quarta-feira, 18 de novembro de 2009

METADE DO MILHO BRASILEIRO PODE SER TRANGÊNICO EM 2010

Amigos leitores,

vejam como a ciência anda rápido.

O debate sempre será o lucro pelo lucro e não a questão da sustentabilidade ou da segurança alimentar.

As modificações genéticas estão sempre pautadas no economico, garantir mais lucratividade para o agronegócio e gera divisas.

Veja esse artigo abaixo, os argumentos usados pelo pesquisador para o uso indiscriminda das semente trangênicas no Brasil.


Herton Escobar escreve para "O Estado de SP":


O milho que vai brotar no Brasil em 2010 terá algo de diferente. Especialmente para as lagartas. A expectativa é que mais da metade das plantas já serão geneticamente modificadas, com um gene embutido em seu DNA que as tornará resistentes ao ataque desses insetos. A safra de verão, que está sendo plantada agora, deverá ser 30% transgênica e a próxima, de inverno, 53%, segundo estimativas da consultoria Céleres.


Na safra anterior - primeira em que o milho transgênico pôde ser plantado legalmente no Brasil - a taxa de adoção foi de 19%. "A velocidade com que essa tecnologia está sendo adotada é surpreendente", avalia o economista José Maria da Silveira, professor da Universidade Estadual de Campinas e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, ONG ligada ao agronegócio.


"Quem plantou uma vez vai plantar de novo", diz o agricultor João Carlos Werlang, presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). Ele mesmo conta que plantou 40 hectares com transgênicos na safra passada, "só para experimentar". Este ano, vai plantar 250 hectares - a fazenda inteira. "O rendimento foi muito melhor do que com o milho convencional", afirma Werlang. "E o manejo é muito mais simples. Dá uma tranquilidade danada."


Onze tipos de milho transgênico já foram aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) desde 2007, mas só um tinha sementes disponíveis no mercado para a safra passada: o MON 810, da empresa Monsanto. Ele traz em seu DNA um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), responsável pela síntese de uma proteína que é tóxica para certos tipos de lagarta que atacam a lavoura - porém inofensiva para o homem e outros animais. Assim, a planta produz seu próprio inseticida orgânico. Quando a larva tenta se alimentar do milho, ela morre, reduzindo a necessidade de pesticidas químicos.


"A semente transgênica é mais cara, mas acaba compensando porque você usa menos inseticida", diz Werlang, cuja fazenda fica nos arredores de Brasília. A média na região, segundo ele, é de seis a oito aplicações de inseticida por plantio. Com o milho transgênico, ele acha que pode chegar a zero. "No ano passado eu fiz uma aplicação só por desencargo de consciência, mas nem precisava. O transgênico daria conta sozinho."


Outros dois milhos transgênicos estão disponíveis para esta safra: o Bt 11, da Syngenta, e o Herculex, da DuPont/Dow. Também foi aprovado recentemente o milho Bt11xGA21, da Syngenta, o primeiro que combina dois genes em uma mesma planta: um de resistência a lagartas e outro, de tolerância ao herbicida glifosato. Isso permite que o produto seja aplicado sobre toda a lavoura para o controle de ervas daninhas, sem prejudicar o milho.


Nos Estados Unidos, 85% do milho plantado já é transgênico, com várias combinações de genes. Na Argentina, 60%.


No caso da soja, a previsão da Céleres é de que a porção de transgênicos na produção brasileira aumente de 65% na safra passada para 71%, na safra 2009-10. A soja transgênica é plantada legalmente no país desde 2003 e ilegalmente, desde o fim da década de 90, com sementes inicialmente contrabandeadas da Argentina.


A única tecnologia disponível é a Roundup Ready (RR), da Monsanto, cuja liberação comercial no país foi bloqueada durante cinco anos - entre 1998 e 2003 -, por causa de ações judiciais movidas por organizações ambientalistas e de defesa do consumidor. Outras quatro variedades estão sendo avaliadas pela CTNBio, incluindo uma desenvolvida em parceria pela Embrapa e a Basf.


A soja RR tem o gene de uma bactéria que a torna resistente ao glifosato. No Rio Grande do Sul, onde o problema com ervas daninhas é mais grave, a adesão aos transgênicos é de quase 100%. Já em Mato Grosso, a soja convencional ainda é a mais plantada. A parcela de transgênicos no Estado foi de 42% na safra passada e poderá chegar a 48% neste ano, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).


A preferência deve-se a dois fatores, segundo o diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Marcelo Monteiro. Um é a falta de variedades transgênicas bem adaptadas ao clima do Estado, onde a soja convencional é extremamente produtiva. Outro é a estratégia comercial de algumas empresas de produzir soja convencional para suprir nichos de mercado na Europa.


É o caso do Grupo André Maggi, que "reservou" uma rota de escoamento e uma região inteira no oeste do Estado só para a produção de soja convencional. A empresa faz parte da recém-criada Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange). "Não somos contra a tecnologia de forma alguma, desde que se respeite o direito do produtor de plantar o que quiser e o do consumidor, de comprar o que quiser", diz o engenheiro agrônomo Ivan Paghi, diretor técnico da Abrange.

(O Estado de SP, 15/11)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MONSANTO ANUNCIA REPASSE DE R$ 8,3 MILHÕES PARA PROJETOS DE PESQUISAS DA EMBRAPA

Oito projetos de pesquisa da Embrapa, todos de biotecnologia voltados para a agricultura nacional, serão beneficiados com recursos, a título de royalties, destinados pela Monsanto. Entre as pesquisas beneficiadas estão o desenvolvimento de recursos genéticos de cereais adaptados à seca, de planta transgênica de feijão tolerante ao estresse hídrico, geração de mamoeiro resistente a múltiplas viroses e estudos envolvendo o bicudo do algodoeiro.

O anúncio foi feito hoje (4 de novembro), em cerimônia na sede da entidade, em Brasília (DF), com o repasse, por parte da Monsanto, de R$ 8,3 milhões para o Fundo de Pesquisa Embrapa e Monsanto. Os valores são oriundos do compartilhamento dos direitos de propriedade intelectual, a título de royalties, sobre a comercialização de variedades de soja da Embrapa com a tecnologia Roundup Ready® na safra 2008/2009. Os recursos serão aplicados em projetos de pesquisa da Embrapa (mais detalhes abaixo), escolhidos por meio de um comitê gestor do Fundo de Pesquisa que a Monsanto mantém em parceria com Embrapa.

De 2006 até este ano a Monsanto já repassou ao Fundo de Pesquisa aproximadamente R$ 20 milhões que beneficiaram dezenas de projetos em biotecnologia de diversas unidades da Embrapa.

O vice-presidente de Negócios da área Internacional da Monsanto Company, Jesus Madrazo, veio ao Brasil para prestigiar o evento. Para ele, esta parceria com a Embrapa abre caminho para o desenvolvimento de outras tecnologias que podem resultar em aumento de produtividade para os agricultores. A iniciativa também apóia projetos que podem tornar a agricultura mais sustentável. “Por conta das demandas agrícolas crescentes, é preciso um esforço conjunto para que possamos produzir mais e conservar mais. Estamos otimistas que, em parceria com clientes, políticos, cientistas, organizações não-governamentais, acadêmicos e indústria, podemos tornar a agricultura mais sustentável.”

De acordo com André Dias, presidente da Monsanto do Brasil, esta parceria com a Embrapa confirma o compromisso da empresa com a agricultura e os produtores. “Nossos investimentos para a agricultura estão voltados no desenvolvimento de tecnologias agrícolas que possam aumentar a produtividade, preservando os recursos naturais e que proporcionem melhora na vida dos agricultores. Em alinhamento a esse foco, sentimos um imenso orgulho em termos como parceiros a Embrapa, referência mundial no desenvolvimento de pesquisas agrícolas”, afirma o executivo.

Para a Embrapa, a parceria com a Monsanto é estratégica. “Acordos como este, com foco na pesquisa agrícola e inovação, são fundamentais, e estão alinhados com as prioridades do governo, no sentido de reunir os setores público e privado no enfrentamento do desafio global de aumentar a produtividade agrícola de maneira sustentável”, completa o diretor-presidente da Embrapa, Pedro Antônio Arraes Pereira.

Projetos contemplados

Os recursos irão contemplar os seguintes projetos de pesquisa da Embrapa:

- Expressão de genes envolvidos com a resposta ao estresse hídrico em plantas transgênicas de feijoeiro, com recursos de R$ 447 mil. O objetivo é a obtenção de plantas transgênicas de feijão tolerantes à seca, por meio da expressão de um gene isolado da soja e outro da mamona. As plantas de feijão transgênico obtidas com expressão desses dois genes poderão ser tolerantes a outros tipos de estresse.

- Plataforma tecnológica para a expressão e produção de proteínas recombinantes em plantas, com R$ 690 mil. A ideia é desenvolver uma plataforma, a partir da parceria entre a Embrapa, o Ludwig Institute for Cancer Research, o New York Branch of Human Câncer Immunology at memorial Sloam-Ketting Cancer Center Research e o National Institute of Health (NIH), instituições consideradas referências nacionais e internacionais na área de clonagem de genes, transgenia, produção de biomoléculas e imunologia. O foco de atuação da plataforma será a expressão e a produção de proteínas de interesse da área médica e da agricultura em plantas como soja, por exemplo.

- Fenotipagem, avaliação de mecanismos de tolerância e associação genômica aplicadas ao desenvolvimento de recursos genéticos de cereais adaptados à seca, com R$ 3,3 milhões. O trabalho terá como objetivo identificar e caracterizar recursos genéticos e mecanismos fisiológicos e moleculares de tolerância à seca em arroz, milho, trigo e sorgo, avaliados em condições de campo. O desenvolvimento de cultivares tolerantes às limitações hídricas será uma alternativa sustentável para minimizar os impactos negativos das mudanças climáticas globais.

- Estudo do transcritoma do Bicudo do Algodoeiro (Anthonomus grandis) e da Broca Gigante (Telchin licus licus) para avaliação de genes candidatos a silenciamento por RNAi, com R$ 448,5 mil. O projeto buscará, por meio da transgenia de plantas, o controle dessas duas importantes pragas que afetam a agropecuária nacional.

- Desenvolvimento de estratégia baseada em RNAi para geração de mamoeiro resistente a múltiplas viroses, com R$ 450 mil. Este projeto visa ao desenvolvimento de novas linhagens de mamoeiros resistentes simultaneamente aos vírus da mancha anelar, do amarelo letal e o da meleira (principais doenças da cultura) utilizando ferramentas da biotecnologia. A produção de cultivares de mamoeiros resistentes à infecção por esses vírus é a opção mais promissora e desejável para ser utilizada em um manejo integrado de pragas.

- Aperfeiçoamento do sistema de manejo de Diabrotica spp. nas culturas do milho e batata, com R$ 443,9 mil. A Diabrotica speciosa é um inseto-praga que afeta diversas culturas no Brasil e que ocorre praticamente em todos os estados brasileiros e em vários países da América do Sul. A transferência de genes exógenos para espécies de plantas cultivadas a partir das novas técnicas de engenharia genética propiciou o desenvolvimento de cultivares resistentes a insetos. Os genes para resistência a insetos mais conhecidos e estudados até o momento são os que expressam as proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Serão criados métodos de estudo e manejo para os organismos geneticamente modificados (OGM), como monitorar em laboratório as populações de insetos quanto à suscetibilidade ao produto comercial.

- Caracterização morfológica e molecular de populações de Noctuideos e determinação da suscetibilidade a inseticidas e toxinas de Bacillus thuringiensis, com R$ 217 mil. Para combater o aparecimento simultâneo de espécies de lagartas na cultura da soja produtores rurais têm-se utilizado cada vez mais de inseticidas químicos de amplo espectro (piretróides, organofosforados e carbamatos), o que tem restringido o uso de produtos de maior seletividade (por exemplo, o vírus AgMNPV da lagarta-da-soja e Bacillus thuringiensis). O incremento da utilização de piretróides e alguns organofosforados tem ocasionado aumento das populações de outras pragas, como, por exemplo, ácaros, dificultando o manejo adequado das pragas da soja. Portanto, o monitoramento é essencial nos programas de manejo de pragas para verificar se a ineficiência do controle químico é devida à seleção de genótipos resistentes ou ainda determinar a condição real da resposta das populações geográficas a um inseticida (ou toxina) e definir se existe a necessidade de modificar as táticas de manejo.

O restante da verba será direcionado ao aporte no Programa de Desenvolvimento de linhagens de soja geneticamente modificadas com os genes Bt e RR2, concomitante à elaboração de um programa de contenção e rastreamento – “Stewardship”, já em execução pela Embrapa Soja, com R$ 1,1 milhão, e para o gerenciamento e acompanhamento das atividades voltadas à execução dos trabalhos.
As informações são de assessoria de imprensa

REFORMA AGRÁRIA É ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

Em tempos de ataques da mídia e dos setores mais conservadores do parlamento ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, afirma que repartir a propriedade da terra assumiu valor de soberania nacional e defesa do meio ambiente.
Nonato de Vasconcelos (AGU)

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, defendeu a reforma agrária como elemento central na configuração de um novo padrão econômico de soberania nacional. O economista participou do seminário Incra 40 anos: Reforma Agrária, Direito e Justiça, na última sexta-feira (16), em Recife (PE).

Ele afirmou que o programa de reforma agrária é um antídoto contra a desnacionalização da propriedade da terra no Brasil, que está ameaçada pela imposição econômica das grandes corporações multinacionais, que, segundo ele, governam a economia no mundo.

Pochmann explicou que o faturamento dos 500 maiores grupos econômicos representa metade de tudo o que é produzido no planeta, sob hegemonia do poder privado. “Nós estamos em um contexto onde não há mais países que tem empresas, mas empresas que tem países. As 50 maiores corporações do mundo têm um faturamento que equivale ao PIB [Produto Interno Bruto] de 120 países”, apontou.

Em relação ao capital estrangeiro atuando sobre o poder político, o presidente do Ipea exemplificou: “é um contexto parecido com aquela pequena cidade de cinco mil habitantes que, de repente, vê lá instalada uma siderurgia, que contrata mais de três mil pessoas e até viabiliza o orçamento da prefeitura, mas ao fim e ao cabo vamos questionar se quem manda na cidade é mesmo o prefeito democraticamente eleito ou o presidente da siderurgia”.

Soberania e meio ambiente

Para Pochmann, a mudança na estrutura fundiária é fundamental para o projeto de soberania nacional, porque é uma decisão sobre o poder econômico das corporações no país. Ele denunciou um processo de internacionalização da propriedade da terra no Brasil, que ganha corpo no cenário de crescente escassez de terras férteis, água doce e minerais.

Além disso, Pochmann avaliou a reforma agrária como estratégica para a defesa do meio ambiente. “A reforma agrária ganha outra dimensão, que é a defesa da sustentabilidade do planeta. A produção definida exclusivamente pelo poder econômico será cada vez mais insustentável. Portanto, a alteração fundiária ganha dimensões adicionais, não apenas o princípio da justiça, econômico e da política, mas, sobretudo, da estratégia de soberania de uma nação e da sustentabilidade ambiental”, destacou.

Ainda segundo Pochmann, que também é professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a história do Brasil foi marcada pelas sociedades agrária e urbano-industrial até o fim do século passado sem que fosse alterada sua estrutura agrária. Ele condenou o processo de concentração de terras e afirmou ser preciso reocupar o campo. “A reforma agrária está no contexto de um novo padrão econômico que defendemos para o país. O campo sofreu uma trajetória de esvaziamento que aumentou a pobreza e a exclusão nas cidades”, finalizou.

Da redação, com assessoria de imprensa

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=118011&id_secao=8