quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

FINACIAMENTO AO MÉDIO PRODUTOR AUMENTOU 500%





A aplicação de recursos do Programa de Geração de Emprego e Renda Rural - Proger Rural totalizou R$ 1,38 bilhão, de julho a novembro de 2009, contra R$ 230 milhões investidos no mesmo período de 2008, segundo dados divulgados semana passada pelo Ministério da Agricultura, sendo que o maior crescimento foi verificado entre os médios produtores rurais, cuja tomada de crédito foi 500% superior ao da safra passada.

O resultado se deve à decisão do governo federal de ampliar o Proger Rural para que atendesse o maior número de beneficiários na safra 2009/2010. O volume de recursos programado para este período atinge R$ 5 bilhões, representando 72% a mais que na safra anterior e com estas modificações, o programa oferece condições efetivas para esse agricultor crescer e ampliar a produção. "O médio produtor rural gera renda e empregos no campo", explica ele.

O limite de financiamento pode ser elevado em 15% se o beneficiário comprovar, por exemplo, a existência de reservas legais e áreas de preservação permanente previstas na legislação ou apresentar plano de recuperação aprovado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Ibama ou Ministério Público Estadual. Ou ainda se participar do Sistema Agropecuário de Produção Integrada (Sapi) e possua certificação da sua produção concedida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), entre outros.

O prazo para reembolso do custeio agrícola é de até dois anos, conforme o ciclo de cada safra; o de custeio pecuário é até um ano; e o de investimento, até oito anos, incluindo três anos de carência.


Referência

Um dos principais objetivos do Plano Agrícola e Pecuário 2009/2010 foi justamente fortalecer o apoio aos médios produtores. Entre as medidas de incentivo à classe média rural estão:

- ampliação dos limites de financiamento para custeio de R$ 48 mil para R$ 250 mil (e o de investimento para R$ 200 mil)

- criação de nova modalidade de crédito rotativo (R$ 50 mil)

- duplicação do limite de renda bruta anual para enquadramento do beneficiário (passando de R$ 250 mil para R$ 500 mil)

- criação da subexigibilidade de 6% sobre depósitos à vista dos bancos, garantindo recursos para os agricultores.



Beneficiados -

Os beneficiários podem ser proprietários rurais, posseiros, arrendatários ou parceiros, cuja renda seja originaría, no mínimo em 80% de sua atividade agropecuária ou extrativa vegetal. Também houve alteração no cálculo da renda bruta, levando em conta a atividade do produtor, de forma que um percentual de desconto, o rebate, seja aplicado conforme determinado setor.

Os percentuais de rebate são de 20% para ovinocaprinocultura, aquicultura, sericicultura, fruticultura, cafeicultura e cana-de-açúcar; 40% para olericultura, floricultura, pecuária leiteira, avicultura e suinocultura não integradas; e 80% para avicultura e suinocultura integradas ou em parceria com a agroindústria.

FARINHA DE MANDIOCA TERÁ IDENTIDADE E QUALIDADE REVELADA




O texto que regulamentará o padrão oficial de classificação para a farinha de mandioca, com os requisitos de identidade e qualidade, amostragem, modo de presentação e rotulagem continua em consulta pública por mais noventa dias. A consulta foi aberta dia 12 deste mês e se estende até 12 de abril.

Entre 5 de outubro de 2009 e 5 de janeiro de 2010, a Portaria 347 colocou a proposta de instrução normativa com o regulamento técnico para a farinha da mandioca à disposição do público. Nesse período, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebeu sugestões de usuários do Acre, Paraná, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará e Distrito Federal.

O coordenador-geral de Qualidade Vegetal do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa (DIPOV/SDA), Fernando Penariol, ressalta que o prazo foi prorrogado para que o setor possa enviar mais propostas de mudanças ao texto. “A farinha de mandioca é muito produzida e comercializada no País e apresenta características regionais de grande importância para a economia. Por isso, quanto mais sugestões o Ministério da Agricultura receber, melhor poderá atender aos mercados.”



Produção

De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, a produção brasileira de farinha de mandioca foi de 1,193 mil toneladas. Na época, eram 265 mil estabelecimentos do setor e o Nordeste se destacava como a região com o maior número de agroindústrias rurais, com 77 mil unidades na Bahia e 47 mil no Maranhão, por exemplo. O Pará concentrava 41 mil e Minas Gerais 17 mil.




http://www.dzai.com.br/oimparcial/blog/aquilesemir

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A AGROECOLOGIA EM CUBA

*Ana Margarita González** *

Agencia Prensa Rural

O movimento agroecológico em Cuba é um esteio para garantir a segurança alimentar e substituir quantidades significativas de alimentos, combustíveis, agrotóxicos e adubos químicos. Mais de 110 mil camponeses aplicam essas técnicas em seus cultivos ou na criação de animais, e cerca de 120 mil praticam a agricultura orgânica.

Orlando Lugo Fonte, presidente da Asociación Nacional de Agricultores Pequeños (ANAP), fez essas colocações a Trabajadores (informativo da Central de Trabalhadores de Cuba) na cidade de Güira de Melena, no encerramento do II Encontro Internacional de Agroecologia e Agricultura Sustentável, ao qual assistiram uma centena de estrangeiros e 70 cubanos.

Os delegados constataram os avanços desse movimento nas propriedades e cooperativas de várias províncias do país e ficaram impressionados pelos resultados produtivos, que "não são ainda os ideais, mas são alentadores se comparados com os de dois anos atrás, quando assistiram ao I Encontro", assegurou o dirigente camponês.

"Nós, os cubanos, somos, em todo o mundo, os mais obrigados a desenvolver e estender as práticas da agroecologia e da agricultura sustentável, por que temos um país e uma economia bloqueados há mais de 50 anos e dependemos da importação de grande quantidade de alimentos para manter os níveis adequados de nutrição que a população necessita. Esse tipo de agricultura produz alimentos mais baratos e sãos", assegurou o dirigente campesino.

Lugo Fonte destacou o desenvolvimento inicial da agricultura suburbana, que integrará milhares de camponeses e cooperativistas e que terá como premissa o uso da tração animal e os adubos e pesticidas orgânicos e biológicos.

Informou ainda que este ano deve concluir com a produção de 100 mil toneladas de húmus de minhocas e 150 mil toneladas de adubos orgânicos, números que serão uma garantia para a produção agroecológica. Também comunicou que, em todo o país, há mais de 800 pessoas dedicadas a dar assistência à agroecologia, e que em muitas cooperativas já existem técnicos capacitados para assessorar essa atividade, razão pela qual é factível continuar ampliando essas práticas.

Peter Rosset, especialista da organização internacional Via Campesina, afirmou que Cuba é um farol do movimento agroecológico mundial, por que percebeu precocemente a necessidade de colocar a família camponesa como protagonista das transformações de sua própria realidade.

O pesquisador norte-americano defende a teoria de substituir o uso de produtos químicos e a mecanização nos processos agropecuários, pelos danos irrecuperáveis que causam aos solos, ao meio ambiente e conseqüentemente ao ser humano. Reconheceu a dinâmica alcançada pelos agricultores cubanos para reverter essa política, e a integração com os centros científicos de pesquisa para enfrentar desafios maiores.

http://www.prensarural.org/spip/spip.php?auteur956

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

OS DASAFIOS DA AGRICULTURA FAMILIAR

Dentre as políticas públicas priorizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) nos últimos anos, certamente o incentivo à agricultura familiar ganha destaque. Dentro dessa linha, em junho de 2009, o governo federal sancionou uma lei que estabelece que um mínimo de 30% dos recursos disponíveis para compra de alimentos da merenda escolar seja proveniente da agricultura familiar, priorizando assentamentos de reforma agrária e comunidades indígenas e quilombolas. Apesar disso, quem não é do meio rural desconhece a importância desse segmento, e especialistas apontam desafios que ainda precisam ser vencidos, como a distribuição de renda no campo e fixação do pequeno agricultor, a universalização do crédito e a transferência de tecnologia às propriedades familiares.

De uma forma geral, a parcela da população urbana é pouco informada sobre o papel da agricultura familiar em suas vidas, quais nichos ela vem ocupando, principalmente no abastecimento interno, e qual a sua importância social. Entretanto, dados do MDA indicam que 70% de alimentos consumidos no Brasil são provenientes da agricultura familiar, que participa de 9% do produto interno bruto (PIB) do país, ou seja, um terço do agronegócio brasileiro. Mesmo assim, especialistas acreditam que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados para a preservação da agricultura familiar pelo país.

Para o professor Manoel Baltasar Baptista da Costa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a agricultura familiar assume a importância fundamental de empregadora de uma considerável parcela da população rural. “A questão mais séria é a de geração e distribuição de ocupação e renda”, explica Baltasar. Além disso, segundo ele, em alguns países da Europa, a agricultura familiar é preservada inclusive na perspectiva cultural, e sua importância transcende fatores puramente econômicos. “Eu acho que não podemos ficar nesse reducionismo do lucro e da escala, mesmo porque essa agricultura do agronegócio está nos levando ao suicídio pelo processo de devastação”, opina.

Outra questão em jogo é o êxodo rural, que mudou a configuração demográfica do país em décadas passadas e ainda hoje é preocupante. Por questões econômicas, muitos jovens agricultores acabam por abandonar as propriedades e migram para as cidades. “O jovem não está ficando. Ele está evadindo, e você vê isso, inclusive, em processos de reforma agrária”, afirma Baltasar. Para o professor da UFSCar, atualmente, a maior causa de evasão de jovens do campo é a baixa renda da produção familiar. “Eu, particularmente, acho que com a baixa qualidade de vida urbana, se na agricultura a renda fosse um pouco maior, existiriam condições de fixar muita gente no campo”, completa.

Para o professor Jalcione Pereira de Almeida, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é necessário política pública consequente, de longa duração e que beneficie esse segmento. “Sem isso, é muito pouco provável que a gente vá conter o êxodo, o abandono e a degradação dessa agricultura”, acredita. Almeida aponta como um dos problemas do setor o fato de que, muitas vezes, mesmo os recursos disponíveis não chegam aos pequenos produtores. “Muitos desses agricultores nunca chegaram na porta de um banco. Então, nesse caso, o banco tem que chegar, a política tem que chegar ao agricultor”, completa.

Segundo Almeida, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), principal linha de crédito oferecida pelo governo federal ao agricultor familiar, muitas vezes não consegue chegar aos agricultores mais isolados no interior do Rio Grande do Sul, que não têm acesso a telefone ou internet. “Eu acho que tem como pensar políticas baseadas no crédito que possam alavancar a produtividade dessa agricultura familiar e viabilizá-la”, conclui.

Além do Pronaf, que disponibiliza até R$ 40 mil por agricultor, existem outras formas de financiamento via governo federal: Microcrédito Rural; Pronaf Mulher, que atende às mulheres agricultoras; Pronaf Floresta nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, para lavouras que planejam desenvolver projetos de sistemas agroflorestais; e auxílio às cooperativas de produção com base na agricultura familiar. O MDA também disponibiliza aos agricultores familiares financiamentos para veículos utilitários e uma política de seguros, através do Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) e do Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF).

Alinhados com os programas de crédito rural do governo, o Banco do Brasil e a Nossa Caixa também oferecem financiamento através do Pronaf, com juros de 1% a 5% ao ano, dependendo da renda e da destinação do recurso, e prazo de pagamento de até 2 anos, além dos financiamentos rurais tradicionais, que oferecem juros de 6,75% ao ano e prazo de pagamento de até 5 anos.

Mas como conciliar a produção com o aumento da demanda mundial por alimentos? Nos últimos anos, o aumento da população mundial e o consequente aumento da demanda por alimentos colocaram a agricultura como uma questão estratégica que vem ganhado ainda mais importância. Para Almeida, da UFRGS, essa questão é enganosa, pois é um problema essencialmente de distribuição do alimento e não de sua produção. “O que adianta aumentar a produtividade na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, se esse aumento de produção vai continuar concentrado? Ou seja, se não houver uma desconcentração, se não houver capacidade competitiva maior entre os diferentes continentes, políticas públicas adequadas e condições para esses países onde tem pobreza e necessidade de implementar a produção, eu acho que dificilmente nós vamos resolver o problema da fome”, pondera. “Ou nós descobrimos formas de produzir alimento viável, compatível ambientalmente, socialmente e economicamente, nessas regiões que têm mais carência de fome e via agricultura familiar, fundamentalmente, ou nada feito”, completa. A questão da tecnologia rural para a agricultura familiar é outro ponto chave. Para Almeida, o cerne da questão é preservar a diversidade da agricultura familiar e evitar a padronização que ocorreu com a agricultura patronal nos últimos 40 anos, após a revolução verde. “É possível pensar em tecnologia, em avanço tecnológico e inovação no sentido de adequá-las às necessidades, às demandas dos diferentes tipos de agriculturas familiares ou de agriculturas de um modo geral, que existem no mundo. E daí nós vamos ter um quadro diverso de demandas que vai promover o desenvolvimento de diferentes agriculturas, que certamente serão muito melhor adaptadas a contextos específicos”, diz.

O professor da UFRGS ainda pondera que apenas recentemente se pensa em modernização, em avanço, em inovação tecnológica, pesquisa e extensão mais voltados para esse segmento específico de agricultura, no mundo inteiro. Segundo ele, a agricultura familiar é potencialmente capaz de alavancar a produção alimentar em escala local e pode fazer frente a essas exigências de alimento para combater a fome e a miséria no mundo.

Baltasar, da UFSCar, acredita que as tecnologias devem ser pensadas cuidadosamente para que sejam factíveis e não se perca de vista o grupo alvo. “Uma tecnologia capital intensiva para um segmento que não tem capital, uma tecnologia estandartizadora do ambiente numa região que a gente trabalha com a biodiversidade”, explica. “Então, eu acho que seria muito importante um esforço maior da área de ensino, de pesquisa e do poder público, na perspectiva de tratar a agricultura familiar de uma forma diferenciada”, continua.

Além disso, o professor da UFSCar acredita que é preciso levar em conta o custo ambiental da atividade agrícola para se medir os ganhos. “Eu acho que se fazendo mais investimentos de pesquisa, em pouco tempo, a agricultura familiar vai se mostrar mais eficiente que a convencional, se a gente calcular todos os custos e benefícios. A gente pensa produtividade, mas quanto de recurso está se degradando a longo prazo, quantas áreas já foram agrícolas e não são mais por degradação? Tem tembém a questão de poluição de água, de ar, uma série de inconvenientes. Então, é preciso pensar como trabalhar nessa perspectiva”, completa.

No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é responsável por um grande número de estudos e pesquisas voltados para a agricultura familiar e visando o desenvolvimento e a transferência tecnológica e de inovação. Um dos projetos da Embrapa voltados para a agricultura familiar é parte do Programa de Fortalecimento e Crescimento da Embrapa (PAC Embrapa), cujo objetivo é “gerar e disponibilizar tecnologias para assegurar a competitividade e sustentabilidade econômica, social e ambiental à agricultura familiar”.

A degradação do meio ambiente também é um aspecto em evidência nos dias de hoje, e a agricultura é certamente um fator importante para o desmatamento. Para Almeida, da UFRGS, embora não existam ainda respostas definitivas para essas questões ambientais, a conscientização ambiental em uma escala menor, como a da agricultura familiar, é mais fácil de ser realizada. “Eu não estou dizendo que naturalmente a agricultura familiar é mais conservadora que a outra, até porque eu não acredito nisso. Mas eu acho que a questão da conservação ambiental é muito mais factível, é muito mais aplicável no caso da agricultura familiar”, finaliza.

Reportagem de Alessandra Pancetti, da ComCiência (Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, LABJOR/SBPC) publicada pelo EcoDebate, 14/01/2010

ETANOL: PROPAGANDA ENGANOSA

A política de incentivo ao uso de etanol nos convida novamente ao picadeiro. Como se não bastassem os assaltos constantes ao nosso dinheiro, a gasolina será mais vantajosa que o álcool por alguns meses para a decepção dos portadores de carros bicombustíveis (flex). A propaganda a favor da substituição dos tanques de combustíveis foi ostensiva anos atrás. Hoje nem todos os brasileiros temos paciência para fazer o cálculo dos 70% antes de abastecer. Fomos enganados.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento culpou o excesso de chuvas no período de colheita de cana-de-açúcar, que inibiu o corte de mais de 60 milhões de toneladas. A mesma instituição pública federal previu que o mercado de etanol se normalizaria em até 120 dias. Está na moda culpar as chuvas pela incompetência humana no Brasil. Foi assim no apagão de novembro de 2009, que, para mim, não passou de uma conspiração. Evento mal explicado.

Ainda que a produtividade tenha aumentado na transformação de cana-de-açúcar em etanol devido aos avanços tecnológicos, o preço se define pelo mercado internacional. Vale apontar que 2/3 do etanol brasileiro é exportado porque convém à lucratividade da indústria de álcool. Portanto, o argumento das chuvas é pífio. Explico: o álcool não teria faltado aos brasileiros pela colheita menor de cana-de-açúcar se não houvesse sido mandado ao exterior pelo atrativo deste mercado.

Para os produtores, o raciocínio é simples: em vez de produzir dez litros por um real, poderão vender cinco litros pelo mesmo preço final se o lucro for maior.

Se o Brasil tivesse uma política de segurança energética, assim como os Estados Unidos elaboraram a sua para proteger o consumidor estadunidense, o etanol seria um produto barato para o consumo interno e o brasileiro teria prioridade na compra. A servilidade do governo tupiniquim aos latifundiários e o mercado internacional relega-nos a fazer preces para que o preço do etanol baixe ou para que chova menos no próximo verão.

O dessangramento do consumidor brasileiro não pára aí. Com a redução da safra de cana-de-açúcar da Índia, que é um dos maiores produtores mundiais, o Brasil tende a abastecer o aumento de demanda internacional em detrimento do consumo interno. Ainda, fala-se do risco de as usinas substituírem a produção de etanol pela de açúcar devido à alta do preço internacional do segundo produto. Logo se anunciou a política que reduz provisoriamente de 25% a 20% a percentagem de álcool na gasolina a partir de fevereiro. O mercado define se o brasileiro estará satisfeito ou não.

Resumindo: somos imensamente roubados neste país! Por isso que há dois Brasis: um dos tolos e outro dos instruídos. A complacência dos tolos inibe a insatisfação dos instruídos. O resultado da equação é a injustiça com a nação. Aos poucos, a seriedade cede espaço ao circo e a instrução vira motivo de zombaria. Qualquer brasileiro nesta situação colheu a mofa antes do respeito.

Energia é uma questão estratégica em qualquer país. O Estado tem a obrigação de zelar por ela. Em vez disso, o júbilo pela descoberta de petróleo na camada pré-sal contraria o discurso oficial de aumentar o uso de energia limpa no Brasil. Quando o país tem a chance de ser o exemplo mundial com o uso de etanol e biodíesel, sofre a recaída em modelos de apropriação de petróleo.

Propaganda enganosa ou reflexos de um país que não sabe aonde quer chegar?

Bruno Peron é latino-americanista.

Colaboração de Bruno Peron para o EcoDebate, 14/01/2010

CONTROLAR FORMIGAS COM HOMEOPATIA

Professor Francisco Câmara ensina preparo de homeopatia

Cleonildes Batista, 48 anos, moradora do assentamento Zumbi dos Palmares, não imaginava que fosse possível combater formigas com um produto feito de... formigas! Ela descobriu isso no Dia de Campo sobre uso de Homeopatia no Controle de Insetos, realizado pelo Itesp, em Iaras, no último dia 13 de abril, em parceria com a Unesp de Botucatu. Participaram do evento técnicos do Itesp e produtores rurais assentados das regiões de Sorocaba, Araras e Itapeva.

O professor Francisco Luiz Araújo Câmara, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, fez uma exposição sobre os usos da homeopatia na agricultura e ensinou, passo a passo, como se faz o nosódio, nome técnico do preparado homeopático. Em resumo, são macerados de 10 a 12 insetos numa solução de glicerina, álcool 70% e água (em partes iguais de 5 ml). No preparo, não pode ser utilizado nenhum utensílio ou recipiente de metal.

Essa mistura deve descansar por 48 horas em um armário de madeira, sem iluminação e distante de aparelhos elétricos. Depois disso, 3 gotas do medicamento são diluídas em 10 ml de álcool, em um vidro escuro, que passa por um processo chamado dinamização, em que a solução é agitada de uma forma especial, batendo-se com o vidro na palma da mão por cem vezes. As diluições e dinamizações ocorrem sucessivas vezes. No caso de Iaras, será usado o preparado C15, ou seja, com 15 dinamizações.

Segundo Francisco Câmara, após a 12a dinamização, não sobra nenhum resquício do material biológico usado. O que produz efeito na homeopatia seria a energia desse material, transmitida nas sucessivas diluições pela "memória da água".

Embora esses conceitos da homeopatia possam parecer estranhos, a eficácia é comprovada. "Quando pulverizamos esse produto na lavoura e nos formigueiros, as formigas recebem uma informação de que alguma coisa está errada e ficam reclusas", explica Câmara.

Ecologicamente correta, a homeopatia não extermina completamente as formigas. Como deixam de sair para cortar folhas, elas morrem por falta de alimento. Apenas um número de formigas suficiente para manter a rainha viva permanece em atividade. "Com isso, nós levamos as formigas a um nível de equilíbrio ecológico com o meio ambiente".

A técnica foi levada pelo professor da Unesp à Guiana, onde a infestação de formigas cortadeiras trazia sérios prejuízos à produção de mandioca. Poucos dias após a aplicação do medicamento, as formigas haviam cessado o corte de folhas.

Entusiasmada, Cleonildes levou para casa o nosódio preparado no curso. Ela própria fará as dinamizações em casa. "A gente gasta muito dinheiro com veneno e as formigas sempre voltam depois de alguns dias. Estou botando fé que a homeopatia vai dar erto. Quero fazer até pra barata".