quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Rede Mandioca terá centro de comercialização

Convênio entre Cáritas e Fundação Banco do Brasil garantirá a construção do Centro de Referência e Comercialização da rede, em São Luís


Secretário executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, Ricarte Almeida Santos assina convênio observado por Lucineth Machado, assessora da Rede Mandioca. Foto: Lena Machado

A Cáritas Brasileira Regional Maranhão receberá 100 mil reais da Fundação Banco do Brasil em 2012. O valor é fruto de um convênio firmado entre as instituições para a construção do Centro de Referência e Comercialização da Rede Mandioca, em São Luís. O documento foi assinado ontem (13) por representantes da Cáritas e FBB na sede da primeira.

Ricarte Almeida Santos, secretário executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão frisou a importância do convênio para o fortalecimento da Rede Mandioca no Maranhão: “Os bancos oficiais em geral, sempre afirmaram que a cultura da mandioca não tinha viabilidade. Mas foi a mandioca quem fez com que o povo maranhense não morresse de fome. A base de Alcântara, por exemplo, quase mata o povo que foi retirado de suas terras. A professora Maristela [de Paula Andrade, do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA] produziu o livro Fome de Farinha, sobre a questão. A maioria dos que foram retirados das agrovilas por conta da construção da base espacial, hoje está inchando as periferias da capital”, comentou.

Durante o ato de assinatura do documento, o secretário executivo da Cáritas apresentou ainda outras ações da entidade no estado, a exemplo da com catadores e catadoras de materiais recicláveis. Tarcísio Gerotto, superintendente de negócios e varejo do Banco do Brasil afirmou ter ficado entusiasmado com a rapidez na elaboração e a qualidade do conteúdo do projeto apresentado à FBB. “Temos muito interesse em apoiar mais projetos no Maranhão”, anunciou.

A partir da construção do Centro de Referência, a ideia é criar no estado uma rede de pequenos comércios, escoando a produção dos filiados à Rede Mandioca. “Os produtos têm que deixar os povoados e chegar às sedes dos municípios e de lá à capital; têm que circular”, afirmou o secretário executivo da Cáritas. “Em quatro ou cinco anos esperamos ter uma cadeia produtiva da Mandioca estruturada”, previu o superintendente do BB.

A Rede Mandioca – Presente em todas as regiões do Maranhão, a Rede Mandioca articula mais de cem grupos, associações e empreendimentos produtivos em mais de 80 municípios. Atualmente estão associados à articulação estadual lavradores, agroextrativistas, artesãos e criadores de pequenos animais.

Sua plenária estadual acontece a cada dois anos e elege os 14 membros de sua coordenação – dois por região. A Cáritas Brasileira Regional Maranhão presta assessoria técnica aos filiados à Rede Mandioca.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Rede Mandioca: qualidade e estética



Com assessoria técnica da Cáritas Brasileira Regional Maranhão e apoio do Banco do Nordeste, a Rede Mandioca produziu milhares de rótulos para o devido acondicionamento de sua produção. Para potes de mel e azeite, garrafas de tiquira e azeite (acima em foto de Lena Machado) e sacos de arroz, feijão, farinha, milho e tapioca.

"A qualidade da Rede Mandioca agora está aliada à estética em suas embalagens, algo que, sabemos, faz toda a diferença", comenta Lucineth Machado, assessora de Desenvolvimento Solidário Sustentável Territorial da Cáritas Brasileira Regional Maranhão.

Presente em todas as regiões do Maranhão e articulando mais de 80 grupos produtivos, a Rede Mandioca discute a instalação de um Centro de Referência em Comercialização no estado, para ano que vem. Para maiores informações sobre os produtos e/ou adquiri-los: (98) 3221-2216.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MAIS DE CEM REPRESENTANTES DE GRUPOS COMPARECEM À IV PLENÁRIA ESTADUAL DA REDE MANDIOCA

Evento acontece até sábado (29) em São Raimundo das Mangabeiras

POR ZEMA RIBEIRO, ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO DA CÁRITAS BRASILEIRA REGIONAL MARANHÃO

O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Raimundo das Mangabeiras/MA sedia, desde a manhã de hoje (27) até sábado (29) a IV Plenária Estadual da Rede Mandioca, que reúne representantes de grupos e organizações articulados na citada rede, no Maranhão.

Estão presentes à plenária mais de 100 pessoas de todas as regiões do estado, incluindo representantes da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, entidade que presta assessoria à Rede Mandioca.

A Rede Mandioca articula não apenas agricultores e agricultoras que plantam mandioca e beneficiam seus derivados, mas também arroz, feijão e milho, entre outros, além de extrativistas de coco babaçu, pescadores, criadores de pequenos animais e artesãos, entre outros trabalhadores e trabalhadoras articulados/as em grupos, cooperativas, sindicatos e/ou associações.

As ações da Rede Mandioca têm apoio do Banco do Nordeste e entre os objetivos de suas plenárias, realizadas a cada dois anos – a anterior aconteceu em 2009 em Barra do Corda –, estão a reafirmação de sua Carta de Princípios, o referendo a novos filiados, avaliação e planejamento das ações e a eleição – ou reeleição, quando é o caso – de sua coordenação, formada por 14 representantes, sendo dois de cada região do Estado: Baixada, Baixo Parnaíba, Central, Cocais, Mearim, Tocantins e Vale do Pindaré.

A programação da IV Plenária da Rede Mandioca inclui a realização do II Festival da Rede Mandioca, cuja primeira edição aconteceu em São Luís em novembro do ano passado, por ocasião da Semana Nacional de Solidariedade, quando se celebra o aniversário da Cáritas Brasileira.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O HÓSPEDE INQUIETANTE

Esse é o título de um livro do filósofo italiano Umberto Galimberti, voltado especialmente para quem lida com a juventude. Na obra, o adjetivo inquietante tem a ver com o niilismo e com o filósofo Nietzsche, fazendo claras alusões à falta de referências do mundo contemporâneo. Sobressaem, entre outros "ismos”, o individualismo, o hedonismo e o relativismo do que se convencionou chamar de sociedade pós-moderna.

Mergulhado em semelhante estado de coisas, as pessoas em geral, ao invés de projetar sua vida, tendem a buscar respostas imediatas para problemas pontuais. O planejamento lento e laborioso é facilmente substituído pelos remédios que o marketing expõe em profusão de luzes, cores e apelos. Como os analgésicos são muitos e muito diversificados, e estão sempre à mão, poucos se dão ao trabalho de digerir o próprio fracasso ou sofrimento, dele tirando novas lições. Mais fácil que ruminar a dor é correr à primeira farmácia da esquina!

Evidente que isso não ocorre somente com a juventude. Esta apenas costuma ser mais vulnerável e mais espontânea às vibrações ocultas do momento. Uma espécie de termômetro da sociedade em que vivemos. Ou um violão cujas cordas são mais sensíveis à música da moda. De fato, os jovens são os primeiros a "virar a mesa” para escancarar as debilidades, máscaras e hipocrisias de um determinado tempo histórico. Normalmente são também os primeiros a sair às ruas quando percebem "algo de podre no reino da Dinamarca”, para usar a expressão de Shakespeare.

Os exemplos a esse respeito poderiam ser multiplicados à exaustão. É o caso dos Beatles e, de modo particular, de John Lennon. Mas é também o caso da brasileiríssima banda dos Mamonas Assassinas. É o caso dos movimentos juvenis de 1968, em especial na França, mas é também o caso das multidões de "caras pintadas”, que contribuíram decisivamente para o impechemant do ex-presidente Fernando Collor.

O que marca a juventude atual, segundo Galimberti, é uma alfabetização díspar: desenvolvida precocemente em termos tecnológicos, informacionais e sexuais, por um lado, protelada no que se refere ao amadurecimento afetivo e emocional, por outro.

Numa palavra, os jovens hoje costumam chegar simultaneamente muito cedo e muito tarde. Muito cedo, quando se trata de um aprendizado técnico ou informático; muito tarde, quando está em jogo um projeto de longo prazo envolvendo a própria vida. É mais cômodo realizar experimentos provisórios e descartáveis do que firmar compromissos definitivos. Daí a substituição, em não poucos casos, do "namorar” pelo "ficar”, para citar um exemplo bem prático.

Namorar implica relacionamento profundo. Exige mudanças de comportamento, que interpelam e questionam o cotidiano de cada um. Expõe o indivíduo ao confronto consigo mesmo e com a alteridade. Exige o difícil aprendizado do perdoar e aceitar o perdão. Obriga a pensar o passado e o futuro, numa perspectiva relacional. Já o ato de ficar se caracteriza por um momento de prazer passageiro, que não deixa maiores conseqüências nem cria raízes mais fundas. Até o nome e o endereço do outro/a podem ser ignorados. No caso de não dar certo, é bem mais fácil romper do que um compromisso sólido.

Mas, vale insistir, esse comportamento entre os adolescentes e jovens põe a nu um descompromisso mais geral da sociedade em que vivemos. Se as décadas anteriores foram fortemente marcadas pelo engajamento político, a luta pela justiça e o direito, o bem-estar social, nos tempos atuais prevalece o bem-estar pessoal, o "estar numa boa”, o culto ao corpo e ao "eu” com a proliferação de academias, a veneração das celebridades... Se é verdade que Che Guevara, por exemplo, permanece no imaginário, nas tatuagens e nas camisetas de muitas pessoas, deixou de ser um convite à ação sociopolítica para tornar-se um ícone quase sempre inconsequente.

Entre tantos autores, alguns alertam com mais vigor para esse cenário de fixação sobre a falta de grandes referências éticas e para o retorno ao prazer pessoal como última referência. Zygmunt Bauman tem insistido com certa veemência sobre o rompimento do contrato social e das relações sólidas, que vão dando lugar a relacionamentos cada vez mais líquidos e temporários. Marc Augé, por sua vez, bate na tecla do esquecimento do passado e do futuro, em vista de um presente eterno e consumista, prática comum dos impérios, incluindo neste caso a tirania do mercado.

Tirania é também o conceito que J.C.Guillebaud utiliza para enfatizar o prazer pelo prazer. Enfim, dois livros de Gilles Lipovetsky, só pelo título, ilustram bem essa convergência da civilização ocidental para as novidades, o consumismo exacerbado e o centralismo em si mesmo: o império do efêmero e a era do vazio.

O hóspede inquietante do filósofo Nietzsche incomoda por suas perguntas sem resposta, ou por sua enfermidade sem remédio. Num mundo sem referência de ordem moral, prevalece a liberdade de fazer o que se quer e o que se pode. O conceito de liberdade como "fazer o que constrói ou o que contribui para criar ambientes felizes e fraternos” entra em total esquecimento. E aqui, repetimos pela terceira vez, os jovens não passam de porta-vozes de uma espécie de "mal estar da civilização” muito mais amplo e profundo (Freud). Como termômetro, o jovem mede a temperatura social, cultural e política do momento.

Temperatura que se reflete de forma bem mais nociva, por exemplo, na corrupção histórica, endêmica e estrutural da política brasileira. Raro o dia que o Planalto Central não produz alguma notícia que faz estarrecer os pobres mortais da planície.

Desvio de recursos públicos, tráfico de influência, prevaricação, superfaturamento, salários exorbitantes, toma lá dá cá, uso indevido do orçamento – são algumas das práticas corriqueiras dos representantes dos três poderes da União. Salvo raras e notáveis exceções, grande parte deles faz jus ao título da obra de Raymundo Faoro "os donos do poder”. No palco da administração publica brasileira, o hóspede inquietante do niilismo e do relativismo dá margem ao sepultamento puro e simples da "ética na política”. Em termos mais gerais, o projeto de conquistar e manter o poder, digamos com clássico Maquiavel, toma o lugar de um projeto de nação.

JOVENS CRIAM OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO A PARTIR DA CONVIVENCIA COM O BAIRRO

Criar, a partir da convivência com o território, alternativas de desenvolvimento local. É assim que três jovens da cidade de Fortaleza, estado do Ceará (Brasil), estão mudando sua relação com o bairro onde vivem. Emília, Paulo e Wesley, moradores da Barra do Ceará, são os idealizadores do Coletivo Pode Crer, através do qual eles realizam intervenções artísticas e culturais, envolvendo os moradores do bairro. Reformas em equipamentos públicos, oficinas, documentários e pesquisa sócio-afetiva são algumas das ações desenvolvidas.

Como demonstração da coletividade do grupo, os três fizeram questão de ser entrevistados em conjunto pela ADITAL. Na conversa, via skype, relatos empolgados de como a organização, a mobilização e a ação podem proporcionar oportunidades de desenvolvimento saudável a crianças, adolescentes e moradores em geral da Barra do Ceará, bairro localizado em zona periférica da cidade.

O encontro dos membros do Coletivo Pode Crer se deu por meio de um curso de audiovisual realizado pelo Centro Urbano Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca), um equipamento da Prefeitura de Fortaleza. A afinidade entre eles e o desejo de contribuir para o desenvolvimento local fizeram com que os jovens pensassem em uma organização para além do período de realização do curso.

A primeira ação desenvolvida pelo grupo foi realizada com crianças e adolescentes que frequentavam o píer do Rio Ceará, o qual margeia o bairro. "Percebemos que os próprios meninos arrancavam as palhas da coberta do píer”, relembra Paulo Ricardo Oliveira, de 19 anos. Foi então que eles propuseram às crianças que eles mesmos fizessem a reforma da coberta. A ideia iria proporcionar um sentimento de pertencimento ao território.

"Fizemos tudo com recursos próprios. Fomos juntando palhas secas no bairro e refizemos a coberta”, relata Wesley Freitas, ou Ubatata (como é conhecido), de 24 anos. A ação resultou em um documentário, chamado de Tibum. Em seguida, Tibum passou a ser o nome dado às atividades realizadas pelo Coletivo Pode Crer com as crianças e adolescentes do píer.

Tal projeto rendeu outros frutos, como a realização de uma oficina de pipas, que contou com o apoio financeiro de alguns comerciantes do bairro. Wesley relembra que o trabalho foi uma oportunidade de desenvolver as habilidades das crianças para artes. Recentemente, como continuidade da ação, o Coletivo ofereceu uma oficina de ilustrações para o grupo do Tibum.

Outra ação pensada pelos jovens do Coletivo Pode Crer é a realização de uma pesquisa sócio-afetiva com os moradores do bairro Barra do Ceará. "Vamos perceber o grau de empoderamento deles com a região. Como percebem os problemas, os potenciais, os lugares que gostam”, explica Paulo. A pesquisa será desenvolvida com comerciantes do bairro. "São pessoas que trabalham e moram na região. Pensamos que eles podem ter uma relação mais próxima”, avalia Emília de Andrade, de 27 anos.

Quando questionados sobre as dificuldades encontradas para realizar esse trabalho, eles citam a necessidade de agregar mais pessoas e o receio da comunidade. "Tem pessoas que ficam com pé atrás, porque julgam essas atividades como sendo de interesse político”, explica Wesley. Por outro lado, eles afirmam que apostam na convivência com o bairro para reverter as dificuldades e construir alternativas de desenvolvimento a partir do olhar de quem mora ali.

OIT ALERTA PARA O DESEMPREGO ENTRE JOVENS

Atualização das Tendências Mundiais do Emprego Juvenil, 2011. Esse é o título do informe divulgado nesta semana pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicação que chama a atenção para uma "geração ‘traumatizada' por uma crise mundial de emprego juvenil”.

De acordo com informações da agência de notícias da organização, os anos de 2008 e 2009 registraram um aumento de 4,5 milhões de jovens desempregados em todo o mundo.

O relatório da OIT alerta para uma questão que já não é novidade: a quantidade de pessoas jovens desempregadas. O informe revela que no Oriente Médio e na África do Norte, por exemplo, a cada quatro jovens, um está desempregado.

Mesmo com a pequena redução no número absoluto de jovens desempregados – passou de 75,8 milhões em 2009 para 75,1 milhões em 2010 -, a quantidade ainda permanece alta. A expectativa, segundo OIT, é que esse número caia para 74,6 milhões ainda neste ano.

Não é por acaso que afirmam que os jovens são um dos grupos mais afetados pela crise. Eles têm mais dificuldade de encontrar emprego que os adultos e, quando conseguem, geralmente são trabalhos temporários ou em períodos parciais.

"As taxas de trabalho em tempo parcial para os jovens aumentaram em todas as economias desenvolvidas entre 2007 e 2009, salvo na Alemanha. A magnitude do aumento em alguns países – 17 pontos percentuais na Irlanda e 8,8 pontos percentuais na Espanha, por exemplo – sugere que o trabalho em tempo parcial é aceito como a única opção possível para os jovens que buscam emprego. Para finais de 2010, um de cada dois jovens empregados trabalhava em tempo parcial no Canadá, na Dinamarca, na Noruega e nos Países Baixos”, noticia OIT.

Além disso, a organização revela que os jovens conseguiram entrar no mercado de trabalho menos do que o esperado. Prova disso é que, segundo o informe, em 2010, por exemplo, havia 2,6 milhões de jovens a menos do que o previsto no mercado de trabalho em 56 países analisados.

Para tentar mudar esse quadro, OIT propõe uma série de ações voltadas para a promoção de emprego entre jovens, como: o desenvolvimento de uma estratégia de crescimento e criação de empregos para os jovens; a melhoria na qualidade dos trabalhos; o investimento em educação; e a promoção de políticas financeiras e macroeconômicas que retirem os obstáculos para a recuperação econômica.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Movimento Sem Terra (MST) do Brasil: ‘Apostamos na agroecologia e na produção familiar'

Tradução: ADITAL



· "Controlar toda a cadeia produtiva”
· "Novos desafios exigem outras formas de luta”
· "Dilma nos surpreendeu”

Com 400 mil famílias já assentadas, que obtiveram terras próprias em 24 Estados do Brasil, em seus 27 anos de existência, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é, hoje, um dos principais atores sociais de referência para a sociedade civil latino-americana. No entanto, os desafios futuros são grandes: "como fazer para que nos convertamos em uma real organização de massas e como adaptar-nos à nova realidade econômica e política que vive o país?, pergunta-se Salete Carollo, militante sem terra da primeira hora e atualmente membro da coordenação nacional do MST. Salete viveu quatro anos em um acampamento-ocupação (1992-1996). Atualmente, faz parte da Cooperativa de Produção Agropecuária de Tapes (RS), especializada em arroz biológico.

"A natureza da luta para os movimentos sociais do campo está mudando no Brasil”, analisa Salete, responsável pelo setor "Projetos Internacionais” do MST, durante uma recente viagem pela Europa.

Mudanças que obrigam, segundo a dirigente, a repensar os conceitos de fundo: a natureza do movimento; os métodos e táticas; a formação interna, bem como as prioridades, as políticas de aliança e o tipo de diálogo com o restante da sociedade.

Inovar as táticas

Se há alguns anos "nos confrontávamos com latifundiários nacionais, hoje devemos fazer frente a poderosas transnacionais estrangeiras instaladas em nosso território”.

Disputar a terra às grandes corporações "nos obriga a repensar a tática”. E por tal razão, o MST vem defendendo novas modalidades de mobilização. "A natureza da luta de classes está variando”, sustenta.

Hoje, as ocupações de terras não podem ser pequenas. "Se antes as fazíamos com 300 famílias, agora devemos programá-las com 3 mil famílias”. Dimensão que "deve assegurar-nos outra relação de força favorável para que possamos alcançar vitórias efetivas com nossas ações, reduzindo o número e melhorando a qualidade das mesmas”.

Essa visão exige também "uma articulação com outros atores sociais do campo brasileiro e daí a significação de promover a ação da Vía Campesina, que integra tanto o MST quanto outras organizações rurais”.

Além disso, na etapa atual, "devemos ocupar terras que estejam aptas para a desapropriação”. Isto é, que possam ser realmente entregues aos camponeses, "e não somente usar a ocupação como meio de pressão política como entendíamos em muitos casos até poucos anos atrás”.

Agrotóxicos, flagelo no Brasil

Complementando essa nova lógica, "é fundamental o diálogo ativo que já estamos implementando com setores urbanos, do mundo acadêmico e da cultura, com movimentos sociais da cidade, para conseguir uma articulação mais integral de nossos objetivos e lutas comuns”.

Por exemplo, explica a dirigente, o MST está preparando uma grande campanha para as próximas semanas, com o objetivo de denunciar os agrotóxicos. A campanha está fundamentada em uma investigação universitária que "prova que cada brasileiro consome em seus alimentos 5 litros de veneno por ano”.

Hoje, o Brasil é "o principal consumidor mundial de produtos tóxicos que chegam ao país como parte do pacote integral das grandes transnacionais dedicadas à agroexportação e que encontraram nos últimos anos a via livre para sua ação. Os males que ditos venenos produzem são sofridos tantos pelos camponeses quanto pelo consumidor que vive nas cidades”.

Por detrás desses desafios, um dilema de fundo para o MST: "passar de ser um movimento já consolidado que luta pela terra para ser uma organização de massas”, com todas as novas obrigações de ser atores econômicos e tentar controlar a cadeia integral da produção de alimentos.

"A surpresa de Dilma”

"Nos primeiros meses de Dilma Rousseff, que assumiu o governo no dia 1º de janeiro de 2011, sentimos um certo desencanto porque nossas reivindicações não eram escutadas. Víamos uma continuidade linear dos oito anos de Lula, que nunca incorporou em sua agenda nem a Reforma Agrária e nem as reivindicações mais sentidas dos sem terra”.

No entanto, após uma grande jornada de mobilização social em agosto passado –que aprofundou as jornadas de 8 de março e de 17 de abril- com 50 mil pessoas convocadas em Brasília, "fomos escutados pela nova presidenta”, que parece, agora, orientar uma mudança de política para o campo.

"Obtivemos avanços inesperados. Dilma incorporou o tema da Reforma Agrária em sua própria agenda pessoal. Decidiu liberar 400 milhões de reais –uns 220 milhões de dólares estadunidenses- para desapropriar parcelas a ser entregues aos sem terra. E aceitou uma proposta de Programa de Educação que exigíamos há anos sem obter resposta alguma. Inclusive, nesse ponto, foi além do que esperávamos. Nos surpreendeu!”, enfatiza Salete.

Sinais positivos que, no entanto, "não nos desmobilizam”. O desafio dos movimentos sociais em qualquer lugar do planeta é não ficar de braços cruzados esperando as promessas dos governos. Temos que mobilizar-nos para assegurar que estas se materializem. E não podemos esquecer que em nosso país continuam existindo mais de 100 mil famílias acampadas, em luta para conquistar suas terras”.

Apesar do projeto "desenvolvimentista” do novo governo brasileiro, "pensamos que Dilma entende que no campo não há somente espaço para o modelo agroexportador, privilegiado univocamente por Lula; mas, existe também lugar ára a produção familiar camponesa, promovida pelo MST. A única alternativa real e estratégica para combater a miséria e a marginalidade tanto rural quanto urbana no Brasil.

[*Sergio Ferrari

Colaboração de imprensa de E-CHANGER,

ONG suíça de cooperação solidária parceira do MST/Brasil]

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Dois modelos de agricultura em disputa

"Quando abrimos o debate na sociedade sobre o tipo de modelo de agricultura aparecem imediatamente reflexões sobre o valor da terra, o tipo de produção no campo e a necessidade da reforma agrária”, explica Salete Carollo.

"Nós contestamos o modelo que considera a terra como uma simples mercadoria, que se baseia no monocultivo, que vê na agroexportação seu principal objetivo e que despreza totalmente a natureza, o meio ambiente, o solo e o próprio ser humano.

Nossa proposta é a produção familiar agroecológica, que se sustenta na cooperação agrícola, com o necessário ingrediente da agroindústria.

Na atual etapa histórica da humanidade, o camponês não pode resistir no campo com o mesmo modelo que sempre tivemos. Isto é, produzir para sua subsistência e um pouco para o mercado local.

Para assegurar uma real opção alternativa, devemos ter em nossas mãos o domínio de toda a cadeia produtiva. Desde as sementes até a comercialização, passando pelo território necessário, pela transformação e pelos benefícios da produção.

Nessa linha, avançamos significativamente enquanto MST. Uma nova lei que rege o Brasil exige que 30% da alimentação que as crianças recebem nas escolas venha da agricultura familiar. Política de Estado que contribui para que essa cadeia produtiva possa desenvolver-se e consolidar-se.

E para isso, a formação técnica e, fundamentalmente, a formação política é essencial. Nosso trabalho no campo se integra em uma visão mais integral, em um projeto de vida social e política. A agroecologia impõe outra maneira de relação com a natureza e dos seres humanos entre si”. (Sergio Ferrari).

Link original: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=60853

terça-feira, 11 de outubro de 2011

ARTIGO SOBRE A MANDIOCA

Olá pessoal,

Vejam esse artigo sobre a mandioca escrito por:

Nagib M. A. Nassar
Departamento de Genética e Morfologia,Universidade de Brasília

http://www.geneconserve.pro.br/mandioca_cienciahj.pdf

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

FUNDOS ROTATIVOS SOLIDÁRIOS




Jaime Conrado de Oliveira
Coordenador Projeto Nacional de Fundos Solidários

Os Fundos Rotativos Solidários ao longo do tempo vêm se afirmando como uma metodologia de apoio financeiro as atividades produtivas de caráter associativo mediante o compromisso devolutivo voluntários. Na Rede Cáritas as ações com Fundos Rotativos Solidários vem acontecendo em vários Regionais: Maranhão, Rio Grande do Sul, Ceará, Minas Gerais, Piauí, Nordeste II e Nordeste III.

As ações dos Fundos Rotativos Solidários envolve aproximadamente cerca de 9.174 pessoas que trabalham com diversas modalidades de fundos (criações de pequenos animais, bancos de sentes cri olas, atividades agrícolas, cisternas, aquisição de equipamentos, entre outras) na perspectiva do desenvolvimento local solidário sustentável.

Os Fundos Rotativos Solidários se constituíram como principal instrumento de fomento produtivo e ações de formação para os grupos e comunidades assistidas pelas Cáritas. O Fundo Nacional de Solidariedade juntamente com o Fundo Diocesano são as principais fontes apoiadoras das ações dentro da Rede, com ampliação expressiva dos FDS e suas comissões gestoras dando mais visibilidade e transparência aos recursos arrecadados pela campanha da fraternidade de cada ano.

A Campanha da Fraternidade 2010 cujo tema era Economia e Vida conseguiu mobilizar as Igrejas Cristãs do Brasil organizando a coleta do domingo de Ramos destinando 40% do total arrecadado para o Fundo Nacional de Solidariedade que foi aplicado da seguinte forma: Região Sul foram aprovados 51 projetos com um montante de R$ 736.636,00, Região Sudeste foram aprovados 34 projetos com um montante de R$ 870.007,00, Região Centro Oeste foram aprovados 29 projetos com um montante de R$ 1.568.864,00, Região Nordeste foram aprovados 56 projetos com um montante de R$ 759.439,00, Região Norte aprovados 40 projetos com um montante de R$ 578.368,00 totalizando 210 projetos aprovados no valor de 4.513.315,00.

No ano de 2010, foi realizada a Conferência de Finanças Solidárias. Como fruto desta conferência foi lançado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) um edital para mapear os fundos rotativos solidários e os bancos comunitários, numa negociação entre SENAES e o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FEBES). O edital visa qualificar estes fundos e bancos comunitários e mostrar a eficiência destes instrumentos como ferramentas de combate a miséria. O projeto estar sendo executado por 5 organizações regionais ( Sul – CAMP, Sudeste – Cáritas Regional de São Paulo, Centro Oeste – Providencia, Nordeste – Fundação Esquel e o Norte deverá ser contratada até o final do primeiro semestre de 2011) e coordenado por uma organização de atuação nacional (Cáritas Brasileira – Secretariado Nocional)

SOBRE A NATUREZA DA EXTENSÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO AGROECOLÓGICO

Jean Marc von der Weid
AS-PTA
Agosto/ 2011

A agroecologia é a ciência do manejo integrado dos recursos naturais renováveis – do solo, da água, da agrobiodiversidade e da biodiversidade como um todo. Embora este sistema não deixe de artificializar a natureza ele busca manter a maior analogia possível com os sistemas naturais, ao contrário dos sistemas convencionais que buscam a máxima artificialização possível da natureza.

O corolário desta definição é que, ao buscar mimetizar os sistemas naturais a agroecologia leva à criação de sistemas produtivos com alta diversidade de espécies vegetais e animais, isto é, de culturas e de criações e à manutenção de parcelas da vegetação nativa de forma integrada ao conjunto. Como a natureza tende à criação de sistemas diversificados e complexos a agroecologia, por analogia, também leva à criação de sistemas diversificados e complexos.

Cada propriedade agrícola está caracterizada pela diversidade das suas condições naturais. Os solos, relevo, disponibilidade (ou não) de água na forma de fontes, riachos e lagos, a cobertura vegetal, o fotoperíodo, a incidência de ventos e chuvas, os riscos de geadas, enchentes e secas são diferentes de região para região, de propriedade a propriedade e até dentro de cada propriedade. Alem disso, as propriedades se diferenciam também pelo seu tamanho e forma, pelo tamanho e composição da família, pela experiência dos produtores, pela sua cultura, pela disponibilidade de recursos financeiros, pela maior ou menor tendência a aceitar riscos, pela inserção dos produtores em espaços de socialização e pelo acesso dos mesmos aos mercados.

Estes múltipos fatores de diversidade fazem com que não exista qualquer possibilidade de se propor modelos produtivos generalizáveis a serem adotados de forma maciça por amplos conjuntos de produtores e, muito embora existam similitudes entre sistemas produtivos em condições semelhantes o desenho de cada sistema individual será necessariamente diferente.

A criação destes sistemas complexos e diversificados (e individualizados) é o mais importante desafio para a promoção do desenvolvimento agroecológico. Os especialistas em agroecologia costumam afirmar, com razão, que os sistemas agroecológicos são intensivos em conhecimentos enquanto os sistemas convencionais são intensivos no uso de insumos externos.

De onde poderá vir este conhecimento complexo e diversificado específico para cada propriedade? A experiência mostra que as abordagens de extensão rural que buscaram desenvolver modelos a serem seguidos pelos produtores quer em fazendas experimentais e demonstrativas quer em propriedades de agricultores inovadores resultaram em resultados magros e altamente intensivos e dispendiosos em termos de assistência técnica.

A abordagem de promoção do desenvolvimento elaborada pela AS-PTA em 28 anos de experiência (e múltiplos erros de percurso) leva em conta o fato de que é o agricultor quem tem que descobrir qual o melhor desenho para um sistema agroecológico em sua propriedade. Ele não pode ser considerado “um livro em branco” no qual os técnicos vão “escrever” o que ele deve fazer até porque nenhum agricultor aceita esta situação já que os riscos das mudanças do sistema são seus e não dos técnicos. Cada agricultor tem uma história com experiências e conhecimentos herdados da tradição camponesa em que está inserido e outros adquiridos por inovações próprias ou copiadas a partir de informações de fontes diversas (outros agricultores, técnicos, empresas compradoras de matérias primas ou vendedoras de insumos, revistas, folhetos, televisão, etc.). Ele tem um conhecimento único sobre o seu próprio sistema produtivo muito embora muitas vezes este conhecimento possa estar marcado por avaliações incorretas do potencial dos seus recursos naturais ou dos efeitos das práticas que utiliza. Toda a estratégia da extensão rural passa pelo aumento dos conhecimentos dos princípios da agroecologia e das práticas que melhor possam se adaptar às suas condições específicas, seus recursos naturais, seus recursos financeiros, sua disponibilidade de mão de obra, seu acesso aos mercados, aos riscos ambientais a que o seu sistema está submetido. Nesta visão todo agricultor é, ao seu nível, um experimentador e adaptador dos novos conhecimentos e técnicas que vai adquirindo.

Este processo de experimentação coletiva se faz de vários modos. Antes de mais nada, é preciso que os agricultores realizem um ou vários diagnósticos para avaliar seus sistemas de produção à luz dos conceitos da agroecologia que vão lhes sendo apresentados pelos técnicos da extensão rural e/ou por agricultores mais avançados na transição agroecológica.

A apresentação dos conceitos da agroecologia se faz em uma combinação de visitas a sistemas produtivos mais ou menos avançados na transição agroecológica e a sistemas naturais onde os agricultores podem fazer comparações com seus próprios sistemas.

O exercício dos diagnósticos tem mais de um propósito. Um deles é aprofundar os princípios da agroecologia através de sua aplicação a sistemas produtivos reais. Outro é o de identificar disfunções dos sistemas produtivos segundo os princípios da agroecologia. Tanto a apresentação dos conceitos da agroecologia como a sua aplicação nos diagnósticos de agroecossistemas se fazem de forma coletiva de maneira que os conhecimentos de cada agricultor sejam socializados e discutidos criticamente pelo conjunto e pelos técnicos da extensão rural ou da pesquisa participantes dos exercícios.

Os diagnósticos iniciais não precisam ser exaustivos e identificar e analisar a fundo todos os problemas e potencialidades dos sistemas produtivos. Este processo seria demasiado pesado (equívoco freqüente na nossa abordagem inicial) e desnecessário. Os diagnósticos iniciais permitem estabelecer uma tipologia de sistemas produtivos no público alvo de maneira a organizar as etapas subseqüentes de busca de soluções potenciais e de sua experimentação.

Definida a tipologia a partir de sistemas e problemas semelhantes os grupos de agricultores se organizam e passam a realizar diagnósticos temáticos para compreender melhor os problemas e identificar as condições que balizarão a busca de soluções.

É importante notar que, embora estes exercícios sejam feitos pela análise de sistemas produtivos reais de vários agricultores identificados como representativos das realidades diversas de um público determinado, não se procura diagnosticar individualmente todas as propriedades. Isto seria um processo demasiado longo e exaustivo. Cabe aos agricultores participantes dos exercícios aplicarem o que aprenderam coletivamente a seus sistemas individuais.

Organizados por tipo de sistema produtivo e pelos problemas que, coletivamente, identificaram como mais importantes para iniciar a transição agroecológica os agricultores passam para a etapa de identificar as possíveis soluções para os mesmos. Este inventário de propostas técnicas busca levantar tanto as práticas já conhecidas por algum ou alguns deles e as que os técnicos e pesquisadores podem apresentar. O aporte dos técnicos pode ser tanto de conhecimentos científicos como de práticas de outros agricultores que não fazem parte do grupo alvo em questão.

Sempre que possível a apresentação das alternativas técnicas deve ser feita a partir de exemplos práticos através de visitas aos agricultores ou aos centros experimentais onde as mesmas são visíveis. Os detentores do conhecimento (empírico ou científico) expõem as suas práticas e as discutem com o coletivo de forma a que o conjunto possa avaliar a sua pertinência para o conjunto ou para parcelas deste conjunto.

A partir do aprendizado coletivo os agricultores selecionam as práticas que vêem como potencialmente mais interessantes para seus sistemas produtivos e discutem como vão experimentá-las. Não se procura definir um sistema único de experimentação mas quais os critérios de avaliação que cada um acha mais pertinentes e as formas de realizar os testes. Cada um escolhe como vai realizar a experimentação da forma que achar mais adaptada às suas condições. Durante o processo de experimentação os agricultores organizam visitas às propriedades uns dos outros e discutem as formas dos experimentos e seus resultados parciais. As percepções e os resultados de umas e outras experiências vão informando cada um dos experimentadores que vão ajustando ou modificando suas práticas segundo as avaliações que realizam.

Este processo de experimentação é contínuo. De fato, nenhum agricultor modifica seu sistema produtivo de uma só vez pois os riscos seriam elevados. Passo a passo eles vão testando diferentes práticas, enfrentando novos problemas ou outros já identificados mas não priorizados inicialmente, sempre trocando experiências com outros praticantes. Como disse um agricultor da Zona da Mata, “a experimentação na transição agroecológica não tem fim”.

Como se pode perceber, esta abordagem implica em mobilizar as capacidades de todos os agricultores para colocá-las na dinâmica social da experimentação. Os ritmos da transição serão distintos entre os agricultores em função da capacidade maior ou menor de cada um ou de maiores ou menores potencialidades dos sistemas adotados em cada propriedade, ou da disponibilidade de recursos para investir neste esforço.
Esta abordagem implica também em se explorar os agricultores com maior capacidade de inovação e/ou de comunicação de suas experiências. Há um papel de formação assumido pelos agricultores mais adiantados no processo de transição, quer fazendo treinamentos em outros locais quer recebendo agricultores para conhecerem suas experiências. Por outro lado, esta dinâmica de visitas, cursos, experimentações, etc. cobra uma boa capacidade organizativa do público alvo e uma atividade de coordenação dos dirigentes. O processo organizativo desta experimentação em massa vai sendo criado no decorrer do mesmo e sempre despontam agricultores com mais vocação e capacidade para assumi-lo.

Os custos desta abordagem não se resumem, portanto, ao pagamento das horas técnicas dos profissionais da extensão mas também ao pagamento dos dias ou horas de trabalho entregues por aqueles agricultores que assumem os aspectos organizativos ou de formação. Há também alguns custos da própria experimentação. Estes custos normalmente não são elevados individualmente mas podem ser significativos quando se considera a quantidade de experimentações em curso.

A este processo voltado para a transformação dos sistemas produtivos devemos acrescentar a necessidade de analisar e organizar novas formas de acesso a mercados para valorizar os resultados agronômicos alcançados. Normalmente os ganhos dos agricultores são obtidos através de melhoria dos rendimentos das culturas e das criações, menores riscos frente a ataques de pragas, doenças e invasoras ou frente às variações climáticas e menores custos de produção. O acesso a mercados orgânicos diferenciados pode ser um plus, mas não é uma condição necessária para o sucesso desta abordagem.

É preciso lembrar que muitas vezes é necessário um esforço dirigido aos agricultores mais pobres ou os menos propensos a participar em processos coletivos. Atrair e apoiar este público especial é responsabilidade tanto das organizações dos agricultores como das entidades de assistência técnica. Muitas vezes se torna preciso fazer diagnósticos sobre o comportamento social desta camada de agricultores, para entender e enfrentar as razões que os levam a não se inserir espontaneamente nas dinâmicas sociais de experimentação.

A descrição desta abordagem serve para mostrar a impossibilidade de se promover a transição agroecológica através da metodologia implícita nas chamadas de ATER definidas pelo DATER/MDA. Nestas chamadas o esforço principal e quase exclusivo está colocado na assistência técnica individual, implicando em um processo de difusão de tecnologias dos técnicos para os agricultores. Não há recursos nestas chamadas para financiar as atividades das organizações dos produtores nem para pagar os dias de trabalho perdidos pelos agricultores mais engajados em visitas e cursos. Também não há tempo para os técnicos pesquisarem alternativas tecnológicas o que pressupõe que eles já sabem as respostas para todos os problemas que podem encontrar. Também não há recursos para o fomento às experimentações.

A forma utilizada pelo DATER para definir o tamanho do público também é arbitrária. A prática mostra que a relação técnico/agricultor pode ser muito mais intensiva no início do processo e muito menos nas fases mais avançadas. Para dar um exemplo, no programa de desenvolvimento local da AS-PTA na Paraíba começamos com uma relação de um técnico para trinta agricultores e hoje esta relação está em um para quinhentos, com tendência para se tornar ainda menos intensiva a medida que se expande a base de agricultores participantes e se consolidam as experiências bem sucedidas. Esta expansão, entretanto, implica em envolver mais agricultores tanto na organização como no apoio à experimentação.

Para resumir, esta abordagem de promoção da transição agroecológica implica em fortalecer a participação tanto das bases como das organizações dos agricultores, garantindo o empoderamento do público. Este processo vai se refletir não apenas em um aumento da eficiência produtiva e no aumento de renda, mas na inclusão social cidadã da agricultura familiar já que conduz à uma maior conscientização e socialização dos participantes, com reflexos no tratamento de outras questões de interesse desta base.

O desafio que se coloca tanto para o DATER como para todas as entidades, públicas ou privadas de ATER é gerar um processo de financiamento da extensão rural que permita e não engesse esta comprovadamente bem sucedida abordagem de promoção da transição agroecológica.

RETORNO DO BLOG.....

Olá pessoal,

Passamos um bom tempo sem informações. Estamos retornando e continuando o processo de debate e discussão sobre a cultura da mandioca.
Façam sua criticas, declarações, afimações, etc...

Vamos que vamos

Jaim Conradp

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

COXINHA COM MASSA DE MANDIOCA


Vejam mais uma da mandioc na culinária....




INGREDIENTES
1 litro de leite
2 cubos de caldo de galinha
1 colher (sopa) de sal
600 gramas de farinha de trigo especial
500 g de mandioca cozida
1 colher (sopa) de margarina
1 ovo
Farinha de rosca para empanar
Recheio:
Peito de frango
Molho de tomate a gosto
Cheiro verde a gosto

MODO DE PREPARO
Ferver o leite com o sal, os caldos de galinha, a mandioca e a margarina. Depois que levantar fervura, acrescentar a farinha de trigo e fazer o angu, até desgrudar do fundo da panela. Desligar o fogo e acrescentar o ovo batido, incorporando na massa. Neste ponto, a massa gruda novamente na panela. Voltar a panela para o fogo e mexer até desgrudar de novo. Levar a massa para uma bancada untada e sovar para depois modelar o salgado. Esta massa serve para vários tipos de salgados: coxinha, azeitona empanada, risole, enroladinho de provolone, bolinha de camarão etc.