segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

DUAS VISÕES DE MUNDO SE CONFRONTAM EM COPENHAGUE

Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo. Mas estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana. O artigo é de Leonardo Boff.

Leonardo Boff

Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

III FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO MARANHÃO




ESPECIALISTAS ANALISAM A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL

Por Tatiana Félix da Adital


Um modelo que se baseia em princípios de cooperação, autonomia e autogestão, que propõe a redução das desigualdades e maior atenção ao meio ambiente. Além de valorizar o trabalho humano, a prática do comércio justo e consumo consciente. Essa é a proposta da Economia Solidária (ES), que é comemorada amanhã, 15 de Dezembro, em todo o Brasil.

O movimento da Economia Solidária tem crescido nos últimos dez anos no país. Essa opinião é compartilhada por três especialistas da área. Joaquim Melo, fundador do Banco Palmas, localizado em Fortaleza, Ceará; Lúcio Uberdan, membro do Forum Gaúcho de EPS e também coordenador da Setorial de ES do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (RS) e Clóvis Vailant, integrante do Forum Brasileiro de ES.

Joaquim explica que desde o primeiro encontro sobre ES, por volta do ano 2000, o movimento não só cresceu, como também se espalhou pelos estados brasileiros. "Hoje são mais de 20 mil empreendimentos", diz. "Esse movimento tem crescido de baixo para cima. É muito importante ressaltar isso", completa.

Para Lúcio Uberdan "a economia solidária cresce porque nossa sociedade é muito desigual, e ainda, passamos por uma crise financeira mundial". Segundo Clóvis, este novo modelo de desenvolvimento conseguiu pautar os governos, "mas estamos ainda às margens das discussões políticas, nos espaços periféricos".

A visibilidade dessas atividades tem conquistado avanços também no campo das Políticas Públicas com as leis estaduais e municipais para o setor. "Mas falta ainda uma legislação em nível federal", opina Joaquim. Para ele, a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), em 2003, representa um grande avanço, porém, o órgão dispõe de poucos recursos de fomento e apoio aos empreendedores solidários.

Quando se fala em desafios e entraves enfrentados pelo setor, todos são unânimes: dificuldade de acesso ao crédito e falta de espaços de comercialização. "Tem poucos canais para comercializar e os produtos são ainda muito artesanais. Precisa ter avanço qualitativo e tecnológico", critica Joaquim. Ele diz ainda que é preciso ter estratégia comercial.

Os eventos tão comuns na área, como as feiras, não têm sido suficientes para estruturar e garantir o escoamento contínuo dos produtos. Para Lúcio "está na hora de os empreendimentos darem um salto". Ele diz que, embora crescente, o movimento econômico solidário ainda está em construção.

"No mercado capitalista está tudo organizado, você sabe quem é o patrão, quem é o empregado. Mas na Economia Solidária, mesmo tendo a vantagem do trabalho autogestionário, ainda está sendo tudo estruturado", explica.

Uma das grandes lutas deste movimento é pelo apoio e fomento aos empreendimentos, associações e cooperativas, e a criação do marco legal. Para Lúcio, a falta de recursos não dá condições para esses empreendimentos competirem no mercado capitalista. "Não temos políticas públicas que consolidem os grupos solidários", diz.

Joaquim ressalta também o aumento no número de instituições financeiras que atuam dentro da lógica solidária. "Hoje já são 51 bancos comunitários pelo Brasil". Esses bancos representam uma saída e apoio para os pequenos grupos, já que os grandes bancos dificultam o financiamento para essa camada da economia.

Mesmo concordando com o crescimento da ES no Brasil, a tendência para o futuro é vista com reservas e divergências entre os analistas. Joaquim espera a criação do marco legal para a economia solidária no Brasil e diz que "é necessário haver a articulação deste movimento com outros movimentos sociais".

Com análise rigorosa, Lúcio Uberdan diz que vê duas possibilidades para o futuro. Uma é a ES se conformar em ser um movimento social e, junto com outros movimentos, pensarem outra economia também solidária. Ou ainda, continuar crescendo, mas de forma vegetativa, se acomodando e servindo de prestador de serviços e mão-de-obra barata para o sistema capitalista. "Teríamos a autogestão comprometida. E a produção e o lucro viriam definidos de fora", diz.

Com previsão mais otimista, Clóvis acredita que nos próximos 10 anos a ES deve avançar ainda mais. "É um crescimento contínuo". E ainda finaliza dizendo que o surgimento das associações e cooperativas têm sido a saída para os trabalhadores enfrentarem a crise econômica.

DEPUTADOS APROVAM PROIBIÇÃO DE TRANGÊNICOS NA MERENDA ESCOLAR

http://www.alesc.sc.gov.br/portal/imprensa/leitor_noticia.php?codigo=22728

Uma prova de que a persistência tem seu valor é o projeto 382/07, de autoria da deputada Professora Odete de Jesus (PRB). Levado à votação após dois anos de tramitação, foi aprovado na última quinta-feira (3) pela Assembleia de Santa Catarina. Caso seja sancionado pelo Governo do Estado, proibirá o uso de alimentos geneticamente modificados (transgênicos) na merenda escolar dos alunos de estabelecimentos de ensino da rede pública.

O projeto é parte de uma luta antiga da deputada, que vem defendendo a proibição de plantio e comercialização desses produtos. Em 2004, Odete apresentou projeto determinando a afixação de avisos com identificação de Transgênicos nas prateleiras dos Supermercados e similares, modificando parte da Lei 12.128/02. Mesmo tendo sido aprovado em todas as comissões e pelo Plenário, em 2006 recebeu veto do Governo.

Odete de Jesus, que criou e preside o Fórum Permanente dos Transgênicos da Assembleia, mantém reuniões com universidades, o Conselho Técnico Catarinense de Biossegurança (CTCBio), Epagri e Cidasc. Na pauta, a preparação de uma campanha de esclarecimentos da população. Uma pesquisa que já tem mais de quinhentos questionários respondidos serve de subsidio ao projeto. "A partir de campanhas institucionais, queremos levar o conhecimento à sociedade e esclarecer realmente o que são os organismos geneticamente modificados," adianta Odete.

Segundo a deputada, algumas das mais cruciais perguntas a respeito dos efeitos da engenharia genética (EG) e dos organismos geneticamente modificados sobre a saúde das pessoas foram apresentadas a mais de vinte anos. “A maioria delas ainda não foi respondida, ou tem respostas insatisfatórias”, alerta. “Quem sabe o que estamos comendo e bebendo, realmente?”, questiona.

Assessoria de Imprensa
Gabinete deputada Professora
Odete de Jesus (PRB)
Jorn. Ivan Pimentel (48)32212686

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Proibida a utilização de transgênicos na merenda escolar das escolas da rede pública
http://www.alesc.sc.gov.br/portal/imprensa/leitor_noticia.php?codigo=22716

03/12 - Iniciativa da deputada Professora Odete de Jesus (PRB), o Projeto de Lei nº 382/07, aprovado hoje (3), proíbe a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) (transgênicos) na composição da merenda escolar fornecida aos alunos dos estabelecimentos de ensino da rede pública de Santa Catarina.

A parlamentar lembra que o consumo de OGM vem sofrendo restrições no mundo inteiro pelo fato de que não há a comprovação de que estes produtos não apresentam riscos futuros à saúde da população. “Julgamos necessário que os alunos da rede pública de ensino de Santa Catarina sejam protegidos quanto à utilização de produtos transgênicos na merenda escolar que lhes é oferecida, pelo menos até que haja uma decisão final sobre a possibilidade de utilizar estes produtos sem riscos para a saúde”.

(Rubens Vargas/Divulgação Alesc)

BRASIL APRESENTA PESQUISA QUE CULPA PECUÁRIA PELO EFEITO ESTUFA

A metade dos gases responsáveis pelo efeito estufa emitidos no Brasil procede da pecuária, segundo um estudo apresentado neste sábado em Copenhague, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática.

Ao analisar as emissões totais do Brasil "foi possível observar que o conjunto das emissões procedentes desta atividade (pecuária) corresponde, aproximadamente, à metade das emissões do Brasil", destaca o trabalho, liderado por Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília.

Os pesquisadores brasileiros concluíram que das 2,2 gigatoneladas de equivalente do dióxido de carbono (CO2) emitidas oficialmente pelo Brasil em 2005, segundo dados do ministério brasileiro de Ciência e Tecnologia, aproximadamente 1.055 gigatoneladas correspondem à pecuária.

As emissões geradas pela pecuária incluem o desmatamento para a formação de pastos, queimadas para a renovação do capim e a fermentação intestinal bovina, que gera importantes quantidades de metano, um dos gases de maior efeito sobre o aquecimento global, disse Roberto Smeraldi, especialista da associação Amigos da Terra-Amazônia Brasileira.

Admitindo que a pecuária "é parte do problema da mudança climática", Smeraldi destacou que "ela também deve ser considerada como parte da solução" nas negociações em Copenhague sobre um novo acordo internacional para combater o aquecimento global.

Smeraldi disse que é preciso fazer a pecuária evoluir, controlando o desmatamento para a formação de pastos, acabando com a impunidade dos crimes climáticos e dando incentivos econômicos aos criadores.

O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, com mais de 190 milhões de cabeças.

As emissões brasileiras de gases do efeito estufa cresceram 62% entre 1990 e 2005, e mais da metade deste aumento corresponde ao manejo da terra.

O Brasil decidiu em Copenhague adotar um "compromisso voluntário" de reduzir suas emissões de CO2 entre 36% e 39% sobre a previsão de emissões para 2020, e mais da metade desta redução procederá da queda no desmatamento da selva amazônica. O restante dependerá de ações nos setores agropecuário, industrial, energético e siderúrgico.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PGPAF CONCEDE BÔNUS PARA 21 CULTURAS DA AGRICULTURA FAMILIAR

10/12/2009

Agricultores familiares que cultivam arroz, babaçu (amêndoa), borracha natural (extrativismo), borracha natural (heveicultura), café arábica, café conillon, castanha de caju, castanha do brasil, feijão, girassol, leite, mamona, milho, pequi (fruto), piaçava (fibra), raiz de mandioca, sisal, sorgo, trigo e triticale contam, em dezembro, com o bônus do Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) para os financiamentos dessas 21 culturas (veja tabela anexa).

A portaria do PGPAF foi publicada na última segunda-feira (7), no Diário Oficial da União (DOU). Os preços de mercado e o bônus de desconto referem-se ao mês de novembro de 2009 e têm validade para o período de 10 de dezembro deste ano a 9 de janeiro de 2010.

Culturas e sociobiodiversidade

O feijão tem bônus em 18 estados. Entre eles, Sergipe, onde os agricultores familiares contarão com descontos de 38,63% para o produto. Outro item da cesta básica que conta com abatimento, neste mês, é o arroz (longo fino em casca). Na Bahia, será de 16,28%.

Neste mês, os financiamentos de milho também têm bônus do PGAPF em 12 estados, entre eles o Mato Grosso (com 29,24%).

Alguns produtos da sociobiodiversidade também recebem bônus, em dezembro, como o babaçu (50% no Maranhão), a borracha natural de extrativismo (71,43% no Pará), a castanha de caju (40% no Maranhão) e o pequi (38,71% em Minas Gerais), entre outros.

O PGPAF ainda concede bônus para a raiz da mandioca (com 5,41%, para o Mato Grosso). Segundo dados do último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é responsável por 87% da produção nacional de mandioca.

Segundo o diretor de Financiamento de Proteção da Produção da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), João Luiz Guadagnin, o PGPAF está se tornando cada vez mais nacional ao abranger um número maior de estados e de culturas. “O Programa é um importante estímulo para a diversificação produtiva”, afirma.

Programa

O PGPAF, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2006, possibilita que o agricultor familiar pague os financiamentos de custeio e investimento com um bônus, que corresponde a diferença entre os preços garantidores e o preço de mercado, nos casos em que o valor do produto financiado esteja abaixo do preço de garantia.

Atualmente, o Programa abrange 35 culturas: babaçu, açaí, borracha natural extrativa, pequi e piaçava, algodão, alho, amendoim, borracha natural, caprino de corte, ovinos de corte, castanha-do-brasil, carnaúba, girassol, juta, malva, sisal, sorgo, triticale, arroz, café conilon, café arábica, inhame, cará, castanha de caju, cebola, feijão, leite, mamona, milho, pimenta-do-reino, mandioca, soja, tomate e trigo. Essas culturas respondem por mais de 97% das operações de custeio do Pronaf e mais de 98% das operações de investimento.

O PGPAF é mais uma segurança aos agricultores familiares de que seus financiamentos de custeio e/ou investimento, no momento em que forem pagos aos bancos, terão valor compatível com o custo de produção. “Dessa forma, garante-se que as famílias rurais não terão de se desfazer de seu patrimônio para pagar o financiamento quando os preços estiverem abaixo do custo de produção”, destaca Guadagnin.

Cálculo do PGPAF

O bônus do PGPAF é calculado mensalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e divulgado pela SAF/MDA. A Conab faz um levantamento nas principais praças de comercialização dos produtos da agricultura familiar e que integram o PGPAF.

Para as operações de custeio e investimento, os bônus ficam limitados a R$ 3,5 mil anuais por beneficiário do crédito rural, no período de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2009, independentemente do número de operações de crédito. A partir de janeiro de 2010, o limite sobe para R$ 5 mil/ano, por agricultor.

Nas operações de investimento do Pronaf, o bônus pode ser concedido bastando que um único produto incluído no PGPAF seja gerador de 35%, ou mais, da renda estimada pelo agricultor para o pagamento do financiamento.

A tabela de bônus do PGPAF está disponível no endereço abaixo.

Fonte: http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codInterno/23046#

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

INVESTIMENTO EM MONOCULTURA VICIA HUMANOS E AGRAVA A MUDANÇA CLIMÁTICA

FIAN Internacional *

Adital -

Tradução: ADITAL
Comunicado de imprensa
Novo Relatório a ser apresentado amanhã em Copenhague

Heidelberg, 9 de dezembro de 2009 - A publicação "Azúcar Rojo, Desiertos Verdes. Informe Latinoamericano sobre Monocultivos e Violações ao Direito à Alimentação e Habitação adequadas, à água, à terra e ao território", coordenada pela FIAN (FoodFirst Information & Action Network), HIC-AL (Coalizão Internacional para o Hábitat, Escritório para América Latina) e Solidariedade Suécia-América Latina (SAL), será apresentada amanhã, 10 de dezembro, em Copenhague. O relatório, composto por artigos de 26 autores e casos de 10 países latinoamericanos, mostra que o modelo agroindustrial baseado em monocultivos tem graves impactos nos direitos humanos. Os monocultivos também geram destruição da biodiversidade e do ecossistema, desmatamento e aumento de gases de efeito estufa, agravando a mudança climática.


O relatório inclui múltiplos testemunhos que relatam as mencionadas violações aos direitos humanos e suas consequências, bem como uma análise profunda, a partir de distintas perspectivas, sobre o tema dos monocultivos. O documento foi possível graças às contribuições de uma ampla gama de movimentos sociais, ONGs, acadêmicos e jornalistas que oferecem suas reflexões desde sua perspectiva particular, experiência e área de conhecimento. Entre os autores e autoras, podemos mencionar a Relatora Especial da ONU para o Direito a uma Habitação Adequada, sra. Raquel Rolnik; a Inge Armbrecht, que participou no processo de Avaliação Internacional de Ciência e Tecnologia em Agricultura para o Desenvolvimento -Assessment of Agricultural Science and Technology for Development (IAASTD)-; a Miguel Altieri, da Universidade da Califórnia, em Berkeley e, finalmente, a Cristian Courtis, especialista em direitos econômicos, sociais e culturais que elaborou a apresentação do relatório.

0 Nos últimos anos foram produzidas inúmeras publicações e estudos sobre monocultivos agrocombustíveis e os problemas e conflitos a eles associados; no entanto, poucos têm sido escritos a partir da perspectiva dos direitos humanos, razão pela qual esse relatório é importante, assegura Maria Sílvia Emanuelli, do escritório de HIC-AL.

O modelo de agricultura industrial ganhou força particularmente a partir da década de 1950, graças ao apoio do Estado e, atualmente, goza do respaldo massivo do setor privado.Em décadas recentes, as críticas a este sistema têm aumentado, ao mesmo tempo em que seus efeitos negativos têm se tornado mais evidentes.

- No contexto das crises energética, de alimentos e mudança climática, é urgente chamar a atenção sobre os graves problemas causados pelo atual modelo de desenvolvimento, especialmente refletido na agricultura, assegura Sofia Monsalve, da FIAN Internacional.

A atual política de agricultura e comércio que promove uma agricultura baseada no monocultivo tem sido desenhada principalmente pelos governos dos Estados Unidos e pela União Europeia. Os interesses empresariais desses países estão fortemente refletidos nestas políticas com impactos devastadores nos países do Sul.

- Nosso desejo é que esse Relatório sirva como uma importante ferramenta para a difusão de informação e que incida nas políticas, disse Francisco Contreras, de SAL.

Detalhes do lançamento do Relatório:

O Relatório será lançado no KlimaForum09, no seminário "O impacto dos Monocultivos no Direito à Alimentação e Habitação na América Latina", na quinta-feira, 10 de dezembro, às 13 horas, no Blue Hall, Tietgensgade 65, Copenhague. No evento, contaremos com a participação de algumas das pessoas que colaboraram na redação do mesmo, como Ana Filipini, do Movimento Mundial para os Bosques Tropicais do Uruguai e representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, do Brasil. Também nos acompanharão representantes da Organização Indígena Sulamericana CAOI.

O Relatório será apresentado nesta ocasião em inglês, e no transcurso de 2010, em espanhol.

Contacto:

Jennie Jonsén, FIAN Sweden, E-mail: jennie.jonsen@fian.se, tel: +46 (0) 70 604 17 07

Wilma Strothenke
Coordinator Communication
FIAN International Secretariat
Willy-Brandt-Platz 5/ D-69115 Heidelberg Germany
Tel +49 (0)6221 65300 56
Fax +49 (0)6221 830545
Postal Address: PO Box 102243/ D-69012 Heidelberg Germany
e-mail: strothenke@fian.org
www.fian.org/ www.face-it-act-now.org


* FIAN International Secretariat

EQUAÇÃO VERDE

WAGNER COSTA RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Discutir temas ambientais deixou de ser uma novidade.
Ao contrário, passou a ser uma obrigação muito menos pelo caráter romântico que o preservacionismo difundiu do que pelo caráter social das questões. A associação entre o social e o ambiental é foco de análises de diversos cientistas sociais que convergem na necessária regulação das ações humanas no ambiente desde o final do século 20.

A partir desse ponto, encontra-se uma série de possibilidades teóricas e metodológicas que ajudam a interpretar o mundo atual em uma perspectiva ambientalista. Essa série de teorias recebeu um impulso por meio de três livros.
O primeiro é "A Terceira Margem", do economista polonês Ignacy Sachs.

Narrado em primeira pessoa, apresenta diversos momentos da vida do pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, professor emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris) e criador do Centro de Estudos do Brasil Contemporâneo, na mesma instituição.

Sua trajetória pessoal é marcada por idas e vindas por diversos países, incluindo Brasil e Índia. Além disso, teve a oportunidade de participar de momentos cruciais da ordem ambiental internacional, como a Conferência de Estocolmo (1972) e a Rio-92.
Entre as diversas passagens que essa rica obra possui, destaque-se a presença de Sachs na reunião preparatória para Estocolmo em Founex (Suíça), de que resultou, segundo escreveu, o seguinte entendimento: "Nada de parar o crescimento enquanto houver pobres e desigualdades sociais gritantes; mas é imperativo que esse crescimento mude no que se refere a suas modalidades e, sobretudo, à divisão de seus frutos. Precisamos de outro crescimento para um outro desenvolvimento. "

Estava lançada a base para o polêmico desenvolvimento sustentável, que, para o autor, permite construir uma nova forma de organizar a vida.

Esse conceito foi a base do livro "Desenvolvimento, Justiça e Meio Ambiente", organizado por José Augusto Pádua, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Trata-se de uma coletânea de artigos sobre o desenvolvimento sustentável e sua "aplicação" em algumas situações no Brasil, como a gestão dos biomas do país, a relação com as desigualdades sociais brasileiras, a educação, a justiça ambiental, o setor empresarial e a política externa.

Para o economista da USP José Eli da Veiga, existem restrições ao PIB [Produto Interno Bruto] para avaliar a economia de um país. Aponta que seria oportuno pensar em novos indicadores que possibilitem entender como países como Índia e China devastam seus ambientes naturais em troca de um crescimento econômico per capita muito superior ao conquistado nas últimas décadas pelo Brasil.

Este possui normas de controle ambiental mais eficazes que aqueles países, apesar das dificuldades para fiscalizar sua aplicação.

Juliana e Marcio Santilli, respectivamente advogada e filósofo, comentam o surgimento do socioambientalismo no Brasil, resultado de uma frente de ação política que congregou movimentos sociais e o movimento ambientalista, na segunda metade da década de 80.

Além disso, o associam à redemocratizaçã o do país e à Rio-92, que mobilizou vários segmentos sociais que até então não conversavam, como os Povos da Floresta, liderados por Chico Mendes, e a Central Única dos Trabalhadores, por exemplo.

A outra obra é "A Nova Ordem Ecológica", de Luc Ferry, filósofo francês que já foi ministro da Educação em seu país, lançada originalmente em 1992, em nova tradução.
Ela representou um importante contraponto às teses dos ecologistas profundos, radicais que viam no ambientalismo uma outra forma de reprodução da vida capaz (e necessária) de romper com o capitalismo.

Além disso, o autor dialoga com Michel Serres, que ficou famoso por um livro polêmico, "O Contrato Natural", em que afirma a necessidade de uma nova relação com a natureza, que teria direitos assim como os seres humanos.

Para Ferry, a ecologia profunda seria portadora da visão moral do ambientalismo por considerar a "ordem do mundo boa em si mesma", que seria degradada pela ação humana. Ou seja, estaríamos diante da sacralização da natureza, criticada também pelo economista espanhol Joan Martínez Alier em "O Ecologismo dos Pobres" [ed. Contexto].

Visões de mundo
Sustentabilidade, preservação ambiental, socioambientalismo e ecologismo dos pobres representam correntes teóricas diferentes que visam a conservar a natureza. Cada uma remete a uma visão de sociedade.

O debate sobre emissões de gases-estufa na esfera internacional, ou sobre a manutenção de áreas naturais nas propriedades rurais brasileiras, mostra que, mesmo quando há consenso, as diferenças podem levar à falta de ação política, o que preocupa quem está disposto a edificar um outro mundo.Informação é fundamental para tomar uma posição sobre temas complexos como os ambientais. Mas, no caso do ambientalismo, é possível ir além e buscar matrizes teóricas diferentes para interpretar o mundo contemporâneo. Afinal, já existe o consenso de que é preciso preservar a vida na Terra, inclusive a humana. O problema é qual estilo de vida se quer manter.

WAGNER COSTA RIBEIRO é professor no departamento de geografia e no Instituto de Estudos Avançados da USP. É autor de "Geografia Política da Água" (ed. Annablume).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

METADE DO MILHO BRASILEIRO PODE SER TRANGÊNICO EM 2010

Amigos leitores,

vejam como a ciência anda rápido.

O debate sempre será o lucro pelo lucro e não a questão da sustentabilidade ou da segurança alimentar.

As modificações genéticas estão sempre pautadas no economico, garantir mais lucratividade para o agronegócio e gera divisas.

Veja esse artigo abaixo, os argumentos usados pelo pesquisador para o uso indiscriminda das semente trangênicas no Brasil.


Herton Escobar escreve para "O Estado de SP":


O milho que vai brotar no Brasil em 2010 terá algo de diferente. Especialmente para as lagartas. A expectativa é que mais da metade das plantas já serão geneticamente modificadas, com um gene embutido em seu DNA que as tornará resistentes ao ataque desses insetos. A safra de verão, que está sendo plantada agora, deverá ser 30% transgênica e a próxima, de inverno, 53%, segundo estimativas da consultoria Céleres.


Na safra anterior - primeira em que o milho transgênico pôde ser plantado legalmente no Brasil - a taxa de adoção foi de 19%. "A velocidade com que essa tecnologia está sendo adotada é surpreendente", avalia o economista José Maria da Silveira, professor da Universidade Estadual de Campinas e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, ONG ligada ao agronegócio.


"Quem plantou uma vez vai plantar de novo", diz o agricultor João Carlos Werlang, presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). Ele mesmo conta que plantou 40 hectares com transgênicos na safra passada, "só para experimentar". Este ano, vai plantar 250 hectares - a fazenda inteira. "O rendimento foi muito melhor do que com o milho convencional", afirma Werlang. "E o manejo é muito mais simples. Dá uma tranquilidade danada."


Onze tipos de milho transgênico já foram aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) desde 2007, mas só um tinha sementes disponíveis no mercado para a safra passada: o MON 810, da empresa Monsanto. Ele traz em seu DNA um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), responsável pela síntese de uma proteína que é tóxica para certos tipos de lagarta que atacam a lavoura - porém inofensiva para o homem e outros animais. Assim, a planta produz seu próprio inseticida orgânico. Quando a larva tenta se alimentar do milho, ela morre, reduzindo a necessidade de pesticidas químicos.


"A semente transgênica é mais cara, mas acaba compensando porque você usa menos inseticida", diz Werlang, cuja fazenda fica nos arredores de Brasília. A média na região, segundo ele, é de seis a oito aplicações de inseticida por plantio. Com o milho transgênico, ele acha que pode chegar a zero. "No ano passado eu fiz uma aplicação só por desencargo de consciência, mas nem precisava. O transgênico daria conta sozinho."


Outros dois milhos transgênicos estão disponíveis para esta safra: o Bt 11, da Syngenta, e o Herculex, da DuPont/Dow. Também foi aprovado recentemente o milho Bt11xGA21, da Syngenta, o primeiro que combina dois genes em uma mesma planta: um de resistência a lagartas e outro, de tolerância ao herbicida glifosato. Isso permite que o produto seja aplicado sobre toda a lavoura para o controle de ervas daninhas, sem prejudicar o milho.


Nos Estados Unidos, 85% do milho plantado já é transgênico, com várias combinações de genes. Na Argentina, 60%.


No caso da soja, a previsão da Céleres é de que a porção de transgênicos na produção brasileira aumente de 65% na safra passada para 71%, na safra 2009-10. A soja transgênica é plantada legalmente no país desde 2003 e ilegalmente, desde o fim da década de 90, com sementes inicialmente contrabandeadas da Argentina.


A única tecnologia disponível é a Roundup Ready (RR), da Monsanto, cuja liberação comercial no país foi bloqueada durante cinco anos - entre 1998 e 2003 -, por causa de ações judiciais movidas por organizações ambientalistas e de defesa do consumidor. Outras quatro variedades estão sendo avaliadas pela CTNBio, incluindo uma desenvolvida em parceria pela Embrapa e a Basf.


A soja RR tem o gene de uma bactéria que a torna resistente ao glifosato. No Rio Grande do Sul, onde o problema com ervas daninhas é mais grave, a adesão aos transgênicos é de quase 100%. Já em Mato Grosso, a soja convencional ainda é a mais plantada. A parcela de transgênicos no Estado foi de 42% na safra passada e poderá chegar a 48% neste ano, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).


A preferência deve-se a dois fatores, segundo o diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Marcelo Monteiro. Um é a falta de variedades transgênicas bem adaptadas ao clima do Estado, onde a soja convencional é extremamente produtiva. Outro é a estratégia comercial de algumas empresas de produzir soja convencional para suprir nichos de mercado na Europa.


É o caso do Grupo André Maggi, que "reservou" uma rota de escoamento e uma região inteira no oeste do Estado só para a produção de soja convencional. A empresa faz parte da recém-criada Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange). "Não somos contra a tecnologia de forma alguma, desde que se respeite o direito do produtor de plantar o que quiser e o do consumidor, de comprar o que quiser", diz o engenheiro agrônomo Ivan Paghi, diretor técnico da Abrange.

(O Estado de SP, 15/11)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MONSANTO ANUNCIA REPASSE DE R$ 8,3 MILHÕES PARA PROJETOS DE PESQUISAS DA EMBRAPA

Oito projetos de pesquisa da Embrapa, todos de biotecnologia voltados para a agricultura nacional, serão beneficiados com recursos, a título de royalties, destinados pela Monsanto. Entre as pesquisas beneficiadas estão o desenvolvimento de recursos genéticos de cereais adaptados à seca, de planta transgênica de feijão tolerante ao estresse hídrico, geração de mamoeiro resistente a múltiplas viroses e estudos envolvendo o bicudo do algodoeiro.

O anúncio foi feito hoje (4 de novembro), em cerimônia na sede da entidade, em Brasília (DF), com o repasse, por parte da Monsanto, de R$ 8,3 milhões para o Fundo de Pesquisa Embrapa e Monsanto. Os valores são oriundos do compartilhamento dos direitos de propriedade intelectual, a título de royalties, sobre a comercialização de variedades de soja da Embrapa com a tecnologia Roundup Ready® na safra 2008/2009. Os recursos serão aplicados em projetos de pesquisa da Embrapa (mais detalhes abaixo), escolhidos por meio de um comitê gestor do Fundo de Pesquisa que a Monsanto mantém em parceria com Embrapa.

De 2006 até este ano a Monsanto já repassou ao Fundo de Pesquisa aproximadamente R$ 20 milhões que beneficiaram dezenas de projetos em biotecnologia de diversas unidades da Embrapa.

O vice-presidente de Negócios da área Internacional da Monsanto Company, Jesus Madrazo, veio ao Brasil para prestigiar o evento. Para ele, esta parceria com a Embrapa abre caminho para o desenvolvimento de outras tecnologias que podem resultar em aumento de produtividade para os agricultores. A iniciativa também apóia projetos que podem tornar a agricultura mais sustentável. “Por conta das demandas agrícolas crescentes, é preciso um esforço conjunto para que possamos produzir mais e conservar mais. Estamos otimistas que, em parceria com clientes, políticos, cientistas, organizações não-governamentais, acadêmicos e indústria, podemos tornar a agricultura mais sustentável.”

De acordo com André Dias, presidente da Monsanto do Brasil, esta parceria com a Embrapa confirma o compromisso da empresa com a agricultura e os produtores. “Nossos investimentos para a agricultura estão voltados no desenvolvimento de tecnologias agrícolas que possam aumentar a produtividade, preservando os recursos naturais e que proporcionem melhora na vida dos agricultores. Em alinhamento a esse foco, sentimos um imenso orgulho em termos como parceiros a Embrapa, referência mundial no desenvolvimento de pesquisas agrícolas”, afirma o executivo.

Para a Embrapa, a parceria com a Monsanto é estratégica. “Acordos como este, com foco na pesquisa agrícola e inovação, são fundamentais, e estão alinhados com as prioridades do governo, no sentido de reunir os setores público e privado no enfrentamento do desafio global de aumentar a produtividade agrícola de maneira sustentável”, completa o diretor-presidente da Embrapa, Pedro Antônio Arraes Pereira.

Projetos contemplados

Os recursos irão contemplar os seguintes projetos de pesquisa da Embrapa:

- Expressão de genes envolvidos com a resposta ao estresse hídrico em plantas transgênicas de feijoeiro, com recursos de R$ 447 mil. O objetivo é a obtenção de plantas transgênicas de feijão tolerantes à seca, por meio da expressão de um gene isolado da soja e outro da mamona. As plantas de feijão transgênico obtidas com expressão desses dois genes poderão ser tolerantes a outros tipos de estresse.

- Plataforma tecnológica para a expressão e produção de proteínas recombinantes em plantas, com R$ 690 mil. A ideia é desenvolver uma plataforma, a partir da parceria entre a Embrapa, o Ludwig Institute for Cancer Research, o New York Branch of Human Câncer Immunology at memorial Sloam-Ketting Cancer Center Research e o National Institute of Health (NIH), instituições consideradas referências nacionais e internacionais na área de clonagem de genes, transgenia, produção de biomoléculas e imunologia. O foco de atuação da plataforma será a expressão e a produção de proteínas de interesse da área médica e da agricultura em plantas como soja, por exemplo.

- Fenotipagem, avaliação de mecanismos de tolerância e associação genômica aplicadas ao desenvolvimento de recursos genéticos de cereais adaptados à seca, com R$ 3,3 milhões. O trabalho terá como objetivo identificar e caracterizar recursos genéticos e mecanismos fisiológicos e moleculares de tolerância à seca em arroz, milho, trigo e sorgo, avaliados em condições de campo. O desenvolvimento de cultivares tolerantes às limitações hídricas será uma alternativa sustentável para minimizar os impactos negativos das mudanças climáticas globais.

- Estudo do transcritoma do Bicudo do Algodoeiro (Anthonomus grandis) e da Broca Gigante (Telchin licus licus) para avaliação de genes candidatos a silenciamento por RNAi, com R$ 448,5 mil. O projeto buscará, por meio da transgenia de plantas, o controle dessas duas importantes pragas que afetam a agropecuária nacional.

- Desenvolvimento de estratégia baseada em RNAi para geração de mamoeiro resistente a múltiplas viroses, com R$ 450 mil. Este projeto visa ao desenvolvimento de novas linhagens de mamoeiros resistentes simultaneamente aos vírus da mancha anelar, do amarelo letal e o da meleira (principais doenças da cultura) utilizando ferramentas da biotecnologia. A produção de cultivares de mamoeiros resistentes à infecção por esses vírus é a opção mais promissora e desejável para ser utilizada em um manejo integrado de pragas.

- Aperfeiçoamento do sistema de manejo de Diabrotica spp. nas culturas do milho e batata, com R$ 443,9 mil. A Diabrotica speciosa é um inseto-praga que afeta diversas culturas no Brasil e que ocorre praticamente em todos os estados brasileiros e em vários países da América do Sul. A transferência de genes exógenos para espécies de plantas cultivadas a partir das novas técnicas de engenharia genética propiciou o desenvolvimento de cultivares resistentes a insetos. Os genes para resistência a insetos mais conhecidos e estudados até o momento são os que expressam as proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Serão criados métodos de estudo e manejo para os organismos geneticamente modificados (OGM), como monitorar em laboratório as populações de insetos quanto à suscetibilidade ao produto comercial.

- Caracterização morfológica e molecular de populações de Noctuideos e determinação da suscetibilidade a inseticidas e toxinas de Bacillus thuringiensis, com R$ 217 mil. Para combater o aparecimento simultâneo de espécies de lagartas na cultura da soja produtores rurais têm-se utilizado cada vez mais de inseticidas químicos de amplo espectro (piretróides, organofosforados e carbamatos), o que tem restringido o uso de produtos de maior seletividade (por exemplo, o vírus AgMNPV da lagarta-da-soja e Bacillus thuringiensis). O incremento da utilização de piretróides e alguns organofosforados tem ocasionado aumento das populações de outras pragas, como, por exemplo, ácaros, dificultando o manejo adequado das pragas da soja. Portanto, o monitoramento é essencial nos programas de manejo de pragas para verificar se a ineficiência do controle químico é devida à seleção de genótipos resistentes ou ainda determinar a condição real da resposta das populações geográficas a um inseticida (ou toxina) e definir se existe a necessidade de modificar as táticas de manejo.

O restante da verba será direcionado ao aporte no Programa de Desenvolvimento de linhagens de soja geneticamente modificadas com os genes Bt e RR2, concomitante à elaboração de um programa de contenção e rastreamento – “Stewardship”, já em execução pela Embrapa Soja, com R$ 1,1 milhão, e para o gerenciamento e acompanhamento das atividades voltadas à execução dos trabalhos.
As informações são de assessoria de imprensa

REFORMA AGRÁRIA É ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

Em tempos de ataques da mídia e dos setores mais conservadores do parlamento ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, afirma que repartir a propriedade da terra assumiu valor de soberania nacional e defesa do meio ambiente.
Nonato de Vasconcelos (AGU)

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, defendeu a reforma agrária como elemento central na configuração de um novo padrão econômico de soberania nacional. O economista participou do seminário Incra 40 anos: Reforma Agrária, Direito e Justiça, na última sexta-feira (16), em Recife (PE).

Ele afirmou que o programa de reforma agrária é um antídoto contra a desnacionalização da propriedade da terra no Brasil, que está ameaçada pela imposição econômica das grandes corporações multinacionais, que, segundo ele, governam a economia no mundo.

Pochmann explicou que o faturamento dos 500 maiores grupos econômicos representa metade de tudo o que é produzido no planeta, sob hegemonia do poder privado. “Nós estamos em um contexto onde não há mais países que tem empresas, mas empresas que tem países. As 50 maiores corporações do mundo têm um faturamento que equivale ao PIB [Produto Interno Bruto] de 120 países”, apontou.

Em relação ao capital estrangeiro atuando sobre o poder político, o presidente do Ipea exemplificou: “é um contexto parecido com aquela pequena cidade de cinco mil habitantes que, de repente, vê lá instalada uma siderurgia, que contrata mais de três mil pessoas e até viabiliza o orçamento da prefeitura, mas ao fim e ao cabo vamos questionar se quem manda na cidade é mesmo o prefeito democraticamente eleito ou o presidente da siderurgia”.

Soberania e meio ambiente

Para Pochmann, a mudança na estrutura fundiária é fundamental para o projeto de soberania nacional, porque é uma decisão sobre o poder econômico das corporações no país. Ele denunciou um processo de internacionalização da propriedade da terra no Brasil, que ganha corpo no cenário de crescente escassez de terras férteis, água doce e minerais.

Além disso, Pochmann avaliou a reforma agrária como estratégica para a defesa do meio ambiente. “A reforma agrária ganha outra dimensão, que é a defesa da sustentabilidade do planeta. A produção definida exclusivamente pelo poder econômico será cada vez mais insustentável. Portanto, a alteração fundiária ganha dimensões adicionais, não apenas o princípio da justiça, econômico e da política, mas, sobretudo, da estratégia de soberania de uma nação e da sustentabilidade ambiental”, destacou.

Ainda segundo Pochmann, que também é professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a história do Brasil foi marcada pelas sociedades agrária e urbano-industrial até o fim do século passado sem que fosse alterada sua estrutura agrária. Ele condenou o processo de concentração de terras e afirmou ser preciso reocupar o campo. “A reforma agrária está no contexto de um novo padrão econômico que defendemos para o país. O campo sofreu uma trajetória de esvaziamento que aumentou a pobreza e a exclusão nas cidades”, finalizou.

Da redação, com assessoria de imprensa

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=118011&id_secao=8

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O VALOR DA BIODIVERSIDADE É MIL VEZES SUPERIOR AO DA AGRICULTURA





Parte da vegetação do cerrado é transformada em carvão. Foto: Roberto Jayme/Reuters



O Cerrado ainda tem 800 mil quilômetros quadrados de terras agricultáveis - uma área igual à da França e Reino Unidos juntos, suficiente para duplicar tudo o que já é ocupado pela agropecuária no bioma.



Especial: Devastação avança sobre a savana brasileira



Se o País for inteligente, não precisará desmatar nem um hectare dessa terra. "A riqueza que temos guardada na biodiversidade do Cerrado é mil vezes superior à da agricultura", diz o engenheiro agrônomo Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).



A afirmação surpreende. Não só pelo conteúdo, mas por sair da boca de um cientista que há mais de 20 anos dedica sua vida ao agronegócio e que se lembra, sorrindo, dos tempos em que passava o correntão no Cerrado em cima de um trator, na fazenda da família em Quirinópolis, no sul de Goiás. Só que os tempos mudaram. Agora, diz Assad, é hora de preservar e pesquisar as riquezas que o bioma tem a oferecer no seu estado natural.



Até mesmo para o bem da própria agricultura. "A preservação do Cerrado é a salvação da lavoura", costuma dizer o pesquisador. Segundo ele, é no DNA das plantas nativas do bioma que estão escondidos os genes capazes de proteger suas inquilinas estrangeiras (a soja, o milho, o algodão, o arroz) do aquecimento global. Dentre as 12 mil espécies nativas conhecidas, só 38 ocorrem no bioma inteiro, o que significa que estão adaptadas a uma grande variabilidade de condições climáticas e de solo.



"A elasticidade genética das plantas do Cerrado é impressionante", afirma Assad. Ele e sua mulher, Leonor, também pesquisadora, destacam que o Cerrado é uma formação mais antiga do que a Amazônia e a Mata Atlântica, tanto do ponto de vista geológico quanto biológico. O que significa que suas espécies já foram expostas - e sobreviveram - a todo tipo de situação: muito frio, calor, seca, etc.



Os genes que conferem essa capacidade adaptativa poderiam ser transferidos para culturas agrícolas via transgenia, tornando soja e companhia igualmente resistentes às intempéries climáticas que estão por vir. Só falta descobri-los. "O Cerrado é o maior laboratório de prospecção de genes do mundo, mas ninguém olha para isso", diz. "Nem estudamos o genoma dessas espécies e já estamos acabando com elas."



Sem falar no potencial farmacológico das plantas medicinais e nos serviços ambientais prestados pelo bioma como um todo: estocagem de carbono, controle climático, controle de erosão, produção de água e outros fatores cruciais para a agricultura. "A conservação tem de ser vista como uma atividade produtiva também", diz a bióloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília.



DESCONHECIMENTO



Não é o que acontece. A riqueza econômica e tecnológica do agronegócio contrasta com a pobreza de recursos e de conhecimento sobre o bioma. "Trabalhar com políticas públicas no Cerrado é muito frustrante", admite o diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires. "Quando se fala em trabalhar com a Amazônia as portas se abrem. Quando se fala em trabalhar com o Cerrado, elas não se mexem."



Mercedes sente a mesma dificuldade. Ela é coordenadora científica da Rede de Pesquisa ComCerrado, recém-criada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com representantes dos 11 Estados do bioma.



A ideia é fazer pelo Cerrado o que o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA) faz pela Amazônia, produzindo o conhecimento científico necessário para entender, valorizar e explorar adequadamente - quando possível - os serviços ambientais prestados por seus ecossistemas. "Não há como fazer boa gestão sem informação", ressalta Mercedes. "Vemos muitas políticas públicas que carecem de embasamento técnico adequado."



Por enquanto, o programa tem R$ 220 mil em caixa para pesquisa. A expectativa é que receba R$ 6 milhões do MCT nos próximos dois anos, mais o valor de uma emenda parlamentar apresentada pela bancada do Distrito Federal - inicialmente orçada em R$ 7 milhões, mas reduzida para R$ 1,7 milhão.



Parte da dificuldade, diz Mercedes, é o Cerrado estar espalhado por várias regiões e não concentrado em um bloco geopolítico coeso, como a Amazônia. "Até a Caatinga tem mais força política do que o Cerrado", diz o gerente do Programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional, Mario Barroso - sem desmerecer a importância da Caatinga.

CENSO CONFIRMA: AGRICULTURA FAMILIAR PRODUZ MAIS EM MENOR ÁREA

Setor emprega quase 75% da mão-de-obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca e 58% do leite consumidos no país.

O Censo Agropecuário 2006 traz uma novidade: pela primeira vez, a agricultura familiar brasileira é retratada nas pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE).

Foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar que representam 84,4% do total, (5.175.489 estabelecimentos) mas ocupam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.

Apesar de ocupar apenas um quarto da área, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões) desse total. Mesmo cultivando uma área menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. O valor bruto da produção na agricultura familiar é 677 reais por hectare/ano.

Os dados do IBGE apontam que em 2006, a agricultura familiar foi responsável por 87% da produção nacional de andioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite , 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil.

Outro resultado positivo apontado pelo Censo 2006 é o número de pessoas ocupadas na agricultura: 12,3 milhões de trabalhadores no campo estão em estabelecimentos da agricultura familiar (74,4% do total de ocupados no campo). Ou seja, de cada dez ocupados no campo, sete estão na agricultura familiar que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares.

Dois terços do total de ocupados no campo são homens. Mas o número de mulheres é bastante expressivo: 4,1 milhões de trabalhadoras no campo estão na agricultura familiar. As mulheres também são responsáveis pela direção de cerca de 600 mil estabelecimentos de agricultura familiar.

O Censo Agropecuário 2006 revela ainda que dos 4,3 milhões de estabelecimentos, 3,2 milhões de produtores são proprietários da terra. Isso representa 74,7% dos estabelecimentos com uma área de 87,7%.

Os critérios que definem o que é agricultura familiar foram determinados pela Lei nº 11.326 aprovada em 2006. Eles são mais restritivos do que os critérios usados em estudos feitos anteriormente por outros organismos como a Fao/Incra e universidades brasileiras que estudaram o setor. A Lei 11.326 determina que quatro módulos fiscais é o limite máximo para um empreendimento familiar. Determina também que a mão-de-obra deve ser predominantemente da própria família e a renda deve ser originada nas
atividades da propriedade e a direção também tem que ser feita por um membro da família.

IMPACTOS DO LATIFUNDIO

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No nosso campo, quem gera emprego e produz comida é a agricultura familiar, mas é a que recebe menos apoio
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APESAR de sua extensão, o Brasil, durante séculos, foi um país de porte pequeno ou médio, com população concentrada no litoral e agricultura em polos exportadores ou em torno de centros urbanos. A hileia e o cerrado não contavam; a pampa e a caatinga contavam precariamente para uma pecuária extensiva e outras atividades. Nas últimas décadas tornou-se viável o acesso a um território muito maior. Onde havia um grande país geográfico surgiu um grande país efetivo. O pomo da discórdia da questão agrária tradicional -a terra agricultável- tornou-se abundante.

Frustrou-se, mesmo assim, a expectativa dos desenvolvimentistas que associavam expansão da fronteira agrícola e democratização da propriedade. Por meios que não excluíram a grilagem e a violência, as regiões novas foram rapidamente dominadas pelos latifúndios. Muitos chegam a centenas de milhares de hectares, alguns à casa dos milhões, uma contribuição brasileira ao bestialógico universal. Propriedades privadas desse tamanho são impensáveis em qualquer outro país.

Esse modo de ocupação territorial se associa a um modelo agrícola que privilegia monoculturas em grandes extensões, em geral voltadas para exportação. O Estado interveio com vigor para impulsioná-las, tendo em vista enfrentar o gargalo cambial da nossa economia, principalmente depois da escalada da dívida externa na década de 1980.
Sob certos pontos de vista, como o da balança comercial e do impulso a uma cadeia industrial, foi um êxito. Sob outros, um desastre. Esse modelo exige anistia de dívidas a cada cinco anos; é um voraz consumidor de energia; espalha problemas ambientais; concentra renda; expulsa gente para cidades congestionadas.

A agricultura é uma atividade fundamental, mas demanda cuidados quando praticada em larga escala. Ela é o aproveitamento, pelo homem, de espécies vegetais oportunistas, adaptadas a ambientes temporários: não desenvolvem estruturas maciças, crescem rapidamente e produzem muitas sementes. Monoculturas extensas substituem sistemas biológicos diversificados e estáveis por sistemas simplificados e instáveis, que exigem permanente aplicação de venenos, de fertilizantes e de outros insumos.
O balanço dessa operação tende a ser negativo, mas isso não é visível a olho nu. O Censo Agropecuário divulgado nesta semana reafirmou o óbvio: no campo brasileiro, quem gera emprego e produz comida é a agricultura familiar, que em geral causa menos impacto ambiental.

Ocupando 24% da área dos estabelecimentos rurais, diz o Censo, nela estão 75% da mão de obra ocupada no campo e dela saem 87% da produção da mandioca, 70% do feijão, 58% do leite e assim por diante. Apesar disso, é uma prima pobre, a que recebe menos apoio. Não financia campanhas eleitorais nem conta com lobbies. A área mais afetada pela voraz expansão do latifúndio moderno é o cerrado, que corresponde a 23% do país, do Maranhão ao Mato Grosso do Sul. Sem o charme da Amazônia, recebe pouca atenção, como se fosse um vazio. É um erro.

Sempre houve ali uma agricultura camponesa. Estão ali 5% da biodiversidade do planeta. Bioma de contato entre todos os demais biomas brasileiros, por sua posição central, é a área de recarga das nossas três grandes bacias hidrográficas, a do São Francisco, a do Paraná e a do Araguaia-Tocantins. A rápida mutação, que inclui a desmedida expansão do eucalipto, devorador de água, compromete o regime hídrico dessas bacias. Nada disso é problema dos ruralistas. Para muitos deles, aliás, tudo isso é coisa de veado.

CESAR BENJAMIN, 55, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

DEFENSORIA ENTRA COM AÇÃO CONTRA EXPANSÃO DE MONOCULTURA DE EUCALIPTOS EM PIQUETE, NO VALE DO PARAÍBA

A Defensoria Pública do Estado em Taubaté ajuizou na última terça (29/09) Ação Civil Pública (ACP) para que seja suspenso o corte e transporte de eucaliptos até a realização de estudos de impacto ambiental e audiências públicas em razão da expansão da monocultura no município de Piquete, no Vale do Paraíba. A ação também busca impedir a utilização de potente herbicida no plantio e conservação de mudas de eucalipto, responsabilizando a Nobrecel SA Celulose e Papel e a Monsanto do Brasil pela contaminação de pessoas e do meio ambiente.

Segundo o Defensor Público Wagner Giron de La Torre, que propôs a ação após denúncia de movimentos sociais de preservação do meio ambiente, a Nobrecel utiliza o herbicida Scout-NA, fabricado pela Monsanto, desde novembro de 2004 na região. Há relatos de diversas pessoas, incluindo ex-trabalhadores da empresa, afetadas pelo herbicida, produto à base de glifosato (componente químico altamente nocivo). Os problemas vão desde a diminuição dos glóbulos brancos, tonturas, náuseas, desmaios, perda de visão até o enrijecimento dos membros.

Além dos danos à saúde de pessoas, todo o ecossistema da região foi contaminado após a utilização do herbicida. Com a contaminação da água e de nascentes, criação de peixes, porcos e bois de pequenos proprietários rurais, que fazem divisa com fazendas de eucaliptos, foi afetada. Moradores denunciam ainda que a utilização dos produtos químicos provocou a morte de várias espécies de pássaros silvestres, de anfíbios e de insetos, e também de centenas de árvores frutíferas.

A ação pede a condenação da Nobrecel e Monsanto a indenizarem por danos morais, no valor de 500 salários mínimos, cada vítima que foi lesada pelos herbicidas. Também requer que as empresas paguem, cada uma, o valor equivalente a 5 mil salários mínimos pelos danos ambientais causados, valor que deverá ser depositado em um fundo municipal para ser aplicado na recomposição ambiental no próprio município de Piquete.

Além do pedido de indenização, a ação busca a condenação do Estado de São Paulo e Prefeitura de Piquete na fiscalização da expansão da monocultura do eucalipto na região e que futuras licenças ambientais sejam condicionadas a realização do Estudo de Impacto Ambiental pelas empresas.

Em março do ano passado, a Defensoria Pública do Estado em Taubaté obteve decisão judicial, no Tribunal de Justiça de São Paulo, para suspender liminarmente plantios e replantios de eucaliptos no município de São Luiz do Paraitinga, também no Vale do Paraíba (saiba mais).

Estudo de Impacto Ambiental – previsão constitucional e legal

Constituição Federal

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
“Art.170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
………..
VI – Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.”

Constituição Estadual

“Artigo 191. O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e do trabalho, entendidas as peculiaridades regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econômico”.
“Artigo 192. A execução de obras, atividades, processos produtivos e empreendimentos e a exploração de recursos naturais de qualquer espécie, quer pelo setor público, quer pelo privado, serão admitidas se houver resguardo do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
………..
§2º A licença ambiental, renovável na forma da lei, para execução e a exploração mencionadas no caput deste artigo, quando potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, será sempre precedida, conforme critérios que a legislação especificar, da aprovação do estudo prévio de impacto ambiental e respectivo relatório a que se dará prévia publicidade, garantida a realização de audiências públicas”.

Resolução nº 1, de 23.01.1986 do CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente

“Art. 1º Para efeito desta resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:
I- a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II as atividades sociais e econômicas;
III a biota;
IV as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V a qualidade dos recursos ambientais.

Art. 2º Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
………..
XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em área acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos de percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental”.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

FAO - PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ATÉ 2050

Representação do Brasil junto à FAO, 24/9/9 - A FAO divulgou Nota à Imprensa sobre as perspectivas em relação à produção mundial de alimentos para o combate à fome e à pobreza até 2050, baseada no primeiro "discussion paper" produzido por ocasião dos preparativos para o Fórum de Especialistas de Alto Nível "Como alimentar o mundo em 2050?" (Roma, 12 e 13 de outubro de 2009). O documento, intitulado "Agricultura Global até 2050", é o primeiro de seis breviários da Agência sobre os seguintes temas: mudanças climáticas e desafios de bioenergia para a alimentação e a agricultura, o desafio tecnológico, investimento, comércio mundial de produtos agrícolas e o desafio especial para a África Subsaariana.

Segundo a FAO, considerando o crescimento populacional mundial previsto em 2,3 bilhões até aquele ano, seria necessário um incremento de 70%% na produção de alimentos a fim de atender às novas demandas. Tal desafio deverá ser ainda mais complexo, tendo em vista o contexto de recursos naturais escassos em várias regiões do mundo e as necessárias adaptações agrícolas às mudanças climáticas nas próximas décadas.

Apesar dos fatores complicadores descritos acima, o Diretor-Geral Adjunto do Departamento Econômico e Social da FAO, Hafez Ghanem, demonstra otimismo cauteloso quanto ao potencial do mundo para alimentar-se até 2050. Segundo Ghanem, contudo, faz-se necessária uma estrutura sócio-econômica apropriada para mitigar desequilíbrios e desigualdades, com vistas a garantir que todos tenham acesso a alimentos nos próximos anos.

De acordo com as últimas projeções das Nações Unidas, a população mundial aumentará de 6,8 bilhões para 9,1 bilhões em 2050, o que representa cerca de um terço adicional de seres humanos em relação ao número atual. Ademais, o nível global de renda deverá aumentar. Consequentemente, a demanda por alimentos deve seguir aumentando. Por outro lado, a produção de biocombustíveis também deverá estimular a demanda por produtos agrícolas, dependendo do preço da energia e das políticas governamentais. Dessa forma, são analisados os limites da suficiência e da sustentabilidade de alguns recursos naturais e fatores de produção no contexto de combate internacional à fome e à pobreza no referido prazo.

No que tange às terra aráveis, estas terão que expandir cerca de 120 milhões de hectares nos países em desenvolvimento, sobretudo naqueles da África Subsaariana e na América Latina. Já nos países desenvolvidos, prevê-se que as terras aráveis declinem cerca de 50 milhões de hectares até 2050, quadro que poderia ser alterado segundo suas demandas por biocombustíveis. A esse respeito, a Agência informou ainda que há recursos suficientes para alimentar a população até 2050. Contudo, muito das áreas potencialmente utilizáveis estão concentradas em poucos países e muitas delas seriam apropriadas somente para alguns tipos de cultivos, não necessariamente aqueles mais demandados. Além disso, muitas dessas fronteiras agrícolas já sofrem de algum tipo de limitação física ou da falta de infraestrutura adequada, que não seria facilmente superada. Dessa forma, investimentos significativos teriam de ser empreendidos a fim de se iniciar uma produção eficiente em tais áreas.

No que diz respeito à água, os recursos hídricos parecem ser suficientes, mas sua escassez alcançará níveis alarmantes principalmente no norte da África e no sul da Ásia. A utilização de menor quantidade de água e a maior produtividade de alimentos será essencial para enfrentar os problemas derivados de sua crescente escassez.

Finalmente, acredita-se no potencial das safras agrícolas para alimentar a crescente população mundial. Os temores de que estas safras estejam alcançando um limite seriam infundados, com exceção de casos específicos.

A FAO encoraja os países a intervirem mais fortemente com a finalidade de agilizar avanços na redução e, finalmente, na eliminação da fome e da pobreza. Para tanto, os investimentos na agricultura primária deverão tornar-se prioritários. Investimentos em infraestrutura rural, em serviços de pesquisa e extensão, em títulos e direitos agrários, em análise de riscos, e em sistemas de controle de segurança alimentar, dentre outras iniciativas, deverão ocupar maior espaço na agenda internacional. Muitas dessas questões poderão objeto de discussão na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar (Roma, 16-18 de novembro de 2009).

A nota sobre o assunto pode ser acessada na página web da FAO: http://www.fao.org/news/story/en/item/35571/icode.


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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PAA: AGRICULTORES PODEM COMERCIALIZAR ATÉ R$ 16 MIL

Os agricultores familiares que participam do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) podem, agora, ampliar sua renda em até R$ 16 mil nas modalidades operadas com recursos dos ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). As alterações foram oficializadas na última terça-feira (15), por meio do Decreto Presidencial 6.959, publicado no Diário Oficial da União (DOU).

O diretor de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria de Agricultura Familiar do MDA, Arnoldo de Campos, explica que antes a comercialização destes agricultores poderia chegar a no máximo R$ 7 mil no PAA.

Agora, um agricultor poderá acessar as modalidades Formação de Estoque e Compra Direta, totalizando R$ 16 mil. Ou, acessar as modalidades Formação de Estoque e Doação Simultânea, totalizando R$ 12,5 mil.

Ampliação em todas modalidades
Com o decreto, foram ampliados os limites dos valores máximos por agricultor familiar para comercializar pelo PAA que, antes, era de R$ 3,5 mil por agricultor/ano em todas as modalidades do Programa, passando a ter valores diferenciados de acordo com as modalidades.

“Foram ampliados os limites do PAA pois se percebeu que uma grande parte dos agricultores e das organizações já poderiam comercializar muito mais do que os R$ 3,5 mil estabelecidos, o que estava limitando a comercialização”, afirma Campos.

Para a Compra Direta da Agricultura Familiar e Apoio à Formação de Estoques, os limites ficam em até R$ 8 mil por agricultor/ano, em cada modalidade.

Já as modalidades Compra da Agricultura Familiar com Doação Simultânea e Compra Direta Local da Agricultura Familiar com Doação Simultânea passam a ter limites, cada uma, de até R$ 4,5 mil por agricultor/ano.

Segundo o Decreto 6.959, outras modalidades que venham a ser criadas pelo Grupo Gestor, destinadas à formação de estoques estratégicos e às pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, terão como limite o valor máximo de R$ 4,5 mil por agricultor/ano.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ESCRAVIDÃO É FLAGRADA EM DESMATE PARA USINA DA vOTORANTIM

Aliciadas por "gatos", vítimas não recebiam salários, eram submetidos a dívidas, viviam em alojamentos impróprios e não tinham alimentação adequada. Obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

Por Maurício Hashizume

Foi preciso um flagrante para que o Grupo Votorantim, conglomerado empresarial categoria peso-pesado, conhecesse melhor as mazelas do trabalho escravo contemporâneo. Fiscais do grupo móvel do governo federal encontraram, no final de agosto, 98 pessoas em condições análogas à escravidão no desmate de áreas que serão inundadas para a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Salto do Rio Verdinho, sob responsabilidade da Votorantim. A obra no Sul de Goiás, entre os municípios de Caçu (GO) e Itarumã (GO), faz ironicamente parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conjunto de projetos de infra-estrutura e energia eleito como prioridade pelo próprio governo federal.

De acordo com a fiscalização, as vítimas foram aliciadas criminosamente por "gatos" (intermediários) no Norte do Mato Grosso e no Oeste de Minas Gerais, não recebiam salários regulares, eram submetidos a um sistema ilegal de endividamento, viviam em alojamentos impróprios e não tinham alimentação adequada. Dentro de uma única casa de fazenda desapropriada que submergirá com a barragem, 52 pessoas se apertavam. "Dormiam umas em cima das outras, em redes e beliches", descreve a auditora fiscal do trabalho Virna Damasceno, que coordenou a operação. Outro galpão utilizado como alojamento para mais de 30 empregados não possuía sequer banheiro.

O procurador do trabalho Alpiniano do Prado Lopes, que integrou a equipe do grupo móvel, confirma que a estimativa de vencimentos era tentadora: pagamento de até R$ 120 por dia de trabalho para quem derrubasse a mata com motosserra própria e até R$ 80 em caso de utilização de equipamento de outrem. Um dos "gatos" aliciou mão-de-obra em Porto Alegre do Norte (MT) e o outro arregimentou trabalhadores de Ituiutaba (MG), localidade que fica mais próxima do local de construção da usina hidrelétrica.

Quando chegaram à área no entorno da obra (os primeiros em maio e os últimos em agosto deste ano), todos acabaram sendo registrados com salário mínimo pela empresa Lima & Cerávolo (L&C), prestadora de serviço terceirizado de "supressão vegetal" à Rio Verdinho Energia S/A (administrada pela Votorantim Energia). Segundo os agentes fiscais, porém, o pagamento não passava de ficção: houve concessão de "adiantamentos" pontuais para compra de alimentos que foram contabilizados como dívidas que seriam descontadas no final da empreitada. Os "gatos" anunciavam que, ao término do serviço previsto para durar mais três meses, todos receberiam as quantias totais pendentes. Aqueles que decidissem ir embora antes da conclusão do trabalho, frisa o procurador Alpiniano, não ganhariam nada.

A constatação de que um outro grupo de contratados da L&C foi dispensado sem receber as verbas rescisórias (leia abaixo) - "os desligamentos foram feitos a pedido", explica Virna, "como se eles próprios tivessem se demitido" - foi tomada como exemplo da má conduta da empresa. Para o grupo móvel, havia, portanto, indícios de que a integralidade dos direitos não seria paga aos que foram libertados. Dentro dessa lógica, acrescenta a coordenadora, alguns ficariam até devendo aos "gatos" após meses de trabalho.

A comida servida foi classificada pelos fiscais como "insuficiente" e consistia basicamente em arroz e feijão. Houve interdição dos alojamentos e 22 autos de infração foram lavrados. Um dos dois "gatos" foi preso por receptação de veículo roubado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que fez parte da comitiva fiscal. Outro trabalhador também foi detido por causa de envolvimento com tráfico de drogas. Durante a operação, o proprietário da Lima & Cerávolo chegou a declarar que os empregados "eram da responsabilidade dos gatos", querendo fazer crer que as condições diziam respeito apenas aos intermediários aliciadores .

De acordo com a fiscalização, o capital social da L&C, fundada em 1998 e com sede em Corrente (PI), se limita a R$ 10 mil. O contrato entre a modesta construtora e a Rio Verdinho Energia S/A, criada pela Votorantim Energia para o empreendimento, atingia R$ 5,5 milhões. A obra, que pretende gerar 510 mil MWh/ano, recebeu financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de aproximadamente R$ 250 milhões.

Integrantes do grupo móvel relatam que a sobreposição de empresas complicou a ação fiscal. Havia uma terceira empresa envolvida, a Mais Verde Planejamento Socioambiental, encarregada das ações no campo ambiental (inclusive da supervisão do desmatamento), que demonstrou resistência para envolver de imediato a Votorantim Energia no imbróglio.

Para garantir o pagamento dos trabalhadores, Alpiniano, que atua ordinariamente na Procuradoria Regional do Trabalho da 18ª Região (PRT-18), já tinha entrado na quinta-feira (3) com uma ação civil pública (ACP) preventiva na Justiça. Ao tomar conhecimento da situação, a Votorantim se comprometeu no sábado (5) a quitar as verbas rescisórias que totalizaram R$ 420 mil e garantiu o retorno dos libertados para os locais de onde vieram. Em função da intervenção da empresa para sanar os problemas imediatos, a ACP foi retirada pelo representante do Ministério Público do Trabalho (MPT).

A fiscalização decidiu averiguar as condições de trabalho no conjunto de obras da construção da UHE Salto do Rio Verdinho após a morte acidental de um trabalhador que caiu de ponte e morreu afogado na obra da barragem, em julho. A partir deste registro, funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estiveram no local e descobriram o foco de trabalho análogo à escravidão fora do canteiro, justamente no serviço de desmatamento das áreas que ficarão debaixo d´água. A partir desta primeira checagem, o grupo móvel foi mobilizado para conferir a situação in loco.

Comunicado e entrevista
Acionada pela Repórter Brasil, a Votorantim Energia encaminhou inicialmente um comunicado em que declara que "interveio no processo, rescindindo o contrato com a respectiva empresa, por repúdio a esse tipo de prática". A empresa sustenta ainda que a construtora Lima & Cerávolo detém credenciamento junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para realizar "supressão vegetal". O serviço, segundo a Votorantim, foi contratado em março deste ano e a "mobilização do quadro" foi iniciada em julho, "com escopo de três meses de duração".

"É importante ressaltar que todos os trabalhadores estavam com carteira assinada, tinham equipamentos para prevenção de acidentes e os tributos trabalhistas relativos a este contrato haviam sido recolhidos até julho de 2009", emenda o comunicado da Votorantim. Diante dos diversos questionamentos dirigidos à empresa que ficaram sem resposta, a reportagem entrou novamente em contato com a assessoria de imprensa contratada pelo grupo para requisitar esclarecimentos adicionais.

Diante do pedido, o diretor da Votorantim Energia, Otávio Rezende, concedeu entrevista por telefone para tratar da questão. O executivo detalhou as relações mantidas pela Votorantim com a L&C e a Mais Verde. Assumiu ainda a ocorrência de equívocos no processo. "Falha houve. Isso não há dúvida".

Otávio lembrou que a empresa recebeu a concessão para construir a UHE Salto do Rio Verdinho em 2007. Na ocasião, a Mais Verde já tocava a gestão socioambiental da obra, com a tarefa primordial de assegurar a transição de Licença de Instalação (LI) para Licença de Operação (LO) e cumprir 25 condicionantes socioambientais. Para o desmatamento da área que será inundada com a barragem (o "lago" formado ocupará cerca de 4,7 mil hectares), a Lima & Cerávolo foi contratada por meio de carta-convite. Além de estar cadastrada pelo Ibama, a L&C, de acordo com o executivo, apresentou um histórico de quatro anos (que incluía serviços similares na região) e conseguiu mobilizar equipamentos e estrutura.

Os alojamentos - chamados de "sites" pelo executivo - eram "validados" de modo operacional direto pela Mais Verde e passavam por supervisão periódica "por amostragem" pela Votorantim Energia. Para Otávio, o monitoramento permanente das condições de trabalho das terceirizadas seria inviável do ponto de vista econômico e exigiria, no caso da obra no Sul de Goiás, a contratação de mais 100 funcionários. Apenas mo canteiro de obras da Usina Salto do Rio Verdinho, destacou, são cerca de 750 operários.

A L&C iniciou a execução do desmatamento em julho com cerca de 45 trabalhadores, nas contas do diretor da Votorantim Energia. A fiscalização relata que alguns empregados já estavam no local desde maio. Novas pessoas foram agregadas no decorrer do serviço e o conjunto de migrantes havia sido alojado em dois pontos conhecidos pela Mais Verde e sob ciência (pelo menos de acordo com a lógica da amostragem) da Votorantim.

Para acelerar o desflorestamento que estava com o cronograma atrasado, contudo, foram contratados mais 32 trabalhadores no dia 24 de agosto. Este último grupo foi instalado no galpão sem banheiro que não havia sido vistoriado pela Mais Verde. A Votorantim, conforme informou Otávio, não tinha sido nem avisada da existência deste "terceiro site".

Na entrevista, o executivo ressaltou que a "validação" do alojamentos não é obrigação legal da empresa contratante e que a Votorantim assumiu a responsabilidade do flagrante "como subsidiário" para "liquidar o problema". Ele afirmou não ter tomado conhecimento de reclamações sobre condições de trabalho relacionadas à obra como um todo.

Como os operadores de motosserra eram minoria, o salário mínimo pago à maioria dos carregadores de madeira, função de baixa qualificação, não lhe pareceu incomum. Somado a isso, a L&C fazia o recolhimento da folha relativo à Previdência Social para garantir os desembolsos da Usina Rio Verdinho S/A, como ressaltado no comunicado da Votorantim Energia.

Desconhecimento e quarterização
Mesmo sob alegação de que foram adotadas as técnicas de administração consagradas no gerenciamento de negócios, o executivo identifica erros. Por isso, os contratos com a L&C e a Mais Verde - que supervisionava outras 20 empresas e, para Otávio, cumpria bem as obrigações ambientais - foram rescindidos. Sobre o envolvimento da própria Votorantim ao contratar empresa de pequeno capital social e ao avalizar (ainda que por amostragem) os alojamentos, o diretor preferiu repetir que normalmente são convidadas empresas com experiência e capacidade operacional e que os principais problemas de alojamento foram encontrados no galpão que começou a ser utilizado dias antes da fiscalização, sem anuência da Votorantim.

Na entrevista à Repórter Brasil, o diretor da Votorantim Energia demonstrou desconhecimento dos meandros da escravidão contemporânea. Questionado sobre possíveis checagens para evitar o crime de aliciamento (previsto art. 207 do Código Penal e associado com frequência ao trabalho escravo), Otávio declarou ser impossível entrevistar minuciosamente cada um dos recrutados pelas terceirizadas. Bastava, porém, que a Votorantim exigisse as Certidões Declaratórias relativas aos trabalhadores contratados em outros Estados. O documento deve ser encaminhado às Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego (SRTEs) das jurisdições de origem dos trabalhadores pelos contratadores para que o transporte de trabalhadores possa ser realizado legalmente de um Estado para outro.

Otávio não justificou ainda porque apenas a Votorantim Celulose e Papel (VCP) é signatária do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Centenas de empresas já aderiram ao compromisso de cortar relações econômicas com pessoas físicas e jurídicas que exploraram mão-de-obra escrava.

O procurador do trabalho Alpiniano salienta que deve não só instaurar inquérito civil para apuração das responsabilidades, mas também protocolar nova ação civil pública (ACP) com pedido de indenizações por dano moral coletivo aos trabalhadores escravizados, pois a situação era "muito ruim". Ele realça ainda que outras 21 pessoas que vivem na região apareceram durante a operação para reivindicar os direitos de rescisão de contrato que não foram pagos pela Lima & Cerávolo em serviço anterios ao fiscalizado. No bojo das negociações, cerca de R$ 40 mil foram destinados a esse grupo.

À Repórter Brasil, a auditora Virna diz que não se deparou, durante a fiscalização, com nenhum funcionário da Rio Verdinho S/A (administrada pela Votorantim) que monitorava as contratadas. A fiscalização deve concluir o relatório sobre o flagrante nas obras da UHE Salto do Rio Verdinho que será encaminhado ao MTE, em Brasília (DF). A partir do documento, será aberto um processo administrativo, com a devida abertura para defesa dos envolvidos. Caso se conclua pela responsabilização, os infratores serão incluídos na "lista suja" do trabalho escravo. Paralelamente, pode ser instaurado processo criminal, em especial pelo Ministério Público Federal (MPF).

A L&C e a Mais Verde foram procuradas pela reportagem, mas nenhuma das duas se dispôs a apresentar suas posições perante o episódio de escravidão. "O desmate foi terceirizado para a L&C e depois foi quarterizado para os ´gatos´", define Alpiniano. "É preciso fazer respeitar o trabalhador. E isso não ocorria, não sei se por ignorância ou por má fé", conclui o procurador.

PEQUENOS AGRICULTORES TÉM AJUDA PARA RESTAURAR RESERVA LEGAL

Carlos Américo

Os pequenos agricultores ganharam instrumentos que vão facilitar e ajudá-los a fazer a restauração e a recuperação de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reserva Legal (RL). Isso é o que define uma das três Instruções Normativas do Ministério do Meio Ambiente, publicadas no Diário Oficial na quarta-feira (9/9).

Os atos fazem parte de um pacote de 22 medidas acertadas entre os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário e Representantes da Agricultura Familiar que começam a sair do papel. A Instrução Normativa nº 5 orienta os donos de propriedades em
preendimentos rurais sobre como fazer a restauração e a recuperação de APP e RL.

O pequeno produtor fica isento de apresentar o projeto técnico de recuperação da área. "O grande produtor tem recurso para pagar o estudo, que deve ser realizado por profissionais, já o pequeno agricultor acabava ficando impedindo de fazer o reflorestamento porque para eles custa caro", explicou o diretor do Departamento de Florestas, João de Deus Medeiros.

A outra instrução normativa estabelece os procedimentos técnicos para utilizar a vegetação da Reserva Legal, que poderá ser usada como alternativa para o pequeno agricultor. "A Reserva Legal não é intocável", ressaltou Medeiros. Para ter acesso aos recursos naturais da Reserva Legal é preciso fazer o manejo florestal sustentável da área.

"Essas instruções rompem um ciclo, dando oportunidades para quem quer fazer a coisa de maneira legal", analisou João de Deus Medeiros.
O pequeno agricultor poderá comprovar a origem de árvores plantadas. Agora é possível fazer o cadastro, junto ao órgão ambiental, de áreas plantadas com espécies nativas e exóticas. Com isso o agricultor familiar poderá mostrar a origem da madeira e fazer corte e exploração de espécies nativas comprovadamente plantadas. Plantios realizados anteriores à publicação da instrução também poderão ser cadastrados.
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terça-feira, 8 de setembro de 2009

ÁLCOOL DE MANDIOCA

*José Reynaldo Bastos da Silva

Produzir álcool de mandioca não é novidade no Brasil. Desde os primeiros tempos da implementação do Proálcool, o programa brasileiro criado no final de 1975, a mandioca era considerada uma alternativa viável para a produção de etanol. Naquela época, seis usinas foram instaladas no Brasil para a produção de álcool a partir da mandioca. Entre 1978 e 1983, a Petrobrás produziu o combustível em uma unidade do Maranhão, a única que conseguiu com certa rotina, por se tratar de região relativamente vocacionada. No entanto, de uma maneira geral, essas usinas foram construídas em regiões pouco tradicionais de produção e industrialização econômica da mandioca e acabaram inviáveis. E também porque àquela época inexistia uma tecnologia eficiente para o cultivo e industrialização da mandioca em grande escala.

Desde então, o cenário da mandioca sofreu modificações, com um considerável desenvolvimento tecnológico da cultura e de seus processos industriais, principalmente nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Aqui se formou um complexo industrial que produz e processa anualmente 6 milhões de toneladas de raízes de mandioca para farinhas, féculas e seus derivados. Criou-se também uma indústria de insumos especializados para o cultivo e industrialização da mandioca que faz da região uma referência mundial. Com essas novas tecnologias industriais, mais de 600 produtos podem ser obtidos da mandioca para utilização em vários setores, tais como as indústrias de alimentação humana, alimentação animal, mineração, farmacêutica, têxtil, papel, papelão, colas, etc.

A mandioca voltou a entrar na pauta de discussão para a produção de etanol desde que se intensificou a busca por combustíveis renováveis e não poluentes em substituição ao petróleo, hoje com seu preço na casa de 100 dólares o barril. Ela é também uma das matérias-primas mais cotadas para substituir os produtos de plástico fabricados com os derivados de petróleo, com a vantagem de propiciar a fabricação de um plástico biodegradável.

Com relação ao processamento, assim como todas as matérias-primas amiláceas (ex.: milho utilizado atualmente para a produção de etanol nos Estados Unidos), a mandioca deve ter o amido quebrado em moléculas menores para que possa ser transformada em álcool pelas leveduras. Nos anos 1970, esse processo era bastante restritivo. Porém atualmente as enzimas utilizadas no processo são eficientes.

Uma das grandes vantagens para exploração da mandioca como produtora de etanol é que não existe no mundo um país que disponha de tanta diversidade genética dessa planta como o Brasil, porque ela foi gerada e domesticada aqui. Enquanto 1 tonelada de cana produz 85 litros de álcool, 1 tonelada de mandioca com rendimento de 33% de amido e 2% de açúcares produz 211 litros de álcool combustível. Já existem variedades de mandioca com 36% de amido, o que proporciona 230 litros de álcool combustível por tonelada de mandioca.

No Estado de São Paulo, a produtividade média da mandioca está em torno de 26 toneladas por hectare/ano ou 62,92 toneladas por alqueire paulista/ano, o que proporciona 5.486 litros de álcool por hectare/ano ou 13.276 litros de álcool por alqueire/ano na produtividade de álcool mais modesta (211 litros de álcool combustível por tonelada de mandioca).

Recentemente foi descoberta pela Embrapa/Recursos Genéticos e Biotecnologia (de Brasília), na Amazônia brasileira (o “berço” da mandioca), uma variedade de mandioca com grande quantidade de açúcares na raiz. Esses açúcares são predominantemente glicoses, que é o substrato utilizado no processo de fermentação/destilação para a produção do etanol. Essa variedade é uma mutação genética, guardada e usada pelos índios brasileiros para obtenção de cachaça, chamada por eles de “tiquira” ou “caxirim”. A domesticação dessa variedade e seu cruzamento com plantas adaptadas a outras regiões do Brasil, resultou em uma nova variedade que dispensa o processo de hidrólise do amido da mandioca para transformação em açúcar e conversão em álcoois, inclusive o carburante para o combustível. A eliminação da hidrólise do amido reduz em torno de 30% o consumo de energia no processo de produção de etanol de mandioca.

Enquanto a cana se desenvolveu como um sistema de produção de grande escala centralizada e concentradora de renda, a mandioca para a produção de etanol pode basear-se em um modelo totalmente diferente, de grande escala descentralizada e distribuidora de renda. Esse modelo estaria fundamentado em milhões de pequenas propriedades agrícolas extremamente eficientes e distribuidoras de renda e novas oportunidades de trabalho pelas regiões interioranas de municípios de pequenas cidades do Brasil. Particularmente no Estado de São Paulo e na Região do Vale do Paranapanema, naturalmente vocacionados e tradicionais produtores de mandioca; aqui, em municípios como Cândido Mota e Palmital, a mandioca atinge a produtividade média de 33 toneladas por hectare/ano, o recorde mundial. Isso totaliza quase 80 toneladas por alqueire paulista/ano, ou seja, aproximadamente 16.880 litros de álcool por alqueire paulista/ano, considerando a produtividade média de 211 litros de etanol por tonelada de mandioca/ano. Considerando a produtividade máxima de 230 litros de etanol por tonelada de mandioca/ano seriam 18.400 litros de álcool por alqueire paulista/ano.

É claro que não se pensa em fazer a mandioca desbancar a cana, mas simplesmente em recolocá-la também no foco de análise econômica alternativa para produtores de pequeno porte. Ou até mesmo como uma opção complementar à ociosidade industrial das usinas de cana durante a longa entressafra da cana (até 6 meses). Além do que, o álcool da mandioca é de superior qualidade ao da cana, por ser totalmente puro, o que o indica com vantagem para a destilação de álcoois finos para perfumaria e bebidas etílicas.

Vale a pena repensar, nos tempos atuais, o álcool de mandioca!

*José Reynaldo Bastos da Silva, é presidente da Câmara Setorial da Mandioca do Estado de São Paulo, contato: apmesp@cmotanet.com.br Avenida Gilfredo Boretti, 60 – Trevo João Doná, Cândido Mota-SP, telefone (0xx18) 3341 6288.

O AMIDO / FÉCULA DE MANDIOCA

Também conhecido como fécula ou polvilho doce, o amido de mandioca, é um pó fino, branco, sem cheiro e sem sabor, que produz ligeira crepitação quando comprimido entre os dedos. É um carboidrato obtido da raiz da mandioca devidamente limpas, descascadas, trituradas, desintegradas, purificadas, peneiradas, centrifugadas, concentradas, desidratadas e secadas. É extremamente versátil, e alcança eficiência incomparável em todas as suas aplicações, sendo, habitualmente, utilizado como componente nos mais variados segmentos domésticos e industriais...

Amido de mandioca - fécula in-natura

É o amido - fécula de mandioca natural, resultante do processamento industrial da raiz. É usado em pão de queijo; sagu; tapioca; biscoitos; bolos; tortas; sobremesas; pudins; sequilhos; melhoradores panificáveis;pães (francês, cachorro-quente, linha sanduíche); panetones; pizzas; massas / macarrões; macarrões instantâneos; cremes; confeitos; achocolatados; chocolates; bombons; balas; doces e caramelos, sorvetes; casquinhas de sorvete; sopas; molhos como mostarda, catchup e massa de tomate; requeijão; iogurte; embutidos (salsicha, salsichão, apresuntado); espessantes para alimentos cozidos; snacks, entre outros itens.

Amidos modificados de mandioca

São resultantes de modificações químicas nos grânulos de amido de mandioca com objetivo de moldá-los para determinadas finalidades. São utilizados nas indústrias de segmentos: químico; têxtil; farmacêutico; madeireiro, papeleiro e metalurgia / fundição.

Entre seus usos destacam-se a fabricação de medicamentos; pasta dentifrícia; sabões e detergentes; colas e gomas; tintas e vernizes; papéis - na produção e no tratamento de superfícies de papel sulfite; em papéis para parede; em etiquetas; fitas adesivas; papéis gomados; envelopes com fechos adesivos, caixas de papel; papelão ondulado; resinas e plásticos (embalagens biodegradáveis e / ou compostáveis); tecidos (conferem resistência, fixam cores e dão brilho e acabamento aos tecidos); engomagem de roupas; explosivos; moldes para fundição; perfurações de poços de petróleos; mineração; adubos e fertilizantes; secagem de concreto e tijolos; agente ligante em placas de gesso e em pisos isolantes de som; amaciante de couro em curtumes; aplicação na química fina para obtenção de sorbitol; manitol; dextroses; fraldas absorventes; xampu; talcos anti-sépticos para pés; antibióticos (penicilina, etc); vitaminas (A, B, C); hormônios (insulina, etc), vacinas, compostos anticancerígenos; soluções para diálise; próteses biocompatíveis; confecção de drágeas e comprimidos; gel para uso em eletrodos, entre diversas outras aplicações industriais.


Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca

BABAÇU É PRIORIDADE EM REUNIÃO SOBRE A SOCIOBIODIVERSIDADE NO MA

Fonte: O Estado de S. Paulo


Os produtos da sociobiodiversidade têm sido tema de muitas discussões. Para tratar o assunto no Maranhão, foi realizada, terça-feira (1º), no Palácio Henrique de La Rocque, uma reunião sobre a implementação do Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade e do Plano de Ação para as Cadeias do Babaçu. O objetivo do encontro foi apresentar e priorizar a cadeia produtiva do babaçu, que tem inúmeras potencialidades, da geração de energia ao artesanato. Diversas atividades econômicas podem ser desenvolvidas a partir da planta, proporcionando emprego e renda, estabilidade social e compromisso com o meio ambiente.

Além de ter sido apresentado o plano nacional e seus objetivos, o foco principal foi especificar as potencialidades do plano para o babaçu, os entraves e as metas para o Maranhão.

Prioridades - Segundo o diretor de Direção de Renda do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em âmbito nacional e coordenador do Plano dos Produtos da Biodiversidade, Arnoldo de Campos, foram priorizados nove estados na primeira fase do plano, sendo três da região Nordeste (Piauí, Ceará e Maranhão).

"Após essa apresentação, feita para o Governo do Maranhão e parceiros, teremos um segundo momento no qual será constituída uma comissão estadual e, logo depois, será criada uma Câmara Setorial do Babaçu", informou o coordenador.

Na segunda quinzena de outubro, acontecerá um seminário nacional, no Maranhão, sobre o fruto com os quatro principais estados produtores (Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins). "Ainda vão ser priorizados aproximadamente 60 municípios", acrescentou Arnoldo de Campos.

Para a secretária de Estado do Desenvolvimento Agrário (Sedagro), Conceição Andrade, o momento foi muito importante. "Eu achei oportuno e necessário para o desenvolvimento do nosso estado, pois temos uma quantidade significativa de mulheres quebradeiras de coco na região", declarou.

A secretária destacou que a execução do plano só será possível com a participação das quebradeiras e que o Governo do Estado está trabalhando para ajudar no desenvolvimento da agricultura familiar no Maranhão.

O Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade está sob a coordenação dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA), Meio Ambiente (MMA) e Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

O plano é fruto de esforço coletivo envolvendo também outros ministérios e setores no processo, como os governos estaduais, COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), Agência Nacional de Vigilância e Inspeção Sanitária (Anvisa), Serviço Florestal Brasileiro (SBF), Instituto Nacional de Regularização e Reforma Agrária (Incra), Agência de Cooperação Técnica, setor empresarial, agências de fomento e sociedade civil organizada.

Quebradeira de coco na discussão

Babaçu - O Maranhão é o maior produtor de babaçu, representando 94,7% da produção nacional e envolvendo 149 municípios, seguido do estado do Piauí, com 66 municípios e representando 4,4% da produção nacional.

Para a coordenadora-geral do Movimento das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Maria de Jesus Bringelo, é preciso discutir a questão da terra e sua preservação para a conquista do acesso livre das trabalhadoras rurais às palmeiras.

"Na cadeia produtiva do babaçu existe um número significativo de quebradeiras de coco que precisam andar quilômetros por dia para se sustentar. São inúmeros os entraves que enfrentamos para quebrar o coco. Trabalhamos muito e o nosso ganho é pouco e, diante de um quadro de sofrimento de cerca de 300 mil quebradeiras de coco só aqui no Maranhão, é bom saber que o Estado está disposto a participar ao nosso lado", afirmou a líder.