O Debate – A Rede Mandioca surgiu há quanto tempo e de que premissas?
Jaime Conrado – Na verdade a discussão sobre a criação da Rede iniciou ainda no inicio dessa década e veio se concretizar em 2006 a partir do trabalho iniciado nas comunidades de Racho do Mel e Vila Ribeiro ambas no município de Vargem Grande.
Esse trabalho foi motivado basicamente pelos seguintes pontos:
n Necessidade de dar continuidade a ação Cáritas na região de Coroatá iniciado com conquista da terra, construção de cisternas, formação de crianças e adolescentes...;
n Combate ao aliciamento de trabalhadores rurais para o trabalho escravo/ parceria com CRS através do Trilhas de Liberdade
n Fortalecer a EPS a partir de uma experiência de rede produtiva
O Debate – Como funciona a Rede Mandioca?
Jaime Conrado – A Rede Mandioca tem uma coordenação geral com 14 participantes das 7 Região de abrangência da Rede (Região Baixada, Vale do Pindaré, Mearim, , Cocais, Baixo Parnaíba, Tocantina Sul, Central) com reunião semestrais e uma plenária anual para o processo de avaliação, monitoramento e planejamento das ações da Rede. Todo o trabalho tem a assessoramento da Cáritas Brasileira Regional Maranhão através de técnicos especializados em todo o processo produtivo da agricultura familiar.
O Debate – Que procedimentos devem ser tomados por quem deseja se filiar? É possível a filiação individual?
Jaime Conrado – A filiação à Rede Mandioca acontece somente de forma coletiva (grupos formais e informais, associações cooperativas, clubes de Mães, etc).
Para filiar-se a Rede Mandioca cada grupo deve realizar uma assembléia geral fazer a leitura da Carta de Princípio de Rede Mandioca e concordar com ela. Em seguida escreve uma ata da referida assembléia e encaminhar a coordenação da Rede que fazer a leitura nas reuniões de coordenação que posteriormente será apresentado na plenária anual da Rede.
O Debate – Qual o tamanho da Rede Mandioca hoje?
Jaime Conrado – A Rede estar presente em todas as Regiões do Estado. Atualmente fazem parte da Rede Mandioca cerca de 35 municípios e mais 70 comunidades rurais com um público de aproximadamente de 10.000 famílias beneficiadas com as ações da Rede Mandioca
O Debate – Qual o papel da Cáritas Brasileira Regional Maranhão em todo o processo?
Jaime Conrado – O papel da Cáritas Brasileira foi e ainda é fundamental para animação do processo de criação e agora de assessoramento técnico dos grupos desde a organização da produção até a comercialização direta ao consumidor final. Cabe a Cáritas a parte da formação política pedagógica dos agentes locais que apóiam no desenvolvimento das ações.junto aos grupos nas suas Dioceses.
O Debate – Como você analisa a atuação do Governo do Estado com relação à cultura da mandioca?
Jaime Conrado – Historicamente a mandioca é a base da alimentação dos Maranhenses. Mais infelizmente ela não tem o mesmo tratamento que é dado a outras culturas introduzidas no nosso Estado a exemplo da soja, eucalipto e outras...
Nos últimos 30 anos a agricultura familiar no Maranhão passou e passa por dificuldades devido a falta de apoio governamental no tocante a questão da assistência técnica, extensão rural, pesquisa, falta de recursos entre outros, provocando diminuição da produção e produtividade elevando mais ainda os índices de pobreza do nosso Estado.
Nesse período foram criados alguns programa de governo como por exemplo: comunidade viva, PRODIM, FUMACOOP que além de não conta de toda as demandas agrícola do Estado eles ficaram restritos apenas ao mandato de cada Governo, pois não era uma política publica voltada para o desenvolvimento do setor e sim um programa de governo que interessava apenas a alguns.
O Debate – Quais as principais conquistas da Rede Mandioca desde seu surgimento até hoje?
Jaime Conrado – Já podemos citar algumas conquistas durante esse período:
- Organização política e produtiva dos grupos beneficiados
- Melhorou a qualidade, aumentou e diversificou a produção garantindo aumento da renda e perspectiva de auto-sustentabilidade
- Inserção nas discussões, articulações e conquistas de políticas públicas e desenvolvimento sustentável
- Novas perspectivas de comercialização: feiras locais/estadual e nacionais, compra direta, sai de cena a figura do “atravessador”, preços mais acessíveis
- Recuperação da auto-estima dos produtores de mandioca
- Retomada do fundo de crédito na lógica da EPS e direcionada para a cultura da mandioca
- Maior visibilidade das temáticas e maior reconhecimento da instituição e da Rede junto a sociedade e Estado
- Papel articulador e de referência da Rede e movimento de EPS
- Favoreceu o intercâmbio com experiências de grupos acompanhados pela CB de outras regiões do Estado
-
Também nessa caminhada temos alguns desafios:
- Ampliação da Rede Estadual e Regionalmente
- Diversificação de fontes de financiamento e apoio
- Aprimoramento do processo produtivo na perspectiva da garantia da qualidade, da certificação, diversificação e verticalização
- Ampliação dos contatos para favorecer o fortalecimento e diversificação do processo de comercialização
- Constituição de um espaço de apoio e referência da cultura da mandioca
- Criar condições de apoio as novas comunidades/grupos que estão aderindo à Rede
- Maior incidência junto ao Estado para definição de políticas públicas específicas de fomento à cultura da mandioca (assistência técnica, crédito) junto a Rede
O Debate – A Rede Mandioca realiza, de 10 a 12 de novembro, seu primeiro festival estadual. É ideia torná-lo anual? Itinerante?
Jaime Conrado – Sim.
Pensar na criação de um espaço onde os grupos possam alem de obter mais informações , trocar experiências sobre a sua realidade, possam também mostrar e comercializar seus produtos diretamente ao consumidor, tendo a oportunidade de explicar o processo de produção, manuseio das culturas, uso de remédios alternativos etc...
Quanto a questão itinerante teremos que pensar junto com a coordenação da Rede pois quando pensamos em realizar o Festival em São Luis era principalmente pela visibilidade. Mais vamos ver essa possibilidade de realizarmos em outros lugares.
O Debate – Apesar do nome, a Rede Mandioca trabalha com outros produtos, como pequenos animais, azeites, coco babaçu, cachaça, artesanato, produtos do extrativismo, entre outros, dentro das perspectivas da economia popular solidária. Quais os principais avanços neste campo, tanto no cenário nacional quanto estadual?
Jaime Conrado – O grande avanço nesta questão foi a criação da secretaria nacional de economia solidária criada no inicio do primeiro mandato do Presidente Lula que permitiu ainda timidamente trabalharmos com algumas políticas para o setor.
No Maranhão foi criado uma secretaria do trabalho e economia solidária que iria tratar das questão voltadas para a ECOSOL. Durante os dois anos de SUS existência as ações da secretaria estava direcional para capacitação de jovens para o mercado de trabalho visando principalmente os grandes projetos que virão pro Maranhão. As ações de economia solidária foram pontuais e conforme o interesse das pessoas que estavam a frente da referida secretaria e com isso não avançamos nesse campo da economia solidária aqui no Maranhão.
Atualmente essa secretaria estar a serviço do grande capital. Todo o trabalho realizado estar reduzido a capacitações de jovens formando mão de obra para a siderúrgica e para refinaria.
Estão sendo realizadas algumas feiras em quase todo o Estada, algumas mais permanente a exemplo de Vargem Grande e outras mais esporádicas como em Codó, São Mateus, Imperatriz, etc...
O Debate – Passadas as eleições, é possível prospectar um cenário para os próximos quatro anos a partir dos resultados, tanto no Brasil quanto no Maranhão?
Jaime Conrado – Acredito que a SENAES possa migrar para uma secretaria especial ligada a presidência da republica que com certeza irá ampliar mais a ações para a ECOSOL. No Maranhão não vejo esses quatros próximos anos com otimismo para ECOSOL. É claro o direcionamento do governo do estado para o grande capital. Por tanto a economia solidária será vista como caridade, solidariedade e não como uma política para esse setor econômico da sociedade.
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