Especialistas acompanham com cautela a ocorrência de uma anomalia chamada Soja Louca II, que vem provocando perdas em algumas lavouras brasileiras nas áreas mais quentes de cerrado.
“Ainda não sabemos a causa desta doença ou distúrbio observado nas plantas de soja. Montamos o grupo de trabalho e estamos analisando amostras desta safra”, disse Maurício Meyer, pesquisador da Embrapa que coordena o trabalho do grupo.
A anomalia impede a maturação das plantas e provoca o abortamento das flores e vagens. O problema é detectado, em média, de 50 a 55 dias após o período do plantio. E mesmo quando consegue atingir o estágio final, a planta produz um grão de menor qualidade, esverdeado ou apodrecido.
O grupo de trabalho criado para pesquisar a doença reúne pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), representantes da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e as fundações de pesquisa estaduais. Através desta parceria, os pesquisadores estão montando unidades experimentais de observação para avaliar a anomalia nas propriedades.
Os pesquisadores estão analisando três amostras de lavouras de Mato Grosso, uma de Tocantins e uma do Maranhão. Segundo Meyer, esta avaliação servirá de base para verificar o efeito do manejo de lavouras e se existe alguma relação com a palhada, cobertura do solo nos sistemas de plantio direto.
O grupo também pretende conduzir um estudo genético para detectar se ocorrem alterações nos genes, mas trata-se de um processo mais caro e que dependeria de mais recursos.
Meyer conta que observou o problema pela primeira vez durante viagem ao Maranhão no ciclo 1996/97. “Mas era um problema esporádico e localizado sem perdas significativas”, disse.
“O problema aumentou e começou a provocar mais perdas nas áreas mais quentes do cerrado, no Maranhão, Tocantins, Pará e norte de Mato Grosso a partir de 2005/06″, afirma Meyer. Mas ele conta que existem relatos sobre a anomalia, mas com menos perdas, no norte de Mato Grosso do Sul e do Paraná e parte de Goiás.
A análise das amostras destes três Estados deve sair em 20 dias, mas resultados mais conclusivos sobre a extensão das áreas afetadas e o impacto da doença só devem sair na fase final da safra entre março e abril, calcula o professor.
O gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Luiz Nery Ribas, ressalta que a anomalia ataca em “manchas”, ou seja parte dos talhões, cujo tamanho varia em cada propriedade. Nos casos registrados nos últimos quatro anos, a Soja Louca II chegou a provocar perda de 20 a 50 por cento na produtividade.
Questionado se o problema estaria ligado ao uso excessivo de defensivos, como o glifosato, o gerente técnico afirmou que esta possibilidade está sendo avaliada. Mas observa que a anomalia também foi detectada em plantas muito novas, antes mesmo das aplicações de defensivos.
“Não se descarta nada. Tudo está sendo pesquisado, como também os estudos sobre pragas sugadoras ou tipo da palhada”, afirma Ribas.
A Aprosoja sugere que os produtores façam o monitoramento das lavouras, como já vem sendo feito para a ferrugem da soja. Se qualquer anomalia ou diferença na formação da planta for detectada a recomendação é comunicar a Aprosoja, para que o grupo de trabalho possa retirar amostras para fazer as análises.
A produtora rural Roseli Giachini, que cultiva 5,5 mil hectares com soja em Cláudia, município no norte de Mato Grosso, disse que detectou as primeiras ocorrências da Soja Louca II primeira vez em 2005, mas foi na última temporada que ela viu as maiores perdas.
Segundo ela, em 2009/10, em dois talhões de 140 hectares e 130 hectares as perdas superaram 30 por cento tanto em áreas de transgênicos como de sementes convencionais. “Minha média (de produtividade) foi de 59 sacas, mas nestes talhões ficou em 40 sacas em um e 46 sacas no outro”, disse Roseli referindo-se ao volume produzido por hectare.
Como já conhece os pontos onde ocorre a anomalia, a produtora monitora as lavouras, retira as amostras e envia para a Embrapa.
Nesta temporada, ela já encontrou as chamadas “manchas” nas lavouras em algumas pontos. Segundo ela, em um dos talhões de cerca de 100 hectares a ocorrência supera 10 hectares. “Estamos retirando agora as amostras, mas pela minha experiência em campo, e também como agrônoma, já posso afirmar que é Soja Louca II”, afirma.
Para Roseli, a anomalia pode ser até mais grave que a ferrugem porque anda não se conhecem as formas de controle. “O desafio da ciência é descobrir o agente causal para sabermos como controlar a Soja Louca II”, acrescenta.
Fonte: Portal do Agronegócio Goiano
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