quinta-feira, 12 de março de 2009

MULHERES CAMPESINAS CONTRA DESERTOS VERDES E AGRONEGÓCIO

Ações protagonizadas pelas mulheres da Via Campesina fazem parte da Jornada Nacional de Luta do movimento e pretendem denunciar as conseqüências da monocultura do eucalipto em diversas regiões do Brasil, onde, em muitas áreas, dizem, já falta água para o consumo humano e criação de animais. A preocupação se estende a operações de especulação financeira realizadas por empresas de celulose. Jornada também protesta contra consequências negativas do agronegócio no país.

Clarissa Pont
As mulheres da Via Campesina realizaram protestos em cinco estados nesta segunda-feira (9). No Rio Grande do Sul, elas ocuparam área de uma papeleira e destruíram mudas de eucalipto. Em São Paulo, foi ocupada uma área em Barra Bonita, que pertence a uma usina. No Paraná, as trabalhadoras rurais marcharam em Porecatu até a praça da cidade, onde "partilharam alimentos da reforma agrária".

Em Brasília, cerca de 600 mulheres ocuparam o andar térreo do Ministério da Agricultura. Segundo a porta-voz do movimento Itelvina Masioli, o grupo não pretende se encontrar com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. "Viemos apenas denunciar o modelo de sustentação do agronegócio, que tem como base as empresas multinacionais", afirmou. Mas a principal reivindicação em Brasília foi contra a determinação do Ministério Público do Rio Grande do Sul em fechar as escolas itinerantes em acampamentos mantidos pelo MST o que é, na avaliação do movimento, apenas a ponta de um iceberg que acumula uma rede de ações criminalizantes que tentam “dissolver” o Movimento no estado. As camponesas, então, ocuparam a Fazenda Aroeira (antiga Fazenda Ana Paula), do Grupo Votorantim. Deixaram o local em uma marcha que reuniu cerca de 700 mulheres. Líderes sindicais, representantes da Via Campesina, do MST e políticos estavam reunidos com a Brigada Militar ao meio-dia para decidir os rumos da manifestação. Segundo presentes, havia um clima de tensão no local. Na Fazenda Aroeira, as manifestantes derrubaram mudas de eucaliptos em uma área de aproximadamente dois hectares, usando foices e facões. A fazenda tem uma área total de 14,5 mil hectares, com 7,5 mil hectares plantados, somente com eucaliptos e é historicamente reivindicada para reforma agrária.

No Espírito Santo o alvo foi um porto de exportações em Aracruz. Segundo a nota, as mulheres entraram no porto, fizeram um ato com a destruição da produção de eucalipto e saíram da área. Ato teria contado com 1,3 mil pessoas no protesto no Portocel. "O objetivo da ação é denunciar a concentração de terras da empresa, que são usadas para plantio de eucalipto para exportação, prejudicando a soberania alimentar; e o repasse de recursos públicos do Estado para essa multinacional, o que tem aumentado ainda mais com a crise mundial".

As manifestações pelo Dia Internacional da Mulher aconteceram também em Recife, num protesto que terminou em confronto com policiais militares de Pernambuco e um sem-terra preso na manhã desta segunda. A ação da Via aconteceu em frente à Usina Cruangi onde no início do ano o Ministério do Trabalho retirou dos engenhos 252 trabalhadores, entre eles 27 menores que estavam em situação degradante. As camponesas pretendiam ocupar o pátio da usina, mas foram impedidas por soldados da PM que fizeram um cordão para evitar a passagem. Um militante do MST foi levado para a delegacia do município de Aliança, a 85 quilômetros de Recife, por pichar um dos muros da usina. Homens e mulheres do MST não aceitaram a prisão do integrante do movimento e entraram em choque com a polícia. Todas as ações protagonizadas pelas mulheres da Via Campesina fazem parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres da Via Campesina e pretendem denunciar as conseqüências da monocultura do eucalipto em diversas regiões do Brasil, onde, em muitas áreas, dizem, já falta água para o consumo humano e para a criação de animais.

A preocupação se estende a operações de especulação financeira ministradas por empresas de celulose. Em nota, as mulheres explicaram as ações:“Depois de especular contra a moeda brasileira e ter prejuízos com a crise financeira, a Votorantim Celulose e Papel recebeu R$ 6,6 bilhões do governo brasileiro para adquirir a Aracruz Celulose, através da compra de metade da carteira do Banco Votorantim e de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo da compra foi de R$ 5,6 bilhões. A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado e mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas, e a VCP outros 2 mil trabalhadores na metade sul. O agronegócio foi o segundo setor que mais demitiu com a crise financeira. Apenas em dezembro, o agronegócio demitiu 134 mil pessoas em todo país”.

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