segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

DUAS VISÕES DE MUNDO SE CONFRONTAM EM COPENHAGUE

Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo. Mas estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana. O artigo é de Leonardo Boff.

Leonardo Boff

Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

III FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO MARANHÃO




ESPECIALISTAS ANALISAM A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL

Por Tatiana Félix da Adital


Um modelo que se baseia em princípios de cooperação, autonomia e autogestão, que propõe a redução das desigualdades e maior atenção ao meio ambiente. Além de valorizar o trabalho humano, a prática do comércio justo e consumo consciente. Essa é a proposta da Economia Solidária (ES), que é comemorada amanhã, 15 de Dezembro, em todo o Brasil.

O movimento da Economia Solidária tem crescido nos últimos dez anos no país. Essa opinião é compartilhada por três especialistas da área. Joaquim Melo, fundador do Banco Palmas, localizado em Fortaleza, Ceará; Lúcio Uberdan, membro do Forum Gaúcho de EPS e também coordenador da Setorial de ES do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (RS) e Clóvis Vailant, integrante do Forum Brasileiro de ES.

Joaquim explica que desde o primeiro encontro sobre ES, por volta do ano 2000, o movimento não só cresceu, como também se espalhou pelos estados brasileiros. "Hoje são mais de 20 mil empreendimentos", diz. "Esse movimento tem crescido de baixo para cima. É muito importante ressaltar isso", completa.

Para Lúcio Uberdan "a economia solidária cresce porque nossa sociedade é muito desigual, e ainda, passamos por uma crise financeira mundial". Segundo Clóvis, este novo modelo de desenvolvimento conseguiu pautar os governos, "mas estamos ainda às margens das discussões políticas, nos espaços periféricos".

A visibilidade dessas atividades tem conquistado avanços também no campo das Políticas Públicas com as leis estaduais e municipais para o setor. "Mas falta ainda uma legislação em nível federal", opina Joaquim. Para ele, a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), em 2003, representa um grande avanço, porém, o órgão dispõe de poucos recursos de fomento e apoio aos empreendedores solidários.

Quando se fala em desafios e entraves enfrentados pelo setor, todos são unânimes: dificuldade de acesso ao crédito e falta de espaços de comercialização. "Tem poucos canais para comercializar e os produtos são ainda muito artesanais. Precisa ter avanço qualitativo e tecnológico", critica Joaquim. Ele diz ainda que é preciso ter estratégia comercial.

Os eventos tão comuns na área, como as feiras, não têm sido suficientes para estruturar e garantir o escoamento contínuo dos produtos. Para Lúcio "está na hora de os empreendimentos darem um salto". Ele diz que, embora crescente, o movimento econômico solidário ainda está em construção.

"No mercado capitalista está tudo organizado, você sabe quem é o patrão, quem é o empregado. Mas na Economia Solidária, mesmo tendo a vantagem do trabalho autogestionário, ainda está sendo tudo estruturado", explica.

Uma das grandes lutas deste movimento é pelo apoio e fomento aos empreendimentos, associações e cooperativas, e a criação do marco legal. Para Lúcio, a falta de recursos não dá condições para esses empreendimentos competirem no mercado capitalista. "Não temos políticas públicas que consolidem os grupos solidários", diz.

Joaquim ressalta também o aumento no número de instituições financeiras que atuam dentro da lógica solidária. "Hoje já são 51 bancos comunitários pelo Brasil". Esses bancos representam uma saída e apoio para os pequenos grupos, já que os grandes bancos dificultam o financiamento para essa camada da economia.

Mesmo concordando com o crescimento da ES no Brasil, a tendência para o futuro é vista com reservas e divergências entre os analistas. Joaquim espera a criação do marco legal para a economia solidária no Brasil e diz que "é necessário haver a articulação deste movimento com outros movimentos sociais".

Com análise rigorosa, Lúcio Uberdan diz que vê duas possibilidades para o futuro. Uma é a ES se conformar em ser um movimento social e, junto com outros movimentos, pensarem outra economia também solidária. Ou ainda, continuar crescendo, mas de forma vegetativa, se acomodando e servindo de prestador de serviços e mão-de-obra barata para o sistema capitalista. "Teríamos a autogestão comprometida. E a produção e o lucro viriam definidos de fora", diz.

Com previsão mais otimista, Clóvis acredita que nos próximos 10 anos a ES deve avançar ainda mais. "É um crescimento contínuo". E ainda finaliza dizendo que o surgimento das associações e cooperativas têm sido a saída para os trabalhadores enfrentarem a crise econômica.

DEPUTADOS APROVAM PROIBIÇÃO DE TRANGÊNICOS NA MERENDA ESCOLAR

http://www.alesc.sc.gov.br/portal/imprensa/leitor_noticia.php?codigo=22728

Uma prova de que a persistência tem seu valor é o projeto 382/07, de autoria da deputada Professora Odete de Jesus (PRB). Levado à votação após dois anos de tramitação, foi aprovado na última quinta-feira (3) pela Assembleia de Santa Catarina. Caso seja sancionado pelo Governo do Estado, proibirá o uso de alimentos geneticamente modificados (transgênicos) na merenda escolar dos alunos de estabelecimentos de ensino da rede pública.

O projeto é parte de uma luta antiga da deputada, que vem defendendo a proibição de plantio e comercialização desses produtos. Em 2004, Odete apresentou projeto determinando a afixação de avisos com identificação de Transgênicos nas prateleiras dos Supermercados e similares, modificando parte da Lei 12.128/02. Mesmo tendo sido aprovado em todas as comissões e pelo Plenário, em 2006 recebeu veto do Governo.

Odete de Jesus, que criou e preside o Fórum Permanente dos Transgênicos da Assembleia, mantém reuniões com universidades, o Conselho Técnico Catarinense de Biossegurança (CTCBio), Epagri e Cidasc. Na pauta, a preparação de uma campanha de esclarecimentos da população. Uma pesquisa que já tem mais de quinhentos questionários respondidos serve de subsidio ao projeto. "A partir de campanhas institucionais, queremos levar o conhecimento à sociedade e esclarecer realmente o que são os organismos geneticamente modificados," adianta Odete.

Segundo a deputada, algumas das mais cruciais perguntas a respeito dos efeitos da engenharia genética (EG) e dos organismos geneticamente modificados sobre a saúde das pessoas foram apresentadas a mais de vinte anos. “A maioria delas ainda não foi respondida, ou tem respostas insatisfatórias”, alerta. “Quem sabe o que estamos comendo e bebendo, realmente?”, questiona.

Assessoria de Imprensa
Gabinete deputada Professora
Odete de Jesus (PRB)
Jorn. Ivan Pimentel (48)32212686

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Proibida a utilização de transgênicos na merenda escolar das escolas da rede pública
http://www.alesc.sc.gov.br/portal/imprensa/leitor_noticia.php?codigo=22716

03/12 - Iniciativa da deputada Professora Odete de Jesus (PRB), o Projeto de Lei nº 382/07, aprovado hoje (3), proíbe a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) (transgênicos) na composição da merenda escolar fornecida aos alunos dos estabelecimentos de ensino da rede pública de Santa Catarina.

A parlamentar lembra que o consumo de OGM vem sofrendo restrições no mundo inteiro pelo fato de que não há a comprovação de que estes produtos não apresentam riscos futuros à saúde da população. “Julgamos necessário que os alunos da rede pública de ensino de Santa Catarina sejam protegidos quanto à utilização de produtos transgênicos na merenda escolar que lhes é oferecida, pelo menos até que haja uma decisão final sobre a possibilidade de utilizar estes produtos sem riscos para a saúde”.

(Rubens Vargas/Divulgação Alesc)

BRASIL APRESENTA PESQUISA QUE CULPA PECUÁRIA PELO EFEITO ESTUFA

A metade dos gases responsáveis pelo efeito estufa emitidos no Brasil procede da pecuária, segundo um estudo apresentado neste sábado em Copenhague, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática.

Ao analisar as emissões totais do Brasil "foi possível observar que o conjunto das emissões procedentes desta atividade (pecuária) corresponde, aproximadamente, à metade das emissões do Brasil", destaca o trabalho, liderado por Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília.

Os pesquisadores brasileiros concluíram que das 2,2 gigatoneladas de equivalente do dióxido de carbono (CO2) emitidas oficialmente pelo Brasil em 2005, segundo dados do ministério brasileiro de Ciência e Tecnologia, aproximadamente 1.055 gigatoneladas correspondem à pecuária.

As emissões geradas pela pecuária incluem o desmatamento para a formação de pastos, queimadas para a renovação do capim e a fermentação intestinal bovina, que gera importantes quantidades de metano, um dos gases de maior efeito sobre o aquecimento global, disse Roberto Smeraldi, especialista da associação Amigos da Terra-Amazônia Brasileira.

Admitindo que a pecuária "é parte do problema da mudança climática", Smeraldi destacou que "ela também deve ser considerada como parte da solução" nas negociações em Copenhague sobre um novo acordo internacional para combater o aquecimento global.

Smeraldi disse que é preciso fazer a pecuária evoluir, controlando o desmatamento para a formação de pastos, acabando com a impunidade dos crimes climáticos e dando incentivos econômicos aos criadores.

O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, com mais de 190 milhões de cabeças.

As emissões brasileiras de gases do efeito estufa cresceram 62% entre 1990 e 2005, e mais da metade deste aumento corresponde ao manejo da terra.

O Brasil decidiu em Copenhague adotar um "compromisso voluntário" de reduzir suas emissões de CO2 entre 36% e 39% sobre a previsão de emissões para 2020, e mais da metade desta redução procederá da queda no desmatamento da selva amazônica. O restante dependerá de ações nos setores agropecuário, industrial, energético e siderúrgico.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PGPAF CONCEDE BÔNUS PARA 21 CULTURAS DA AGRICULTURA FAMILIAR

10/12/2009

Agricultores familiares que cultivam arroz, babaçu (amêndoa), borracha natural (extrativismo), borracha natural (heveicultura), café arábica, café conillon, castanha de caju, castanha do brasil, feijão, girassol, leite, mamona, milho, pequi (fruto), piaçava (fibra), raiz de mandioca, sisal, sorgo, trigo e triticale contam, em dezembro, com o bônus do Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) para os financiamentos dessas 21 culturas (veja tabela anexa).

A portaria do PGPAF foi publicada na última segunda-feira (7), no Diário Oficial da União (DOU). Os preços de mercado e o bônus de desconto referem-se ao mês de novembro de 2009 e têm validade para o período de 10 de dezembro deste ano a 9 de janeiro de 2010.

Culturas e sociobiodiversidade

O feijão tem bônus em 18 estados. Entre eles, Sergipe, onde os agricultores familiares contarão com descontos de 38,63% para o produto. Outro item da cesta básica que conta com abatimento, neste mês, é o arroz (longo fino em casca). Na Bahia, será de 16,28%.

Neste mês, os financiamentos de milho também têm bônus do PGAPF em 12 estados, entre eles o Mato Grosso (com 29,24%).

Alguns produtos da sociobiodiversidade também recebem bônus, em dezembro, como o babaçu (50% no Maranhão), a borracha natural de extrativismo (71,43% no Pará), a castanha de caju (40% no Maranhão) e o pequi (38,71% em Minas Gerais), entre outros.

O PGPAF ainda concede bônus para a raiz da mandioca (com 5,41%, para o Mato Grosso). Segundo dados do último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é responsável por 87% da produção nacional de mandioca.

Segundo o diretor de Financiamento de Proteção da Produção da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), João Luiz Guadagnin, o PGPAF está se tornando cada vez mais nacional ao abranger um número maior de estados e de culturas. “O Programa é um importante estímulo para a diversificação produtiva”, afirma.

Programa

O PGPAF, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2006, possibilita que o agricultor familiar pague os financiamentos de custeio e investimento com um bônus, que corresponde a diferença entre os preços garantidores e o preço de mercado, nos casos em que o valor do produto financiado esteja abaixo do preço de garantia.

Atualmente, o Programa abrange 35 culturas: babaçu, açaí, borracha natural extrativa, pequi e piaçava, algodão, alho, amendoim, borracha natural, caprino de corte, ovinos de corte, castanha-do-brasil, carnaúba, girassol, juta, malva, sisal, sorgo, triticale, arroz, café conilon, café arábica, inhame, cará, castanha de caju, cebola, feijão, leite, mamona, milho, pimenta-do-reino, mandioca, soja, tomate e trigo. Essas culturas respondem por mais de 97% das operações de custeio do Pronaf e mais de 98% das operações de investimento.

O PGPAF é mais uma segurança aos agricultores familiares de que seus financiamentos de custeio e/ou investimento, no momento em que forem pagos aos bancos, terão valor compatível com o custo de produção. “Dessa forma, garante-se que as famílias rurais não terão de se desfazer de seu patrimônio para pagar o financiamento quando os preços estiverem abaixo do custo de produção”, destaca Guadagnin.

Cálculo do PGPAF

O bônus do PGPAF é calculado mensalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e divulgado pela SAF/MDA. A Conab faz um levantamento nas principais praças de comercialização dos produtos da agricultura familiar e que integram o PGPAF.

Para as operações de custeio e investimento, os bônus ficam limitados a R$ 3,5 mil anuais por beneficiário do crédito rural, no período de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2009, independentemente do número de operações de crédito. A partir de janeiro de 2010, o limite sobe para R$ 5 mil/ano, por agricultor.

Nas operações de investimento do Pronaf, o bônus pode ser concedido bastando que um único produto incluído no PGPAF seja gerador de 35%, ou mais, da renda estimada pelo agricultor para o pagamento do financiamento.

A tabela de bônus do PGPAF está disponível no endereço abaixo.

Fonte: http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codInterno/23046#

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

INVESTIMENTO EM MONOCULTURA VICIA HUMANOS E AGRAVA A MUDANÇA CLIMÁTICA

FIAN Internacional *

Adital -

Tradução: ADITAL
Comunicado de imprensa
Novo Relatório a ser apresentado amanhã em Copenhague

Heidelberg, 9 de dezembro de 2009 - A publicação "Azúcar Rojo, Desiertos Verdes. Informe Latinoamericano sobre Monocultivos e Violações ao Direito à Alimentação e Habitação adequadas, à água, à terra e ao território", coordenada pela FIAN (FoodFirst Information & Action Network), HIC-AL (Coalizão Internacional para o Hábitat, Escritório para América Latina) e Solidariedade Suécia-América Latina (SAL), será apresentada amanhã, 10 de dezembro, em Copenhague. O relatório, composto por artigos de 26 autores e casos de 10 países latinoamericanos, mostra que o modelo agroindustrial baseado em monocultivos tem graves impactos nos direitos humanos. Os monocultivos também geram destruição da biodiversidade e do ecossistema, desmatamento e aumento de gases de efeito estufa, agravando a mudança climática.


O relatório inclui múltiplos testemunhos que relatam as mencionadas violações aos direitos humanos e suas consequências, bem como uma análise profunda, a partir de distintas perspectivas, sobre o tema dos monocultivos. O documento foi possível graças às contribuições de uma ampla gama de movimentos sociais, ONGs, acadêmicos e jornalistas que oferecem suas reflexões desde sua perspectiva particular, experiência e área de conhecimento. Entre os autores e autoras, podemos mencionar a Relatora Especial da ONU para o Direito a uma Habitação Adequada, sra. Raquel Rolnik; a Inge Armbrecht, que participou no processo de Avaliação Internacional de Ciência e Tecnologia em Agricultura para o Desenvolvimento -Assessment of Agricultural Science and Technology for Development (IAASTD)-; a Miguel Altieri, da Universidade da Califórnia, em Berkeley e, finalmente, a Cristian Courtis, especialista em direitos econômicos, sociais e culturais que elaborou a apresentação do relatório.

0 Nos últimos anos foram produzidas inúmeras publicações e estudos sobre monocultivos agrocombustíveis e os problemas e conflitos a eles associados; no entanto, poucos têm sido escritos a partir da perspectiva dos direitos humanos, razão pela qual esse relatório é importante, assegura Maria Sílvia Emanuelli, do escritório de HIC-AL.

O modelo de agricultura industrial ganhou força particularmente a partir da década de 1950, graças ao apoio do Estado e, atualmente, goza do respaldo massivo do setor privado.Em décadas recentes, as críticas a este sistema têm aumentado, ao mesmo tempo em que seus efeitos negativos têm se tornado mais evidentes.

- No contexto das crises energética, de alimentos e mudança climática, é urgente chamar a atenção sobre os graves problemas causados pelo atual modelo de desenvolvimento, especialmente refletido na agricultura, assegura Sofia Monsalve, da FIAN Internacional.

A atual política de agricultura e comércio que promove uma agricultura baseada no monocultivo tem sido desenhada principalmente pelos governos dos Estados Unidos e pela União Europeia. Os interesses empresariais desses países estão fortemente refletidos nestas políticas com impactos devastadores nos países do Sul.

- Nosso desejo é que esse Relatório sirva como uma importante ferramenta para a difusão de informação e que incida nas políticas, disse Francisco Contreras, de SAL.

Detalhes do lançamento do Relatório:

O Relatório será lançado no KlimaForum09, no seminário "O impacto dos Monocultivos no Direito à Alimentação e Habitação na América Latina", na quinta-feira, 10 de dezembro, às 13 horas, no Blue Hall, Tietgensgade 65, Copenhague. No evento, contaremos com a participação de algumas das pessoas que colaboraram na redação do mesmo, como Ana Filipini, do Movimento Mundial para os Bosques Tropicais do Uruguai e representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, do Brasil. Também nos acompanharão representantes da Organização Indígena Sulamericana CAOI.

O Relatório será apresentado nesta ocasião em inglês, e no transcurso de 2010, em espanhol.

Contacto:

Jennie Jonsén, FIAN Sweden, E-mail: jennie.jonsen@fian.se, tel: +46 (0) 70 604 17 07

Wilma Strothenke
Coordinator Communication
FIAN International Secretariat
Willy-Brandt-Platz 5/ D-69115 Heidelberg Germany
Tel +49 (0)6221 65300 56
Fax +49 (0)6221 830545
Postal Address: PO Box 102243/ D-69012 Heidelberg Germany
e-mail: strothenke@fian.org
www.fian.org/ www.face-it-act-now.org


* FIAN International Secretariat

EQUAÇÃO VERDE

WAGNER COSTA RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Discutir temas ambientais deixou de ser uma novidade.
Ao contrário, passou a ser uma obrigação muito menos pelo caráter romântico que o preservacionismo difundiu do que pelo caráter social das questões. A associação entre o social e o ambiental é foco de análises de diversos cientistas sociais que convergem na necessária regulação das ações humanas no ambiente desde o final do século 20.

A partir desse ponto, encontra-se uma série de possibilidades teóricas e metodológicas que ajudam a interpretar o mundo atual em uma perspectiva ambientalista. Essa série de teorias recebeu um impulso por meio de três livros.
O primeiro é "A Terceira Margem", do economista polonês Ignacy Sachs.

Narrado em primeira pessoa, apresenta diversos momentos da vida do pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, professor emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris) e criador do Centro de Estudos do Brasil Contemporâneo, na mesma instituição.

Sua trajetória pessoal é marcada por idas e vindas por diversos países, incluindo Brasil e Índia. Além disso, teve a oportunidade de participar de momentos cruciais da ordem ambiental internacional, como a Conferência de Estocolmo (1972) e a Rio-92.
Entre as diversas passagens que essa rica obra possui, destaque-se a presença de Sachs na reunião preparatória para Estocolmo em Founex (Suíça), de que resultou, segundo escreveu, o seguinte entendimento: "Nada de parar o crescimento enquanto houver pobres e desigualdades sociais gritantes; mas é imperativo que esse crescimento mude no que se refere a suas modalidades e, sobretudo, à divisão de seus frutos. Precisamos de outro crescimento para um outro desenvolvimento. "

Estava lançada a base para o polêmico desenvolvimento sustentável, que, para o autor, permite construir uma nova forma de organizar a vida.

Esse conceito foi a base do livro "Desenvolvimento, Justiça e Meio Ambiente", organizado por José Augusto Pádua, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trata-se de uma coletânea de artigos sobre o desenvolvimento sustentável e sua "aplicação" em algumas situações no Brasil, como a gestão dos biomas do país, a relação com as desigualdades sociais brasileiras, a educação, a justiça ambiental, o setor empresarial e a política externa.

Para o economista da USP José Eli da Veiga, existem restrições ao PIB [Produto Interno Bruto] para avaliar a economia de um país. Aponta que seria oportuno pensar em novos indicadores que possibilitem entender como países como Índia e China devastam seus ambientes naturais em troca de um crescimento econômico per capita muito superior ao conquistado nas últimas décadas pelo Brasil.

Este possui normas de controle ambiental mais eficazes que aqueles países, apesar das dificuldades para fiscalizar sua aplicação.

Juliana e Marcio Santilli, respectivamente advogada e filósofo, comentam o surgimento do socioambientalismo no Brasil, resultado de uma frente de ação política que congregou movimentos sociais e o movimento ambientalista, na segunda metade da década de 80.

Além disso, o associam à redemocratizaçã o do país e à Rio-92, que mobilizou vários segmentos sociais que até então não conversavam, como os Povos da Floresta, liderados por Chico Mendes, e a Central Única dos Trabalhadores, por exemplo.

A outra obra é "A Nova Ordem Ecológica", de Luc Ferry, filósofo francês que já foi ministro da Educação em seu país, lançada originalmente em 1992, em nova tradução.
Ela representou um importante contraponto às teses dos ecologistas profundos, radicais que viam no ambientalismo uma outra forma de reprodução da vida capaz (e necessária) de romper com o capitalismo.

Além disso, o autor dialoga com Michel Serres, que ficou famoso por um livro polêmico, "O Contrato Natural", em que afirma a necessidade de uma nova relação com a natureza, que teria direitos assim como os seres humanos.

Para Ferry, a ecologia profunda seria portadora da visão moral do ambientalismo por considerar a "ordem do mundo boa em si mesma", que seria degradada pela ação humana. Ou seja, estaríamos diante da sacralização da natureza, criticada também pelo economista espanhol Joan Martínez Alier em "O Ecologismo dos Pobres" [ed. Contexto].

Visões de mundo
Sustentabilidade, preservação ambiental, socioambientalismo e ecologismo dos pobres representam correntes teóricas diferentes que visam a conservar a natureza. Cada uma remete a uma visão de sociedade.

O debate sobre emissões de gases-estufa na esfera internacional, ou sobre a manutenção de áreas naturais nas propriedades rurais brasileiras, mostra que, mesmo quando há consenso, as diferenças podem levar à falta de ação política, o que preocupa quem está disposto a edificar um outro mundo.Informação é fundamental para tomar uma posição sobre temas complexos como os ambientais. Mas, no caso do ambientalismo, é possível ir além e buscar matrizes teóricas diferentes para interpretar o mundo contemporâneo. Afinal, já existe o consenso de que é preciso preservar a vida na Terra, inclusive a humana. O problema é qual estilo de vida se quer manter.

WAGNER COSTA RIBEIRO é professor no departamento de geografia e no Instituto de Estudos Avançados da USP. É autor de "Geografia Política da Água" (ed. Annablume).