aos consumidores em diversas opções (tamanhos, embalagens, sabores, etc), tiveram preços médios mais altos em maio, segundo pesquisa do Mandioca Brasileira. Ressalta-se, ainda assim, que um dos supermercados visitados estava com a maioria dos seus pães-de-queijo em promoção, atraindo os consumidores à compra.

Segundo a Bolsa de Cereais de São Paulo, as indústrias receberam pela fécula preços praticamente estáveis em maio, na comparação com a média de abril. No Sul Catarinense, os preços da fécula à indústria e no atacado também ficaram estáveis em relação ao mês anterior, segundo o Cepa/Epagri. A instituição catarinense informa que na região de Rio do Sul o preço às fecularias diminuiu 9,5% em maio, mas no atacado seguiu estável. O Cepea/Esalq/USP também indica preços em queda (máximo de -2,1%) para a fécula em maio, em todas as praças pesquisadas, exceto Ivinhema/MS.

Na seção Cotações, veja as tabelas de preços completas para o varejo e demais segmentos de mercado.

Desempenho das vendas dos supermercados

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou no último dia 28/maio que as vendas reais dos supermercados subiram 16,9% em abril deste ano, na comparação com igual mês de 2008, sobretudo por causa da Páscoa. Em relação a março deste ano, as vendas subiram 6,6%, enquanto no acumulado do ano até abril a alta foi de 5,7%. Esses números estão deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A Abras divulgou também o índice de volume de vendas, que cresceu 0,7% no primeiro quadrimestre.

Em coletiva à imprensa, a entidade destacou a retomada do faturamento em nível mais alto, mesmo crescendo em ritmo inferior ao do ano passado. Segundo a Abras, trata-se de um bom desempenho, levando-se em conta o cenário econômico mundial. "Temos de aguardar os resultados de maio e junho, mas é bem possível crescer próximo a 5% este ano", disse o presidente da associação, Sussumu Honda, acrescentando que a percepção preliminar é de que as vendas estarão aquecidas em maio. A projeção oficial da instituição, informada em janeiro, é de alta de 2,5% no faturamento real dos supermercados em 2009, em relação ao ano passado, segundo a Agência Estado.

De acordo com ele, as principais razões do otimismo encontram-se na manutenção do rendimento médio dos trabalhadores, o maior consumo das famílias nos lares e o processo de estabilização dos preços. "Um dos efeitos da crise foi que as pessoas deixaram de frequentar restaurantes e passaram a comprar mais nos supermercados para se alimentar em casa".

Redação e edição: Mariana Perozzi

domingo, 7 de junho de 2009

NÃO HÁ INTEGRAÇÃO GLOBAL SEM AGRICULTURA

Por Pascal Lamy*

Todos poderíamos nos colocar de acordo sobre quais são os objetivos básicos que buscamos para nossos sistemas agrícolas. Queremos suficientes alimentos, forragens e fibras – e alguns, inclusive, querem combustíveis –, produtos nutritivos, seguros e ao alcance dos consumidores, e um decente e cada vez melhor nível de vida para nossos agricultores. Também queremos sistemas de produção em sintonia com as culturas locais e que respeitem o meio ambiente em todo o ciclo produtivo. Porém, ainda não estamos de acordo quanto à contribuição que a integração global pode dar a este processo.

A integração global permite pensar na eficiência além dos limites nacionais e conseguir avanços em nível mundial mediante a escolha dos lugares mais adequados para a produção agrícola. Enquanto alguns países dispõem de territórios férteis, agraciados pela luz do Sol e por fontes de água doce, outros ficam em territórios inóspitos e áridos. Como costumo dizer, se um país como o Egito pretende a autossuficiência agrícola precisará de mais de um rio como o Nilo. Isso significa, basicamente, que a integração global deve permitir que os alimentos sejam transportados dos países onde são produzidos de modo eficiente para nações onde há demanda por esses produtos.

Apesar desta realidade, os países não chegam a um acordo quanto a tratar a agricultura como um objeto de comércio, como uma camisa, sapatos ou pneus, e se deve ir para o mesmo regime comercial. Daí a especificidade do tema agrícola no regulamento da Organização Mundial do Comércio (OMC). A agricultura fez sua entrada neste regulamento cerca de 50 anos depois dos bens industriais e foi colocada em uma posição diferente. Por exemplo, os subsídios às exportações, que estão proibidos para os bens industriais, na área da agricultura ainda devem ser eliminados progressivamente por meio das negociações mundiais da Rodada de Doha.

Enquanto a média ponderada das tarifas alfandegárias para os bens industriais no comércio internacional é de aproximadamente 8%, na agricultura é de 25%. Esta diferença fundamental ganhou uma dimensão diferente na crise alimentar do último ano. Alguns países começaram a olhar mais para dentro e adotaram numerosas restrições às exportações. Outros começaram a olhar para o exterior, muito mais do que até então, em busca de sua segurança alimentar, em perigo por sua dependência das importações. Entretanto, nos dois casos a preocupação era a mesma: a fome.

O comércio internacional não foi a fonte da crise alimentar do ano passado. Em todo caso, o comércio internacional reduziu o preço dos alimentos através dos anos, graças a uma maior competitividade e ao aumento do poder aquisitivo dos consumidores. Apesar da falta de uma visão compartilhada sobre política comercial agrícola, o mundo está se movendo na direção correta. Isto não significa, naturalmente, que nossa tarefa esteja cumprida. Entre 2000 e 2007, as exportações agrícolas dos países em desenvolvimento para as nações desenvolvidas cresceram à razão de 11% ao ano, ou seja, mais rapidamente do que o aumento de 9% dos fluxos comerciais na direção oposta.

Esta tendência se dirige à correção de desequilíbrios históricos e ao nivelamento do campo de jogo do comércio internacional. A competitividade internacional do mundo em desenvolvimento em matéria agrícola está se convertendo em uma inegável realidade. Hoje, o mundo em desenvolvimento é o número um em rendimento de quilos por hectare em açúcar de cana e de beterraba, arroz, trigo, milho e outras matérias-primas. Embora devamos chegar a um acordo sobre uma visão comum para a política comercial agrícola, o progresso feito pelo mundo neste setor é importante.

A integração global que estimulou o crescimento econômico e levou a avanços na eficiência deve continuar. Por que, então, há certo ressentimento em relação à abertura comercial? Para mim, a resposta é clara. Porque ainda temos de construir fortes redes de segurança para os pobres do mundo. Todos os governos devem prestar atenção a esta questão. Na falta dessas redes, sempre haverá ressentimentos em tempos de crise quando se exporta as reservas de alimentos de um país.

A política comercial não pode por si mesma responder a todos os desafios que se apresentam à agricultura. Porque, no final das contas, o comércio não passa de uma simples correia de transmissão entre oferta e demanda. E tem de funcionar com pouco atrito. Além disso, é apenas um dos elementos de uma máquina muito mais complexa.

sábado, 6 de junho de 2009

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

O anúncio das verbas destinadas aos setores de agronegócio e agricultura familiar, para os anos de 2009 até 2010, apontou uma profunda diferença entre os investimentos. O agronegócio brasileiro receberá R$ 93 bilhões, mais de seis vezes o valor destinado à agricultura familiar – que foi de R$ 15 bilhões. O destino e a quantidade das verbas geraram reação negativa de organizações do campo.

A Via Campesina – organização que reúne movimentos sociais de quatro continentes – acredita que o agronegócio significa um ataque à soberania alimentar dos países. Para o movimento, o Brasil tem investido em um modelo ultrapassado, com a conivência do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

Em entrevista à Radioagênca NP, a integrante da Via Campesina, Maria Costa, fala sobre os impactos das políticas brasileiras para o campo.

Radioagência NP: Maria, qual a leitura que a Via Campesina faz do agronegócio no Brasil?

Maria Costa: É um projeto que tem causado bastante transtorno para o povo brasileiro. Nós temos no país um quadro onde 200 hectares de soja empregam apenas uma pessoa. Há uma falácia que o setor do agronegócio contribui para o desenvolvimento do país. A agricultura camponesa, familiar e a reforma agrária são os setores no campo que geram o maior número de empregos por área.

RNP: O que você tem a dizer sobre os atuais números das verbas liberadas para o financiamento do agronegócio e da agricultura familiar?

MC: Nós somos responsáveis por mais de 70% da produção de alimentos neste país. Passar R$ 93 bilhões de reais para o agronegócio, que continua endividado, gerando despesas mesmo recebendo um volume de subsídio enorme do Estado brasileiro, é preocupante. Isso significa que vamos continuar por um caminho que a história está mostrando que não está certo. Em contrapartida, R$ 15 bilhões, para nós, continua sendo extremamente pouco. A diferença entre o que foi investido na agricultura camponesa, o ano passado, e o que foi investido no agronegócio e o que foi investido esse ano, aumentou consideravelmente. Ano passado, tivemos R$ 13 bilhões e eles, R$ 65 bilhões. Se continuarmos neste caminho, não sabemos onde o Brasil vai parar.

RNP: O ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, declarou que o agronegócio está tendo o papel de segurar os efeitos da crise no Brasil, sendo responsável por uma balança comercial favorável. Como a Via Campesina avalia o posicionamento do ministro?

MC: O ministro Reinhold Stephanes está defendendo o público dele. Nós discordamos dessas defesas, porque o que o agronegócio representa na balança comercial ignora os grandes desastres e aquilo que a sociedade brasileira, principalmente na questão ambiental e social, tem pagado para o que ele representa. Com a crise mundial, não podemos deixar de computar essas questões.

RNP: Qual agravamento no campo que a Via Campesina visualiza com a atual crise mundial, em relação com o agronegócio?

MC: A crise traz a responsabilidade de garantir comida para os mais afetados por ela, e isso não aparece nos dados na balança comercial que ele apresenta. Teremos um acirramento da produção de alimentos, pois os dados que vemos mostra que até 2050 teremos praticamente a mesma área plantada com um aumento de 30% da população mundial, ou seja, uma área esgotada por essa demanda de alimentos para a humanidade. Isso significa – e o ministro Stephanes tem que ter esse olhar - que se não investirmos em um modelo que garanta a produção de alimentos para esta demanda, ou estaremos seriamente comprometidos. Eles [setores do agronegócio e Ministério da Agricultura] não querem discutir, por exemplo, a revisão dos índices de produtividade, com resistência até do Ministério da Agricultura, e enquanto não fizermos isso, não vamos avançar neste país.

RNP: Esta política para o campo brasileiro agrava a questão ambiental no país?

MC: Está sendo colocada a responsabilidade ambiental em função desses desastres que estão acontecendo – seca no Sul, enchente no Norte e Nordeste – que vai trazer, inclusive para os programas sociais do governo, um problema sério pra questão dos alimentos e de leite. A questão ambiental tem que ser tratada com muito mais responsabilidade, pois o aquecimento global não é “estória da carochinha”, é um fato concreto. As secas no sul e enchentes no Nordeste são provas disso. O Brasil será seriamente afetado daqui para frente, e temos visto é que o agronegócio se mostra insustentável ambientalmente. O ministro Stephanes precisa ter responsabilidade com esses números, pois R$ 93 bilhões nas mãos de quem vai continuar desmatando, poluindo e colocando veneno no solo e na água, é uma responsabilidade a ser assumida pelo Ministério da Agricultura, que defende esse modelo e também por aqueles que o aplicam na ponta.

De São Paulo, da Radioagência NP, Ana Maria Amorim.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

NOVA MANDIOCA JARI TEM ALTO TEOR DE BETACAROTENO

(01/06/2009) Da Redação

Unidades da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas – BA) e a Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju – SE) lançam na terça-feira (02/06) a mandioca de mesa BRS Jari. Fonte de energia, a nova raiz tem mais betacaroteno (precursos da vitamina A), um micronutriente importante para a saúde dos olhos.

O lançamento se dará dentro da agenda da III Reunião Anual de Biofortificação no Brasil (www.cpatc.embrapa.br/biofortbrasil/) entre os dias 31 de maio a 5 de junho, em Aracaju (SE). No mesmo dia, manivas de Jari serão distribuídas aos agricultores presentes na Estação Experimental da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Nossa Senhora das Dores (SE).

A nova raiz é parte do Projeto de Melhoramento de Mandioca para Biofortificação que tem como metas enriquecer as raízes com altos teores de betacaroteno, baixar os teores de ácido cianídrico (que altera o pH do sangue) e aumentar a qualidade para consumo fresco no Nordeste brasileiro, pois segundo a pesquisadora Wania Fukuda, responsável pelo projeto, é uma alternativa para minimizar o déficit de vitamina A nas populações carentes.

As primeiras variedades geradas pelo programa, BRS Dourada e BRS Gema de Ovo, tinham metade dos teores presentes na cultivar Jari, que tem cerca de 9 microgramas/grama de betacaroteno nas raízes frescas. O objetivo é alcançar 15 microgramas/grama com boa qualidade para o consumo de mesa e boas características agronômicas.

“Com os diversos cruzamentos convencionais realizados, o programa conseguiu elevar em 100%, no período de três anos, os teores de betacaroteno, associados a baixos teores de ácido cianídrico das raízes, o que permite maior retenção e aproveitamento da vitamina A disponível”, diz a pesquisadora.

A Jari tem polpa amarelada é pouco fibrosa e consistente. Seu tempo de cozimento é igual a 25 minutos. As raízes têm características ideais de tamanho e forma para comercialização. “O consumidor prefere aipim com raízes curtas, de 20 a 30 centímetros, com é o caso da Jari”, explica Wania Fukuda.

O plantio da Jari deve ser feito no início das chuvas utilizando manivas selecionadas de 20 centímetros de comprimento e o campo deve ser mantido limpo por no mínimo 120 dias após o plantio. A cultivar é recomendada para colheitas entre 10 a 12 meses após o plantio. Com o uso de adubação e irrigação, a colheita pode ser feita a partir dos seis meses de idade. A nova variedade foi testada no Recôncavo Baiano (em Cruz das Almas e Santo Amaro/BA), nos Tabuleiros Costeiros de Sergipe (em Umbaúba) e em Pacajus (CE