terça-feira, 11 de agosto de 2009

AGROECOLOGIA EM DEBATE NO BRASIL

Reorientar conceitos e métodos, esse é o caminho?

Mais ligada aos movimentos sociais, a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) integra o Fórum Permanente de Agroecologia e ocupa um dos postos fundamentais do Comitê Gestor Estratégico (CGE) do projeto Transição Agroecológica do Macro Programa 1 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para subsidiar uma reflexão acerca da Agroecologia no cenário brasileiro e dos possíveis rumos da agricultura do País, conversamos com o diretor-executivo da AS-PTA e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Construção do Conhecimento Agroecológico da ANA (GT-CCA-ANA), Paulo Petersen.


Logo no início do bate papo, Petersen disse que a Agroecologia pode ser compreendida a partir de duas perspectivas. A primeira refere-se à Agroecologia como movimento social e a segunda como Ciência. Como movimento, a Agroecologia avança por meio da experimentação social de formas inovadoras organização técnica e socioeconômica da agricultura camponesa. Essas experiências são a expressão de formas de resistência camponesa às forças econômicas, políticas e ideológicas que tendem a empurrar esse vasto setor social para fora do mundo rural. É nesse sentido que a opção pelo fortalecimento de uma agricultura familiar camponesa próspera e socialmente significativa depende também do desenvolvimento da Agroecologia como ciência. “É da união entre a sabedoria popular com o saber científico que se espera produzir um conhecimento superior, capaz de reorientar os rumos do desenvolvimento rural com base nos princípios da sustentabilidade socioambiental, cultural e econômica”, disse.

Ainda segundo Petersen, existem fortes bloqueios de natureza conceitual e metodológica que dificultam a criação de pontes entre essas duas formas diferentes e complementares de produção de conhecimentos. Para o especialista, o enfoque analítico e fragmentador que organiza a ação das instituições científico-acadêmicas tem se mostrado um verdadeiro obstáculo à compreensão da natureza complexa e diversificada dos agroecossistemas de base camponesa. “Sem a apreensão dessa complexidade, pelo viés sistêmico, dificilmente os pesquisadores conseguem estabelecer um diálogo fluido com as comunidades rurais e assim os seus esforços investigativos permanecem focados em produtos ou cadeia produtivas específicas”. Se para a lógica da modernização agrícola, baseada na especialização produtiva, esse tipo de perspectiva reducionista pode dar grandes contribuições, para o estudo dos sistemas diversificados dos camponeses a sua aplicabilidade é baixa e, com frequência, contraproducente.

Essa é a razão que a ANA atribuí ao esforço despendido no diálogo com a Embrapa e com as outras instituições científicas que intervêm na realidade rural brasileira. De acordo com Petersen, somente aprofundando os conhecimentos sobre os fundamentos da sustentabilidade nos agroecossistemas é que a Agroecologia conseguirá mostrar seu potencial no que se refere à promoção de uma agricultura que concilie desenvolvimento econômico, inclusão social, conservação ambiental e preservação de meios de vida e culturas rurais. “O pouco que já foi investido em pesquisa nessa área já demonstrou esse enorme potencial de resposta para o conjunto da sociedade brasileira. Nossa expectativa é que a linha agroecológica penetre e se aprimore na Embrapa e em outras instituições científicas e que novos mecanismos de pesquisa agrícola e extensão rural sejam desenvolvidos de forma a que a inovação local com a efetiva participação de agricultores e agricultoras atue como dispositivo social para a refundação da agricultura na natureza e na sociedade”, concluiu.

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