quarta-feira, 13 de maio de 2009

CAATINGA: O PARAÍSO DE EUCLIDES DA CUNHA - O DESENVOLVIMENTO COMO AMEAÇA.

Antonio Gomes Barbosa*
Rakuel Samara Silva Costa**

A caatinga é, dentre os biomas brasileiros, o menos conhecido cientificamente, prova disso é a divergência de dados em relação à sua extensão, composição, população e abrangência, sendo, junto com a mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados. Do tupi, mata branca, em referência a característica de sua vegetação caducifólia, que perde suas folhas no início da estação seca, a caatinga ocupa a maior parte do território da região Nordeste brasileiro, cerca de 70%, e o norte do de Minas Gerais, com uma extensão de mais de 800 mil km², ocupando 11% do Território Nacional[1].

Único bioma exclusivamente brasileiro, apresenta enorme variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. Na sua diversidade pode se falar em pelo menos 12 tipos diferentes de Caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos fascinantes de adaptações ao habitat Semi-Árido. Sua vegetação é constituída, principalmente, de espécies lenhosas, cactáceas, bromeliáceas e pequenas herbáceas, geralmente com espinhos e caducifólias. Inclui pelo menos uma centena de diferentes tipos de paisagens únicas, sendo rico em espécies: até o momento foram registradas 932 espécies de plantas vasculares, sendo 380 endêmicas, e 20 gêneros, pertencentes a 42 famílias; além disso, registra-se a existência de 185 espécies de peixes (57% de endemismo), 154 de répteis e anfíbios, 348 de aves (4,3% de endemismo), e 148 espécies de mamíferos[2].

Não obstante à sua riqueza, sendo reconhecido como uma das 37 grandes regiões naturais do planeta, pelo estudo coordenado pela Conservation International, a caatinga tem sofrido enormemente os efeitos do atual modelo de desenvolvimento. Iniciando-se com pecuária extensiva, a estratégia de dominação da caatinga avançou pelos plantios em grande escala de monoculturas, além dos mais recentes perímetros irrigados, a exemplo da região de Petrolina, que desconsideram as características da região e substituem de forma drástica a flora, a fauna e as formas de plantar e criar, construídas através da observação e dos conhecimentos repassados de geração para geração.

Fruto principalmente da disseminação desse modelo agrícola químico-mecanizado e de práticas inapropriadas para obtenção de produtos agrícolas, madeireiros e pastoril, atualmente mais de 80% da vegetação da caatinga são sucessionais, aproximadamente 40% mantidos em estágio pioneiro de sucessão secundária, e cerca de15% da caatinga encontra-se em processo de desertificação[3].

Ameaças atuais como o avanço das monoculturas, como a cana de açúcar para a produção de biocombustíveis, da pecuária extensiva, da mineração, da extração madeireira e das queimadas, representam situações reais de uma problemática que tende a se perpetuar, extinguindo, de vez a caatinga do planeta.

Essa ameaça afeta diretamente a população que vive na área do bioma, mais de 20 milhões, ao destruir as fontes de sua sobrevivência, fazendo sucumbir um conjunto de saberes, conhecimentos e práticas de convivência com o Semi-Árido construídos e acumulados historicamente pelas famílias da região. Ações imediatas e efetivas são, pois, extremamente necessárias, para que o famoso paraíso retratado por Euclides da Cunha não se torne apenas um romance da história, mas retrato de uma imagem real, viva e presente, testemunhada e partilhada por todas e todos.

A caatinga corre perigo.

*Antonio Gomes Barbosa – Sociólogo, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas da Articulação no Semi-Árido Brasileiro - ASA

**Rakuel Samara Silva Costa – Assistente Social, mestra em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pernambuco – UFPE

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