segunda-feira, 11 de maio de 2009

AS ENCHENTES E OS ATINGIDOS PELO “DESENVOLVIMENTO”: UM GRITO DE SOLIDARIEDADE.

O modelo de desenvolvimento em curso no Brasil e no Maranhão tem sacrificado profundamente a sócio-biodiversidade. O destino de grandes glebas de terras e o uso abusivo dos recursos naturais vem sendo a base de fortalecimento para esse modelo, e com isso desencadeando um processo recorrente de destruição tanto no espaço urbano como no rural.

Todos/as têm pago um preço muito alto ante o avanço irrefreável, por exemplo, do agronegócio, especialmente no Maranhão. E a investida do capital é cada vez maior no sentido de ampliar suas áreas de atuação. Os impactos por conta disso já são violentamente sentidos.

Se já não bastasse a expulsão dos trabalhadores e trabalhadoras de suas terras para dar lugar às monoculturas de soja, eucalipto, cana de açúcar, dentre outras culturas-“moda”, no bojo da discussão dos agrocombustíveis; se não bastasse o Maranhão ser o maior fornecedor de mão de obra escrava do país; de ostentar graves indicadores de violência doméstica, de exploração sexual infanto-juvenil, da vulnerabilidade de grande parte de sua população, como consequência do atual modelo (de desenvolvimento) econômico, agora outra face dos impactos ambientais se aprofunda a cada ano – com grandes variações pluviométricas provocando as enchentes, aumento na temperatura ambiental, períodos prolongados de estiagem na Amazônia etc.

São as enchentes que atingem violentamente milhares de maranhenses. Já são mais de 130 mil atingidos pelas fortes chuvas.(são mais de 25 mil desalojados e mais de 22 mil desabrigados, mais de 1500 km de estradas atingidos e seis óbitos em todo o estado). Existe ainda a ameaça de rompimento da Barragem do Flores que aprofundaria mais ainda o quadro, caso suas comportas não suportem a força das águas. E aí o tamanho da tragédia seria imprevisível.

A cada ano o quadro se agrava. Isso nos mostra que o nível dos impactos são crescentes e acumulativos. Isso nos revela também que medidas paliativas, imediatistas, assistenciais e emergenciais embora importantes, necessárias e urgentes, não são suficientes para resolver os problemas causados anualmente pelas cheias dos principais rios que cortam o Maranhão.

O nosso esforço tem que ser também na perspectiva dos Direitos Humanos. E nesse sentido a busca de diálogo extrapola as ações de socorro imediato. O poder público precisa responder com ações concretas de efetivação do direito à moradia digna, de ações preventivas e estruturantes. E para isso necessita ser provocado, demandado. A mobilização social para o controle e incidência política deve ser, também, nossa estratégia.

Nesse sentido, precisamos envolver, inclusive, o Ministério Público, os órgãos de controle ambiental, o poder executivo nas três esferas, e a sociedade civil para uma grande mobilização e reflexão, visto que, se o curso dos grandes projetos continuarem na mesma velocidade, as tragédias serão cada vez maiores, previsíveis anunciadas anualmente. E quem mais sofre com elas são as populações mais empobrecidas, que são mais vulneráveis. E há até quem possa ganhar com isso.

No entanto, o quadro atual é muito grave e urgente. As necessidades dos nossos irmãos e irmãs atingidos pelas cheias no Maranhão são muitas. Precisamos, como Igreja de Deus, nos mobilizar para junto construirmos saídas de superação do atual quadro. A situação dos abrigos abarrotados de homens, mulheres, jovens, crianças e idosos em condições precárias de higiene, é ambiente propício para a proliferação de doenças respiratórias, de pele, e até de epidemias. Já são comuns ataques de animais peçonhentos dentro das casas, enfim, são graves e variados os problemas enfrentados pelos desabrigados/as.

Além do socorro imediato, pois na emergência não se pode esperar, é preciso também lutar por políticas públicas efetivas para as populações atingidas. Cobrar das autoridades a aplicação correta dos donativos e recursos públicos destinados aos atendimentos.

Além dos centros urbanos a destruição acontece também nas comunidades rurais deixando as famílias completamente desabastecidas de alimentos e sem perspectivas de produção, comprometendo a segurança alimentar. É necessário desenvolver projetos produtivos para os/as agricultores/as que tiveram sua produção perdida com as cheias, dentre outras ações de apoio e amparo imediato. Ações de organização dos atingidos, inclusive para controle social dos recursos públicos (que podem ser manipulados e desviados por maus gestores públicos), gerando assim protagonismo, autonomia, conquista e efetivação dos Direitos.



Cáritas Brasileira Regional Maranhão

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